Fundadora do Favela Orgânica e cozinheira autodidata, Regina Tchelly estará em Porto Alegre neste final de semana para falar de seu projeto, que há mais de dez anos ensina o “uso de ingredientes até o talo”. Entre as agendas da empreendedora social está uma visita, na manhã deste sábado, à Feira de Agricultores Ecologistas (FAE) e a Feira Ecológica do Bom Fim (FEBF), as tradicionais feiras orgânicas da Redenção.
Em parceira com a Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável, Regina mostra como a cozinha pode ser um espaço de transformação social por meio do combate ao desperdício dos alimentos e da fome. Sua proposta é modificar a relação das pessoas com a comida e seus ingredientes.
A programação de sábado, a partir das 8h30, contará com uma caminhada guiada pelas feiras ecológicas. Na sequência ocorre o lançamento da Cartilha Exigibilidade do Direito a Estar Livre da Fome, de autoria da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável, e uma roda de conversa, no areião da Redenção, entre as duas feiras.
Um dia antes, na sexta-feira (6), Regina participa de outro evento de lançamento da Cartilha Exigibilidade do Direito a Estar Livre da Fome, que ocorre às 19h no Sindicato dos Aeroviários (na Rua Augusto Severo, 82, bairro São João).
Essa cartilha faz parte de um projeto da Aliança, através de um financiamento. O núcleo gestor do Rio Grande do Sul trabalhou por 18 meses com foco no direito humano à uma alimentação adequada e saudável, levando em consideração todos os direitos que foram impedidos durante o processo de desmonte das políticas públicas através do antigo governo federal.
“A vinda de Regina Tchelly foi para trazer toda essa teoria na prática, por ela dialogar com os públicos alvos, com uma didática muito legal e trabalha tudo que está escrito na cartilha: alimentação adequada e saudável; aproveitamento integral dos alimentos, agroecologia e pancs”, afirma a agricultura e estudante de nutrição Fran Bellé, que é membro da Aliança.
Favela Orgânica
Criado em setembro de 2011, o Favela Orgânica foi precursor em seu formato e teve origem nas comunidades Babilônia e Chapéu Mangueira, na zona sul da cidade do Rio de Janeiro. Na época, com apenas R$ 140,00 para montar uma primeira oficina de aproveitamento de alimentos, Regina fez o projeto crescer, espalhando suas sementes, multiplicando saberes e democratizando a comida criativa, econômica e nutritiva não somente dentro da favela, mas pelo Brasil e em viagens ao exterior, a convite de diversas organizações e chefs renomados.
“Eu queria fazer algo que pudesse modificar a nossa relação com os alimentos. Me dava muita agonia ver tanta comida não aproveitada. Isso ficou na minha cabeça e em 2011 eu desenvolvi um projeto, em uma agência na época, que pudesse trazer benefício às favelas e a cidade”, contou Regina em entrevista realizada.
Sobre a convidada
Natural de Serraria, interior da Paraíba, nasceu em 4 de agosto de 1981. Aos 12, já era manicure. Três anos mais tarde, se mudou para João Pessoa. Chegou ao Rio com 20 anos, onde trabalhou como doméstica para uma família que comia de forma saudável, novidade para ela na época. Como adorava cozinhar, superou o estranhamento inicial e passou a se interessar por alimentos integrais e orgânicos.
“Quando cheguei ao Rio de Janeiro vi o volume e a quantidade de alimentos sendo desperdiçados nas feiras livres da cidade. Foi uma das coisas que mais me incomodou, porque lá na Paraíba a gente sabe como aproveitar tudo”, conta.
Sobre a Aliança
A Aliança pela alimentação Adequada e Saudável é uma coalizão que reúne organizações da sociedade civil, associações, coletivos, movimentos sociais, entidades profissionais e pessoas físicas que defendem o interesse público com o objetivo de desenvolver e fortalecer ações coletivas que contribuam para a realização do Direito Humano a Alimentação Adequada (DHAA). Suas ações buscam o avanço de políticas públicas para a garantia da Segurança alimentar e Nutricional (SAN) e da soberania alimentar no Brasil.
O Núcleo RS da Aliança surgiu em outubro de 2016 na cidade de Porto Alegre durante o 24º Congresso Brasileiro de Nutrição.
As bandeiras e práticas da Aliança são orientadas pela promoção da equidade, da transparência, da realização e respeito dos direitos humanos. Assim como pela valorização da interação entre culturas de forma recíproca, respeitando e incluindo saberes e práticas de lugares não acadêmicos.
Edição: Marcelo Ferreira