No próximo sábado (7), acontece por todo o Brasil a 30ª edição do Grito dos Excluídos. O movimento nasceu da união de grupos populares, pastorais sociais e sindicais para trazer o contraponto de que a independência nacional, celebrada no mesmo dia, ainda não chegou para todos. A edição deste ano tem como lema “Todas as formas de vida importam. Mas, quem se importa?”. Em Pelotas, a manifestação acontece no Kilombo Urbano Ocupação Canto de Conexão, local que exerce papel fundamental na assistência a pessoas em situação de vulnerabilidade.
O Grito surge a partir de uma Campanha da Fraternidade há mais de 30 anos, em um movimento popular realizado pela Igreja Católica. Uma das campanhas tinha como tema “Vida em primeiro lugar”, que tratava da temática da exclusão. A partir dela, criou-se uma dinâmica própria, que seria o Grito das Excluídas e dos Excluídos.
“Desde pelo menos sua terceira edição, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil aderiu e aprovou o Grito dos Excluídos como um movimento institucional da Igreja Católica. Essa proximidade com a teologia da libertação, com a religiosidade popular, ecumênica e inter-religiosa, não exclusivamente católica, trouxe uma participação muito grande de sindicatos, associações, grupos de periferia e ONGs”, conta Reinaldo Tillmann, um dos organizadores do movimento em Pelotas.
Kilombo Canto de Conexão
O local que irá receber a manifestação na principal cidade do sul do estado é o Kilombo Urbano Canto de Conexão, que há poucos meses foi alvo de uma ameaça de despejo pelo setor de exploração imobiliária. “O despejo não aconteceu, mas a ameaça foi uma questão direta contra uma organização popular”, ressalta Tillmann, um dos articuladores da manifestação em Pelotas. O Grito e o Kilombo se relacionam diretamente na luta pela cidadania, pelo direito da população à cultura, educação e ao acesso à cidade. Tillmann considera que o local representa um “espaço de combate à exclusão”.
Raquel Moreira, coordenadora de projetos do Kilombo, resgata que essa aproximação ocorreu devido ao trabalho que a ocupação realiza ao longo dos seus sete anos de existência. O local trabalha diariamente pela luta por moradia e também possibilita o debate sobre o acesso das pessoas à cidade em suas diversas áreas, como saúde, educação, alimentação e cultura. Ela também destaca que a importância da manifestação é “levar às ruas as manifestações populares, expressar o sufocamento, o silenciamento e a participação das pessoas excluídas do processo mínimo de acesso à cidadania”.
O Kilombo possui a maior cozinha solidária da cidade e, no período de enchente, foi responsável por grande parte das cestas básicas e marmitas distribuídas nos abrigos. Tillmann diz que a parcela da população que mais necessita de assistência é justamente a que é excluída. “É lá que precisamos estar!”, afirma.
Tillmann explica que os 'Gritos' são falas, faixas, poesias recitadas, músicas cantadas e peças dramatizadas de quem é excluído pela sociedade. Durante a manifestação, devem ocorrer também apresentações artísticas e culturais, trocas solidárias e exposições de livros. “Quem quiser pode levar sua barraca. A ideia é fechar a rua”, complementa Tillmann.
A programação começa às 8h com um café comunitário que vai até as 9h. Depois, ocorrem as apresentações artísticas, e ao meio-dia o almoço comunitário, que dura até as 14h, quando o movimento sairá em caminhada para o Quadrado. O encerramento tem previsão para acontecer às 16h, no Kilombo. Ele finaliza pedindo que cada pessoa, se possível, leve um 1kg de alimento ou qualquer valor em dinheiro para contribuir com as refeições “Tudo será destinado ao quilombo e à cozinha solidária”.
Programação completa:
08:00 - 09:00: Café da manhã comunitário;
09:00 - 12:00: Falas, Gritos, canções e expressões culturais;
12:00 - 14:00: Almoço comunitário;
14:00 - 15:00: Caminhada e abraço ao Rio São Gonçalo;
15:00 - 16:00: Encerramento em frente ao Kilombo.
Edição: Vivian Virissimo