Rio Grande do Sul

ELEIÇÕES 2024

Clima amistoso e desfalques marcaram novo debate com os candidatos à prefeitura de Porto Alegre

Com críticas às privatizações e à atual gestão da cidade, evento promovido pelo Simpa ocorreu na noite de terça (17)

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Clima amistoso, desfalques e críticas às privatizações marcaram debate com os candidatos à prefeitura de Porto Alegre promovido pelo Simpa - Daniel Barros

Novo debate entre candidatos à prefeitura de Porto Alegre (RS), realizado pelo Sindicato dos Municipários (Simpa), nesta terça-feira (17), foi marcado por clima amistoso e desfalques: apenas quatro dos oito candidatos convidados compareceram. Cesar Pontes (PCO), Fabiana Sanguiné (PSTU), Luciano do MLB (UP) e Maria do Rosário (PT) participaram do encontro que teve como tema central os desafios enfrentados pelos servidores municipais e o futuro dos serviços públicos na capital. Carlos Alan (PRTB), Felipe Camozzato (Novo), Juliana Brizola (PDT) e Sebastião Melo (MDB) declinaram do evento.

Com metade dos candidatos, o embate foi amistoso e seguiu mais dinâmico e sem ataques, com direito a brincadeiras entre os participantes, risadas e salva de palmas no final. Os quatro postulantes, apesar das diferenças programáticas, criticaram a atual gestão da prefeitura, as privatizações e o desmantelamento do serviço público. Defenderam o direito à moradia, a valorização dos municipários e melhorias no sistema de transporte público e da coleta seletiva.

O debate foi dividido em cinco blocos: manifestações iniciais, pergunta única do Simpa, perguntas e respostas entre os candidatos, perguntas dos municipários e considerações finais. Em um primeiro momento, os candidatos apresentaram suas propostas de maneira ampla. Cesar Pontes destacou como projeto central a valorização da população de Porto Alegre. “A essência de nosso projeto é que o povo governe. Nós entendemos que só uma democracia radicalizada pode fazer com que haja transformações que beneficie majoritariamente aqueles que mais precisam”, afirmou Pontes.

Fabiana Sanguiné defendeu o rompimento com todos os contratos que foram feitos para privatização, terceirização ou parceirização em diversos setores da cidade. Também afirmou ser necessário enfrentar a política fiscal do governo federal e exigir o fim do arcabouço fiscal. “Eu não estou aqui para ser uma gerente eficiente da barbárie capitalista, e sim, para apresentar uma saída socialista e revolucionária para os trabalhadores”, completou.


Cesar Pontes (PCO) e Maria do Rosário (PT) em bloco de perguntas e respostas / Daniel Barros

Luciano do MLB, morador do bairro Sarandi, é o único dos candidatos que perdeu a casa durante a enchente histórica de maio de 2024 e traz como uma das propostas principais o direito à moradia e a valorização da capital sul-rio-grandense. “O prefeito de Porto Alegre hoje é uma marionete dos ricos. Que vende a nossa cidade para os milionários e não contribui em nada para a melhoria do nosso povo. A prefeitura deve ser ocupada por quem vive os problemas da nossa cidade. Quem quer melhorar os serviços públicos e não precarizá-los para vender para seus amigos empresários e ricos”, discursou.

Maria do Rosário, acompanhada pela candidata à vice-prefeita Tamyres Filgueira, destacou o compromisso de diálogo, valorização e resgate de direitos dos municipários. “Eu quero com Tamyres, propor um governo a ser realizado com os servidores e as servidoras do município. Nós precisamos estar sentados em torno de uma mesa. É preciso que cada unidade de saúde, na educação, na guarda municipal, no Demae (Departamento Municipal de Água e Esgotos), no conjunto, se revalorize o serviço público”, concluiu.


Maria do Rosário (PT) e Fabiana Sanguiné (PSTU) em bloco de perguntas e respostas / Daniel Barros

No segundo bloco, os candidatos discutiram a privatização dos serviços públicos. Nele, Luciano pontua que a luta contra as privatizações é a parte central de seu programa. “Não teve nenhum caso de privatização que não foi precedido pela prevaricação. E essa privatização é sempre financiada com recurso público. É sempre dinheiro do Bndes (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) que faz essas privatizações. Então, acreditamos que esse mesmo banco de desenvolvimento também pode financiar as obras de projetos públicos”, defendeu. Luciano ainda prometeu reconstruir o Departamento de Esgotos Pluviais (DEP).

Em crítica às parcerias público-privadas, Fabiana argumentou que o objetivo das empresas privadas não é o atendimento da população, e sim o lucro. “A gente não acha que serviço público seja para gerar lucro. Ele precisa ser reinvestido para atender as necessidades da população”, afirmou. A candidata defende romper com as terceirizações e parceirizações que se encontram em toda a infraestrutura da cidade e incorporar esses trabalhadores ao município.

