Após um período eleitoral bastante turbulento, a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) encerrou seu processo de consulta informal para a reitoria. Úrsula Silva e Eraldo Pinheiro foram eleitos, numericamente, reitora e vice-reitor, respectivamente. O processo teve fim após o segundo turno de votação, que deu à chapa de continuidade UFPel Multi a maioria de 50,0026% dos votos somados entre estudantes, docentes e técnicos administrativos. No entanto, a chapa de oposição, Frente Ampla, responsável por 49,9974% dos votos, alegou "empate técnico", o que, no entanto, é um desfecho impossível em qualquer tipo de eleição.
A apuração dos votos online dos estudantes foi finalizada ainda na quarta-feira (18), e logo em seguida foram apurados os votos dos docentes e dos técnicos administrativos, que votaram apenas de forma impressa. O total de votos computados, de acordo com o veículo Espeto Corrido, foi de 9.909, sendo 9.707 válidos.
De acordo com o portal de Coordenação e Comunicação Social da UFPel, a chapa 20, UFPel Multi, obteve 5.491 votos, dos quais 521 foram de docentes, 413 de técnicos administrativos e 4.557 de estudantes. Já a chapa 10, Frente Ampla, recebeu 4.216 votos, sendo 547 de docentes, 579 de técnicos administrativos e 3.090 de estudantes. “Adotando o sistema de paridade do processo, em que cada categoria de eleitores possui peso igual (33,33%), foi aplicado um fator de correção para os votos: cada voto de professor(a) teve peso 7,1601, cada voto de Técnico(a)-Administrativo(a) peso 7,7087, e cada voto de estudante peso 1”, explica nota publicada pela instituição sobre o peso de cada voto.
Após a aplicação do cálculo de ponderação, a chapa 10 recebeu 11.469,90 votos (49,9974%), enquanto a chapa 20 obteve 11.471,10 votos (50,0026%). A diferença final foi de 1,20 votos paritários, que correspondem a 1.274 dos votos totais a favor da chapa UFPel Multi. No entanto, apesar da pequena diferença de 0,0052%, a chapa de oposição alegou que o processo “ainda não acabou” e que, na verdade, houve um “empate técnico”. A alegação da chapa é interpretada como uma tentativa de golpe, visto que não há empate técnico em segundo turno no regimento de normas para a consulta.
“O processo que está sendo concluído é de uma eleição, não havendo nenhuma previsão de 'empate técnico'”, diz nota à imprensa divulgada pela universidade. Ela prossegue explicando que “empate técnico é um termo utilizado em pesquisas eleitorais, quando a diferença entre chapas é menor que a margem de erro contida no intervalo de confiança de uma amostra. Em eleições, vence quem tem mais votos, somente podendo existir empate em caso de igualdade numérica, o que não ocorreu na consulta à reitoria da UFPel”.
Nas redes sociais da chapa de continuidade, Úrsula Silva, reitora eleita, celebrou a vitória e agradeceu à comunidade acadêmica. A chapa também foi declarada eleita pelos canais de comunicação oficiais da universidade. Em vídeo, a atual reitora Isabela Fernandes Andrade reconhece e parabeniza Úrsula. “Eu gostaria de [...] parabenizar a professora Úrsula, reitora eleita da nossa universidade. A partir de agora somos uma só voz: reitora eleita, reitora nomeada”.
Por outro lado, o perfil da chapa Frente Ampla fez diversas alegações, acusando a chapa oposta de “tentativa de golpe” por não esperar a auditoria dos votos online, que após resultado divulgado na segunda-feira (23) confirmou a segurança dos votos. “As auditorias realizadas confirmam a segurança do sistema utilizado e a inviolabilidade dos dados. Tanto no primeiro quanto no segundo turno da consulta informal, a votação transcorreu de maneira tranquila, sem intercorrências”, atesta o documento redigido pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) que mantém resultado favorável para a chapa UFPel Multi.
Após as acusações relacionadas à contestação do resultado por parte da Frente Ampla, Úrsula rebateu: “eles fizeram um pleito vergonhosamente tendencioso e vão tentar mudar dados pedindo auditoria, mas já foram feitas duas auditorias na votação online”, alega a reitora eleita.
Também nas redes sociais, o professor do curso de Odontologia e professor da disciplina de bioestatística avançada do Programa de Pós-Graduação em Odontologia, Marcos Britto Correia, explica sobre a diferença percentual dos votos: “contando essas casas decimais vai dar 1,2 voto. 1,2 voto é mais do que 1 voto, ou seja, se estabeleceu o resultado de 50% mais um”.
Ata
Na manhã da quinta-feira (19), a junta eleitoral redigiu uma ata na qual é alegado o empate e desconsidera a vantagem tanto percentual quanto quantitativa da chapa 20. Além disso, a ata afirma não haver previsão sobre o que fazer em caso de empate, o que expõe um enorme despreparo na organização do processo eleitoral.
Outro grande problema apontado é a alegação de que o documento foi assinado pelo Diretório Central dos Estudantes da UFPel (DCE - UFPel), responsável pela representação estudantil. No entanto, atualmente, tal diretório não existe na universidade, visto que a última eleição ocorreu em 2022 e, desde então, não houve um novo processo de escolha.
Atrito
O processo de escolha foi marcado por diversas turbulências ao longo de seu andamento, incluindo uma tentativa de realização durante o período de greve. Além disso, o processo de consulta passou por adiamentos, inúmeras dúvidas e uma forte polarização entre as candidaturas, recriando um cenário muito semelhante ao das eleições presidenciais de 2022.
O período de campanha também foi negativamente marcado por acusações de racismo contra Eraldo Pinheiro, candidato eleito da chapa UFPel Multi. Em um print de uma conversa no WhatsApp, uma apoiadora da chapa Frente Ampla, Ceres Jeanine Fripp, chamou o professor de "capitão do mato". A ofensa veio a público no dia 02 de setembro. No print, Julieta envia uma foto em que Pinheiro aparece, e, em resposta, Jeanine escreve: "capitão do mato apavorado!!"
Em comentário nas redes sociais, a acusada justificou a agressão, alegando que teria usado "uma expressão desrespeitosa a um candidato que sempre me pareceu agressivo e violento na campanha". Ela encerra o texto pedindo desculpas por utilizar uma expressão "que julgam racista", mas sem direcionar suas desculpas diretamente à vítima.
Decisão final
Após o encerramento do processo de consulta informal feito à comunidade universitária, o Conselho Universitário deve formalizar uma lista tríplice com os nomes mais votados para a reitoria. Essa lista é encaminhada ao Ministério da Educação (MEC), que a repassa ao Presidente da República para a escolha final. A tradição é que o Presidente nomeie o candidato mais votado, respeitando a decisão da comunidade acadêmica, como aconteceu recentemente na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em Porto Alegre.
Edição: Vivian Virissimo