A gurizada de 16 e 17 anos está envolvida nas eleições, tem interesse em participar do pleito deste ano ou não está nem aí para o que está acontecendo pelas ruas e pelas campanhas para prefeito e vereador? É difícil avaliar com precisão. Pessoas desta faixa de idade têm outras prioridades e, por enquanto, estão fora do jogo.
Nos colégios, alunos de 16 anos e 17 anos querem namorar, viajar pelas redes sociais e Internet, pensar na profissão que vai escolher, marcar uma festinha ou “zanzar” por aí em busca de diversão. A maioria vai votar, sim, até já fez o título eleitoral, mas não tem muitos conhecimentos e definições ideológicas para explicar com profundidade o que está acontecendo. Querem participar, mas do jeito deles. Sentem um certo orgulho de votar.
“A galera jovem está fazendo ativismo político digital. Não olham apenas para a aldeia. Para este público a política é vista como algo distante e, para alguns, como uma instituição dispensável. Isso exige que os partidos pensem em um redesenho de sua forma de atuação e, principalmente, no seu propósito para que possam ser reconhecidos pelo seu papel na representação política de todos os grupos etários”, diz a cientista social e diretora da IPO (Instituto de Pesquisa e Opinião), com sede em Porto Alegre, Elis Radmann.
Ela garante que, nesse cenário, as campanhas sistemáticas de incentivo ao primeiro voto e à emissão do título eleitoral promovidas pela Justiça Eleitoral, com o apoio de diversas parcerias sociais, contribuíram de forma expressiva para a decisão da juventude de votar desde cedo, mesmo de maneira facultativa, já que o voto não é obrigatório para os jovens de 16 e 17 anos.
Os números do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que os jovens estão interessados em ter o título para exercer o seu direito de cidadania, mas o envolvimento com candidatos e suas plataformas são mínimos. Em relação ao último pleito eleitoral municipal (2020), houve um crescimento de 78% no número de jovens aptos a votar deste perfil etário. Para este ano, os adolescentes somam 1,17% de todo o eleitorado brasileiro e representam 1,836 milhão do total de 155,9 milhões de votantes. A faixa etária com maior eleitorado é a de 45 a 59 anos, que soma 38.883.736 eleitores.
Nas eleições gerais de 2022, os adolescentes haviam comparecido em número ainda maior, com o alistamento de 2,1 milhões (51,13% acima de 2018). O TSE, contudo, evita fazer a comparação entre os dois tipos de eleição, pois há localidades que não participam das eleições municipais, como é o caso de Brasília, Fernando de Noronha e das seções eleitorais no exterior.
Interesse
Já na outra ponta do eleitorado, 15,2 milhões de eleitores acima dos 70 anos estão aptos a votar neste ano, 9,76% do eleitorado total. O número é 23% maior que em 2020, quando eram 12,3 milhões. Somando-se aos jovens, totalizam 20,5 milhões de brasileiras e brasileiros que podem escolher se votarão nas eleições de 2024.
Para a cientista política e doutora pela Universidade de Brasília (UnB) Marcela Machado, “os jovens brasileiros se interessam pela política e pelas disputas daí decorrentes. Eles entendem que tudo é política no país e que não dá para ficar isento”.
“Falamos sobre política em todas as rodas. As pessoas estão muito mais conscientizadas de que a política é algo que toca a todo mundo, e muito dessa conscientização é por conta das redes sociais: vídeos, ações e linguagens mais palatáveis para atingir esse público”, acrescenta.
No contexto de envolvimento dos adolescentes, o TSE já realizou este ano a Semana do Jovem Eleitor 2024, uma campanha que visou estimular, nas redes sociais, os adolescentes a tirar o primeiro título de eleitor e a participar da escolha dos representantes que ocuparão os cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador pelos próximos quatro anos. “Todo mundo lembra quando fez algo importante pela primeira vez: a primeira viagem, o primeiro emprego, o primeiro salário. Com o voto não é diferente”, salienta Marcela.
O relacionamento dos jovens com a política tem forte relação com o “engajamento” do pleito. “Eleições municipais tratam de temas em nível local, que, às vezes, não se convertem em engajamento. Por conta justamente dessa característica ‘paroquial’ das eleições municipais, as disputas são travadas entre famílias, entre lado ‘a’ e lado ‘b’. Na eleição geral, a tônica é mais social, coletiva. Naturalmente, engaja mais pessoas”, detalha Marcela.
O interesse dos jovens também tem relação com a falta de conhecimento sobre o que faz um prefeito ou vereador, por exemplo. “Toca muito na questão da educação política. Jovens de 16 e 17 anos, se não sabem para que serve, qual é a função, o que vem de um vereador ou o que faz um prefeito, não se estimulam a participar desse evento democrático”, completa.
Rio Grande do Sul
O Rio Grande do Sul tem 51.577 eleitores entre 16 e 17 anos do total de 8.682.742 pessoas aptas a participar das eleições municipais de 2024. O eleitorado gaúcho cresceu apenas 1,04% em relação às eleições de 2022 e um total de 3,08 % em relação à última eleição municipal, realizada em 2020. Do total de eleitores aptos, 83,50% possuem dados biométricos coletados na Justiça Eleitoral e poderão votar utilizando a sua biometria.
Entre os municípios com maior número de eleitores estão Porto Alegre, com 1.096.641; Caxias do Sul, com 347.190; Canoas, com 259.593; Pelotas, com 248.634; e Santa Maria, com 209.396. Nestas cidades com mais de 200 mil eleitores, é prevista a possibilidade de segundo turno para o cargo de prefeito, caso nenhum candidato consiga a maioria absoluta dos votos em primeiro turno. O município de Gravataí é o sexto da lista, com 193.870 eleitores, e não terá votação em segundo turno. O primeiro turno será realizado em 6 de outubro e o segundo, caso houver, será em 27 de outubro.
Já em relação aos candidatos jovens inscritos para a eleição no estado caiu de forma significativa. O percentual de concorrentes com idade até 29 anos variou de 7,7% na eleição municipal anterior para 5,6% agora, de acordo com os registros oficiais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – patamar mais baixo, pelo menos, desde o começo dos anos 2000.
O candidato mais novo nestas eleições em todo o Rio Grande do Sul, com apenas 17 anos, Augusto Moller Estivalete, nem mesmo aguentou esperar a maioridade para buscar uma vaga na Câmara Municipal de Bento Gonçalves. Como é preciso ter no mínimo 18 anos para se tornar elegível, sabe que poderá ser barrado pela Justiça Eleitoral. Apesar disso, afirma que decidiu arriscar uma candidatura após avaliar que os políticos de sua região não responderam à altura aos desafios impostos pelas enchentes dos últimos meses, disse em entrevista para a Zero Hora.
* Com informações do TSE
Edição: Katia Marko