Maria do Rosário reforçou a necessidade de novos concursos públicos, denunciando a má gestão e a corrupção que entopem a capital. “Extinguiram o DEP, dizendo que houve corrupção. Pois, ao invés de acabarem com a corrupção e salvarem o DEP, se aproveitaram disso para extinguir o departamento e para desmontar o Dmae. Não deram ao Dmae as condições adequadas para fazer o trabalho que ele poderia ter feito. Nós temos que denunciar a corrupção. Os mesmos que querem privatizar o Dmae, acabaram por dentro do Dmae, segundo o Ministério Público, recebendo R$ 500 mil de propina da empresa que deveria limpar as bocas de lobo e os canos. A cidade inteira vê corrupção nos canos entupidos da cidade. Porto Alegre está com os canos entupidos de corrupção e de má gestão”, declarou. A petista também disse que a PGM (Procuradoria-Geral do Município) deverá olhar com lupa a privatização da Carris, os erros, os equívocos e as perdas para a cidade, para reincorporar o patrimônio público.

Paralelamente, Cesar salientou a importância de equilibrar o orçamento para melhorar os serviços básicos. “Antes de fazer qualquer proposta no sentido de avanço, nós temos que tratar da questão do nosso orçamento. A situação do município é precária e a do estado é mais precária ainda. O Rio Grande do Sul só perde em termos de dívida para o Rio de Janeiro. Porto Alegre deve hoje um bilhão e 600 milhões de reais. Se não fizermos a suspensão do pagamento da dívida municipal nada terá condições de ir para frente”, refletiu.


Cesar Pontes (PCO) e Luciano do MLB (UP) em bloco de perguntas e respostas / Daniel Barros

A terceira parte da conversa abordou a valorização dos servidores públicos. Em uma rodada de perguntas, Luciano questionou Rosário sobre como repor as perdas inflacionárias dos salários, ao que ela respondeu que a inflação deve ser enfrentada com uma mesa de negociação permanente e concursos para diversas áreas. Em sua réplica, Luciano reafirmou que a privatização está ligada à corrupção e também defendeu a auditoria da dívida pública para investir no funcionalismo público.

Temas como meio ambiente, saúde e educação, também foram discutidos. Fabiana Sanguiné mencionou que as enchentes em Porto Alegre, as queimadas pelo Brasil, a pandemia da covid-19 e o novo risco de endemia da Mpox são frutos da destruição ambiental associada ao modelo capitalista e criticou o agronegócio, a flexibilização das leis ambientais por parte do Governador Eduardo Leite (PSDB), e o arcabouço fiscal do Presidente Lula (PT).

A questão da limpeza urbana também foi levantada, com Luciano do MLB denunciando a precarização do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU). “É outra farra promovida pelos governos anteriores e aprofundada por Sebastião Melo. Tenho certeza que esses contratos, tanto com a Cootravipa quanto das empresas responsáveis pelos caminhões, pela coleta de lixo, tem uma série de pagamentos indevidos. Inclusive, muito mais do que caso esses funcionários fossem incorporados ao funcionalismo do município”, discursou.

O candidato propõe fazer esses trabalhadores, funcionários do município e tendo os direitos respeitados. Ele também sugere uma outra forma de organização da coleta como parte da solução. “Hoje, eles (trabalhadores) vêm de diversos lugares da região metropolitana, se concentram em um local e depois vão para os demais locais de limpeza. A gente acha que é possível territorializar esses trabalhadores para que eles atendam seus próprios bairros. Evitando todo esse deslocamento, gastos excessivos em transporte”, afirmou. Luciano também informou que muitos desses trabalhadores estão com materiais e uniformes danificados. Ele diz que muitos dormem nas ruas e defende o acesso à moradia para essas pessoas.

Na reta final do debate, os candidatos responderam a perguntas feitas pelos municipários e mencionaram novamente suas propostas gerais.

Maria do Rosário, ao falar sobre saúde, se propôs a implementar mais equipes de saúde da família em Porto Alegre. Segundo Rosário, a cidade tem estrutura para mais de 700 equipes de estratégia da saúde da família, mas que a capital do RS abriga apenas 334. Ela diz que vai criar uma instituição que faça o chamamento público de pessoas que assumam as funções dentro da Saúde. De acordo com a petista, caso eleita, nenhum contrato será interrompido no início de seu governo para que as pessoas continuem sendo atendidas. O processo será feito de forma dialogada, pontuando os servidores que estão nessas unidades de saúde.


