Rio Grande do Sul

Sustentabilidade

MPA, Ministério do Meio Ambiente, Fiocruz, Embrapa e organizações regionais debatem crise climática no norte do RS

Atividade também serviu para apresentar as missões 'Josué de Castro' e 'Sementes de Solidariedade' ao público regional

Brasil de Fato | Seberi (RS) |
Centro de formação do MPA recebeu bom público no seminário que colocou as mudanças climáticas em debate - Corbari

Na última quinta-feira (30), a sede da cooperativa camponesa Cooperbio, foi sede do Seminário “Mudanças do Clima”, realizado em parceria com o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Ministério do Meio Ambiente e Mudanças do Clima (MMA), Fiocruz e Embrapa. A atividade, que reuniu cerca de 150 participantes, envolveu desde pequenos agricultores de matriz familiar e camponesa, professores e estudantes vinculados a institutos e universidades presentes no território, cooperativas, instituições de classe e lideranças comunitárias.

Marcos Sorrentino, diretor do departamento de Educação Ambiental e Cidadania do Ministério do Meio Ambiente e Mudanças do Clima, foi o primeiro a se manifestar, e expressou que somente se pode falar sobre gerações futuras a depender do que está disposta a fazer a geração presente: “Precisamos de uma grande mudança cultural necessária para garantir a manutenção da vida da espécie humana nesse planeta, levar a mensagem da transformação do nosso modo de ser e de estar nesse planeta, não é possível mais continuarmos a fazer um modo de vida que degrada o meio ambiente, que joga lixo para todos os lados, que degrada a vegetação, que coloca fogo em todo o planeta terra praticamente, que degrada o solo”.

Para Sorrentino, o trabalho de Centros de Educação Ambiental e experiências que aproximem os saberes da academia dos saberes tradicionais dos povos camponeses e originários podem em espaços como os do centro de formação da Cooperbio representar experiências significativas para novos modos de se construir processos de educação baseados na compreensão do outro e na compreensão do próprio meio ambiente e das suas necessidades.

“As mudanças climáticas vieram para ficar e a única resposta que se se pode dar, que é necessário que se dê rapidamente, é uma profunda mudança de comportamentos, reequilibrar a nossa forma de ser e de estar no nosso planeta, mudar comportamentos e valores, construir uma nova forma de os humanos se organizarem e se realizarem é muito importante.”


MPA reforçou a denúncia de que os camponeses e camponesas estão sofrendo com uma crise climática da qual não são responsáveis / Foto: Corbari

Embrapa vai lançar plataforma

Os pesquisadores Eberson Diedrich Eicholz e Ângelo da Silva Lopes, da Embrapa Clima Temperado, apresentaram um panorama a respeito do que a instituição vem trabalhando a respeito do tema das mudanças climáticas e o trabalho com a agricultura, com especial enfoque na questão da agrobiodiversidade na produção sustentável de alimentos.

Especificamente a respeito das respostas aos incidentes climáticos recentes registrados no estado entre os meses de abril e maio, anteciparam a informação do lançamento de uma plataforma que a Embrapa vai apresentar nos próximos dias, visando reunir informações sobre projetos que já estão em desenvolvimento pelas diversas unidades da própria empresa nos três estados do Sul, bem como por universidades e outras instituições de pesquisa que estejam dedicadas a trabalhar que possam contribuir para a questão.

“Este seminário foi mais uma ótima oportunidade de encontro, de interagir com os agricultores, de saber o que está acontecendo e como está acontecendo, compreender as possibilidades que temos de trabalhar em conjunto, de construir soluções de forma cooperada para este período, campesinos e a pesquisa de mãos dadas”, afirmou Eicholz.

A Fiocruz foi representada no seminário por André Campos Burigo, da Assessoria de Saúde e Ambiente, e Danúbia Gardênia, da Agenda de Saúde e Agroecologia. Na apresentação destacaram que para falar do tema das mudanças climáticas é necessário abordar as relações geradas a partir dos sistemas agroalimentares, pois é justamente a partir da temática da produção de alimentos que estão associadas a maior parte das causas geradoras do que vem ocorrendo com o clima.

Burigo explicou que a Fiocruz vem dando atenção especial ao trabalho com camponeses e povos tradicionais. “Temos um entendimento de que estamos em um momento da humanidade de que precisamos trabalhar na perspectiva de construir territórios sustentáveis e saudáveis. A Fiocruz precisa contribuir para a superação dos indicadores de fome e insegurança alimentar e nutricional que temos no nosso país, porque é a agricultura sustentável que oferece a melhor comida, promove a saúde de várias formas, cuida do meio ambiente e quem faz isso é o campesinato.”

Para os representantes da Fiocruz está claro que os camponeses já estão fazendo a sua parte, produzindo alimentos saudáveis e cuidando do meio ambiente, mais que isso, proporcionando que espaços como o centro de formação da Cooperbio se transformem em espaços de formação, educação e partilha.


