Com sete metros de comprimento por três de altura, o painel “Nau dos Insensatos - O Naufrágio do Estado Mínimo” é resultado de um trabalho de dois meses do grupo de cartunistas da Associação de Artistas Gráficos do RS (Grafar). A “Nau dos Insensatos” será exposta nesta quinta-feira (5), às 19h, na sede da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Instituições Financeiras (Fetrafi-RS), no Centro Histórico de Porto Alegre.
Na descrição da Grafar, o tamanho do quadro e a dimensão da exposição procuram corresponder à gravidade do ocorrido em maio passado no Rio Grande do Sul que, na opinião dos artistas, é consequência de uma série de fatores importantes e interligados entre si.
“O viveiro neoliberal não tem moradores, tem cobaias”
A imagem traz vários elementos e personagens, entre os quais dois expoentes do neoliberalismo, como comandantes da barca. Soma-se à mostra também um vídeo de cinco minutos, que contém um manifesto do escritor Ernani Ssó.
No texto de Ssó, a água tóxica que invadiu o centro de Porto Alegre e muitos bairros enlouquece as palometas, peixes aparentados às piranhas que surgiram na cidade com a inundação. Então, as palometas cantam em coro, comentando e ilustrando as mazelas da cidade e do estado. “O viveiro neoliberal não tem moradores, tem cobaias. O neo é pop, viva o neo!” Ou ainda: “O estado mínimo apresenta a conta, o estado máximo paga e o cordão dos puxa-sacos cada vez aumenta mais”.
A alegoria da “Nave dos loucos” tem muitas versões, uma das mais antigas figura em A República, do filósofo grego Platão, onde a embarcação está entregue a uma tripulação disfuncional. Também o pintor holandês Hieronymus Bosch, retratou sua Nau dos Insensatos no século 16. A idéia dos cartunistas gaúchos ainda lembra o romance Ship of Fools, de Katherine Ann Porter, e o filme de mesmo nome de Stanley Kramer, de 1965.
“Enxurrada levou a dignidade e a segurança”
A obra por si só “traz elementos artísticos e críticos a um momento trágico da nossa história e, nos lembra do papel político da arte na construção da memória enquanto ela ainda acontece”, assinala a Grafar. Repara que a enchente que atingiu o estado em maio deste ano e devastou cidades inteiras, “levou junto da enxurrada a dignidade e a segurança dos gaúchos, sujando o pampa verde e vivo com a lama fedorenta que pertencia ao fundo dos rios”.
“A Nau dos Insensatos – acrescenta - surgiu nesse exato momento de desespero, quando a água turva da enchente era uma das poucas certezas nas casas dos gaúchos. Os cartunistas que participaram da obra colocaram ali reflexões, questionamentos e denúncias”.
“Nau dos Insensatos” vai viajar pelo Rio Grande
Durante cinco dias, a população poderá visitar a exposição, também composta por 60 cartuns em formato A3, assinados por outros artistas gaúchos. A Fetrafi-RS fica na rua Coronel Fernando Machado, 820.
Além de Schroder, a “Nau dos insensatos” conta com a participação de mais nove autores: Edgar Vasques, Santiago, Bier, Hals, Kayser, Fabiane Langona, Uberti, Bruno Ortiz e Eugênio Neves. Os cartunistas participam do jornal de humor O Grifo, que circula online há quatro anos.
Com apoio da Central Única dos Trabalhadores do RS (CUT-RS) a “Nau dos Insensatos” irá percorrer o estado nos próximos meses. Também apoiam a exposição Sindbancários/RS, Sindjor/RS, CPERS Sindicato, Sintrajufe/RS, Adufrgs Sindical, Fetrafi-RS e Grafar.
Edição: Ayrton Centeno