Maria do Rosário (PT) e Luciano do MLB (UP) em bloco de perguntas e respostas / Daniel Barros

Cesar Pontes defendeu que o fortalecimento da rede pública depende de mais concursos e de uma participação popular ativa. Em reflexão, levantou a questão: “para que servem os gestores públicos? Para atender as pessoas ou os interesses dos poderosos?”. Ele destacou que a falta de recursos na saúde é reflexo da má administração dos orçamentos e criticou a terceirização dos serviços, afirmando que isso enfraquece o setor público.

A respeito da educação, o candidato do PCO defendeu a criação de conselhos populares por bairro, para que possam decidir o que é prioridade e defender as escolas municipais, “sem precisar se submeter a ditames de cima para baixo feitos por técnicos”. Ele reconhece a importância dos técnicos e diz que também devem ser consultados, mas que a palavra final deve ser da comunidade escolar.

Ao ser questionada sobre as enchentes de maio, Fabiana afirmou que a culpa é da atual gestão. “Nós não temos dúvidas que, em Porto Alegre, o governo Melo é criminoso”, disse. E novamente frisou a flexibilização do código ambiental do Rio Grande do Sul pelo governo Leite. A candidata do PSTU diz que vai dar prioridade imediata, caso eleita, à reconstrução de casas da população atingida pelas cheias que estão até o momento sem serem atendidas. Ela defendeu ainda a expropriação imediata dos mais de cem mil imóveis vazios de Porto Alegre.

No tocante ao transporte público, Luciano do MLB defendeu o passe livre e uma mudança no sistema das passagens. “Os cobradores foram retirados dos seus postos de trabalho sob a alegação de diminuir o custo do transporte, mas o sistema de bilhetagem também leva milhões de reais. Tirar esse sistema de bilhetagem fará com que economizemos”, pontuou.

Em suas considerações finais, Cesar Pontes deixou um recado aos porto-alegrenses: “Nós políticos não somos nada sem a população. A população é tudo e deve decidir em última instância”, frisou.

O debate ocorreu na sede do Simpa, no bairro Cidade Baixa de Porto Alegre (Rua João Alfredo, 61).


O debate ocorreu na sede do Simpa, no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre  / Daniel Barros

Ausências

A ausência dos candidatos Carlos Alan (PRTB), Felipe Camozzato (Novo), Juliana Brizola (PDT) e Sebastião Melo (MDB) foram sentidas pelos participantes e pelo sindicato que criticaram a postura.

“Eu gostaria de estar debatendo hoje aqui com o atual prefeito, candidato Melo. Porque eu creio que a presença dele seria sobretudo um ato de respeito para com os servidores e as servidoras públicas do município de Porto Alegre”, comentou Maria do Rosário. A candidata ainda completou, “lamentavelmente o atual prefeito não veio ao debate, lamentavelmente ele não responde as perguntas sobre por que a cidade alagou dessa forma”, concluiu.

A direção do Simpa também lamentou a falta dos quatro candidatos. “Eles não estão pelos motivos que forem, mas o lamento significa a dificuldade que a gente tem de compreender essa ausência, tendo em vista que entendemos aqui o quanto é importante para nós esse momento. O sindicato tem na sua história a criação desse espaço de debate com os candidatos e as candidatas à prefeitura por um motivo lógico. Nós somos os que executam a política do gestor eleito, da gestora eleita. Portanto, nós somos os interlocutores das nossas questões, das nossas reivindicações e também da população, que é quem a gente atende”, afirmou a diretora-geral Cindi Regina Sandri.

"Todos foram convidados muito antecipadamente e foi garantido o mesmo tratamento aos demais candidatos. Para nós é um desrespeito", afirmou João Ezequiel, diretor-geral do sindicato.

Pesquisa Quaest

A segunda pesquisa de intenção de voto da Quaest para a prefeitura de Porto Alegre, divulgada nesta terça-feira (17), mostra o atual prefeito Sebastião Melo (MDB) com 41% e a deputada federal Maria do Rosário (PT) com 24%. Como a margem de erro é de 3%, Melo tem entre 38% e 44% e Rosário, entre 21% e 27%.

Na sequência, aparecem Juliana Brizola (PDT) com 17% e Felipe Camozzato (Novo) com 3%. Cesar Pontes (PCO), Luciano do MLB (UP), Fabiana Sanguiné (PSTU) e Carlos Alan (PRTB) não pontuaram.

Em relação ao levantamento anterior publicado pela empresa em 28 de agosto, apenas Melo e Brizola pontuaram positivamente. O candidato emedebista aparecia com 36% das intenções de voto. Rosário, com 31%, estava empatada tecnicamente com o atual prefeito da capital gaúcha. Juliana Brizola pontuava 11%. Felipe Camozzato seguiu com 3% das intenções.

O debate pode ser conferido na íntegra pelo canal no YouTube do Simpa.


Edição: Vivian Virissimo