Rio Grande do Sul

TEMPO SEVERO

Tempestades na Capital e no interior voltam a causar alagamentos e deixam desabrigados  

Porto Alegre revive drama mas prefeitura diz que casas de bombas estão funcionando; pelo menos 57 cidades relatam danos

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Prefeitura efetua limpeza de boeiro em área nobre da cidade - Foto: Eugênio Bortolon

O pavor voltou a deixar em estado de apreensão várias áreas de Porto Alegre. As chuvas torrenciais, com trovões e raios assustadores, voltaram a alagar hoje (26) bairros da Zona Norte e da Zona Sul. Ruas ficaram intransitáveis. Bueiros entupidos e casas de drenagem de água foram cenas predominantes até às 12h. No interior, 48 cidades relatam danos.

Pouca coisa das promessas para sanar os problemas causados pela enchente de maio na Capital foram cumpridas. A proteção dos moradores das zonas fragilizadas da cidade é precária. A falta de luz virou um tormento. Tanto em Porto Alegre quanto no interior do estado.

A Defesa Civil voltou a alertar para tempo severo nas próximas horas. Desde terça-feira (24), as advertências se repetem. Várias regiões do estado estão também sofrendo com chuvas, casas alagadas e rodovias intransitáveis, como a BR 116 em Camaquã.

Maquiagem

A prefeitura mandou várias equipes do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) e do Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE) para varrer diversas ruas e evitar entupimento de bueiros. Isso foi constatado pela redação na avenida Independência e na rua Mostardeiro, locais que não sofrem problemas de alagamento, mas têm visibilidade política. 

De acordo com a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), às 11h havia 38 ocorrências abertas em razão do mau tempo. São dois bloqueios totais de via por acúmulo de água, um bloqueio por queda de árvore e 11 semáforos fora de operação.

Conforme informações do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o acumulado de chuva na Capital já passa de 42 mm nas últimas 12 horas, mas têm ainda água para cair e chegar e aos 90 mm ao longo do dia. A média histórica do mês de setembro é de 147 milímetros.

RS em alerta vermelho

Com as chuvas, conforme a Defesa Civil, 57 municípios já relataram danos ate a tarde desta quinta. Além disso, até o momento foram contabilizadas 305 pessoas desabrigadas e 560 desalojadas, com um total de 29.452 afetados.

O Inmet emitiu alerta vermelho de grande perigo para chuvas no centro-sul do estado. A previsão é de chuva superior a 60 mm/h ou acima de 100 mm/dia. Há risco de grandes alagamentos e transbordamentos de rios e grandes deslizamentos de encostas em cidades com tais áreas de risco. Dentre os municípios incluídos na região de grande perigo estão Santa Cruz do Sul, Santa Maria, Pelotas e Bagé.

Segundo a Defesa Civil estadual, na cidade de Camaquã os volumes de chuva já ultrapassaram os 207 milímetros acumulados em 72 horas. Casas foram destelhadas e pessoas estão desabrigadas.


Em Camaquã, houve rompimento de partre da BR-116, no km 407 / Foto: Divulgação/Ecosul

A Defesa Civil também orienta a população a buscar abrigo caso seja surpreendida pelo temporal severo. “Se estiver em casa, feche bem portas e janelas. Durante os temporais, retire da tomada os eletroeletrônicos. Abrigue animais e mantenha-os em segurança. Não atravesse áreas inundadas ou alagadas a pé ou de carro. A água pode esconder riscos como buracos, bueiros abertos e correnteza”.

A Metsul Metereologia também continua fazendo frequentes alertas sobre a instabilidade do tempo no RS. E informa que um vendaval causou estragos nas últimas horas no Noroeste do Rio Grande do Sul. Dados de estações meteorológicas mostraram rajadas de vento acima de 100 km/h. Intensas áreas de tempo severo atuaram na região entre o final da quarta-feira e o começo desta quinta com o avanço de uma frente fria e a atuação de uma área de baixa pressão.

A cidade de Palmeira das Missões foi a mais castigada pelo vendaval no Noroeste com vários estragos. O vendaval se abateu sobre o município entre 21h e 22h da quarta-feira e veio acompanhado de chuva.

De acordo com dados da estação meteorológica automática do Inmet na localidade, o vento atingiu 102 km/h em Palmeira das Missões. Em Santa Rosa, também no Noroeste, o vento atingiu 75 km/h. O vendaval em Palmeira das Missões causou estragos por toda a área urbana da cidade, conforme informações da Defesa Civil do município. Houve destelhamentos de casas e prédios, quedas de árvores e desabamentos de muros.

Falta de manutenção das canalizações

“Os alagamentos ocorrem por falta de manutenção das canalizações em Porto Alegre. A água sequer consegue chegar às casas de bombas”, disse hoje o especialista em meio ambiente e ex-diretor do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP), Vicente Rauber. Para ele, Porto Alegre precisa urgentemente de um gestor eficiente, “não dá para proibir a palavra manutenção. Parece que esta palavra não existe no dicionário da prefeitura.”

À GZH, o diretor-adjunto do Dmae, Darcy Nunes descartou uma enchente como a de maio, mas admitiu que "o sistema de drenagem da cidade é insuficiente para chuvas maiores como essa de ontem (quarta-feira) para hoje (quinta)". Segundo ele, mesmo com as casas de bombas funcionando, elas não conseguem ter capacidade suficiente para tirar a água da cidade e jogar no Guaíba ou no Rio Gravataí.

Nota da prefeitura

A assessoria de comunicação da prefeitura divulgou nota sobre os incidentes meteorológicos dos últimos dias. Confira:

“O prefeito coordenou reunião na manhã desta quinta-feira no Centro Integrado de Coordenação de Serviços de Porto Alegre (CEIC), com as equipes que seguem mobilizadas para atender às ocorrências devido à forte chuva que atingiu a Capital desde a madrugada. A precipitação acumulada chegou a 42,2 mm, das 0h às 11h desta quinta-feira, conforme dados da Estação Belém Novo do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). A previsão indica que deve chover mais nas próximas horas.

As 23 casas de bombas do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) estão operando. Pela manhã, Porto Alegre registrou pontos de alagamentos em regiões atingidas pela enchente de maio e que estão com as redes de drenagem em recuperação, como o 4º Distrito, área central e o bairro Sarandi. As equipes do Dmae já limparam 270km dos 500km de redes afetados pela inundação.

Há registro de alagamento na avenida Voluntários da Pátria, sob a ponte do Guaíba. Esta região sofre influência da casa de bombas da Trensurb, localizada na área interna da empresa de trens.”


Edição: Marcelo Ferreira