O Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) está realizando uma pesquisa com pacientes que desenvolveram sintomas de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) após as enchentes que devastaram o estado em maio. Essa é considerada a maior tragédia com enchentes em termos de extensão já registrada no país.
Segundo o estudo conduzido pela pesquisadora Simone Hauck, coordenadora do Grupo de Pesquisa em Psiquiatria Psicodinâmica do HCPA, 42% dos participantes narram que apresentaram sintomas de TEPT. O levantamento já ouviu 1.846 moradores do estado entre 7 junho e 19 de julho deste ano. Do número total, 778 relataram problemas de saúde mental.
Previsto para durar em torno de um ano, o estudo segue aberto e pode ser acessado neste link. A amostra já recebeu aproximadamente 5 mil respostas de moradores. A maioria das respostas é da população de Porto Alegre e Canoas, mas também de moradores de cidades da Região dos Vales, sul do RS e área central.
Saúde mental no SUS
Em entrevista recente ao podcast Repórter SUS, a psicóloga e Coordenadora da Comissão Regional Especial de Emergências e Desastres do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro, Victoria Gutiérrez, afirma que o Sistema Único de Saúde (SUS) tem papel primordial no atendimento psicossocial a essas populações que sofreram com catástrofes do gênero.
“A presença do SUS é imprescindível. Ele é extremamente importante, por causa da capilaridade. Ele chega onde outros serviços não chegam. Mas, mesmo assim, ele precisa ser mais equipado”, analisa Victoria Gutiérrez.
O Guia Prático de Saúde Mental em Situações de Desastres, da Organização Panamericana de Saúde (OPAS), também preconiza que a resposta a questões de saúde mental provocadas por calamidades não pode ser apenas imediata.
"Grandes catástrofes têm um impacto na saúde mental a médio e longo prazo; as lesões psicológicas não são curadas tão facilmente quanto as feridas. Portanto, deve-se prever o trabalho de recuperação após a fase crítica”, acrescenta Victoria Gutiérrez
Edição: Vivian Virissimo