Marcos Sorrentino frisou que precisamos de um novo modo de viver e de nos relacionarmos com o planeta e com o meio ambiente / Foto: Corbari

MPA sempre defendeu o cuidado do meio ambiente

Marcelo Leal, da direção nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), relembrou que a bandeira do movimento “sempre foi a soberania alimentar, que envolve as sementes, a agroecologia, políticas públicas, a agroindustrialização, agregação de valor, sempre numa matriz tecnológica de base biológica, envolvendo saúde ambiental e saúde humana".

Segundo ele, ao fazer esse trabalho nas escolas, nas universidades e nos institutos, o MPA sempre disputou essa ideia que agora está ficando mais presente no conjunto da sociedade por causa desse drama das mudanças climáticas que começa a afetar a economia, os negócios e a vida das pessoas, como um todo. "Está claro que o momento abre um espaço mediante esses cenários mais dramáticos para discutir com a sociedade formas de viver, de produzir, de gerar economia orientada para entregar um valor que não é só o lucro, mas entregar saúde, comida de verdade, proteção ao meio ambiente, e também ter os negócios, ter as atividades econômicas para ter prosperidade.”

Luiza Pigozzi, dirigente camponesa que está à frente do conselho diretor da Cooperbio, relembrou que “o MPA desde o início de sua trajetória evidencia a temática ambiental e a produção de alimentos saudáveis e diante dos últimos acontecimentos se faz ainda mais urgente o debate sobre mudanças climáticas”.

A dirigente mostrou-se satisfeita pela diversidade de pessoas que se interessaram em dedicar tempo para tratar do tema, desde agricultores camponeses, estudantes, professores e gestores, “o que gerou uma rica discussão sobre as causas e possibilidade de saída, reafirmando a agricultura camponesa como capaz de produzir alimentos saudáveis, preservando o meio ambiente, construindo sistemas alimentares resilientes”.

Pigozzi pontuou ainda que “o Centro Territorial de Cooperação do MPA, em Seberi, se coloca como um espaço de referência no aperfeiçoamento de tecnologias capazes de adaptação e mitigação das mudanças climáticas, assim como um espaço aglutinador da temática”.

A solidariedade ativa foi pauta dos debates na parte da tarde


Missão Josué de Castro está sendo apresentada pelo MPA em todos os estados onde o movimento está presente / Foto: Corbari

Na parte da tarde foi realizado o lançamento da Missão Josué de Castro, dando início a inserção da discussão sobre o tema na região e reafirmando a importância da soma de esforços de todas as organizações e pessoas presentes para a materialização dela no território, com a participação do Frei Sérgio Görgen e Tairi Felipe, que integram a coordenação do esforço que reúne dezenas de organizações de matriz social e popular em nível nacional.

“De tempos em tempos as políticas públicas precisam evoluir, precisam dar saltos em qualidade e quantidade também. A Missão Josué de Castro é uma proposta que permite ao combate à fome este salto, será tão inovador para o campo como foi a criação do Pronaf ou dos programas de habilitação rural. Para nós agora os desafios são fazer ou reforçar as articulações nos estados e regiões para pôr a missão em prática e pautar o governo para que adote e apoie a proposta”, defendeu Frei Sérgio.

Outra atividade que teve espaço na programação foi a apresentação de dados da Missão Sementes de Solidariedade, que vem sendo desenvolvida junto aos pequenos agricultores de matriz familiar e camponesa que foram atingidos pelas enchentes e deslizamentos de abril e maio em diferentes territórios do RS.

Gerson Borges, Geni Bortolini e Wanderléia Chitó apresentaram seus testemunhos a respeito da realidade dos atingidos e do trabalho continuado que segue sendo realizado. Por fim, a Brigada Climática Enio Guterres, formada por jovens da base do MPA, também relatou seu trabalho junto aos atingidos e atingidas.

“Nós vamos para o território pensando em ajudar, em fazer a nossa parte, mas a verdade é que voltamos de lá transformados”, afirmou Geni. “Ainda continuamos atuando em diversos territórios e precisamos muito de novos voluntários e voluntárias para alcançar os espaços onde ainda não conseguimos chegar”, conclamou Borges, deixando claro que a Missão não tem data para encerrar.


Representantes da Missão Sementes de Solidariedade apresentaram testemunhos do que estão vendo e vivendo nas áreas atingidas / Foto: Corbari

As atividades realizadas durante o seminário “Mudanças do Clima” estão inseridas dentro do espectro dos projetos “Agroecologia Camponesa e Promoção da Saúde no Campo e na Cidade”, realizado em parceria com a Fiocruz e MPA; e “Centro Territorial de Cooperação e Educação Ambiental – uma contribuição para a sustentabilidade socioambiental”, realizado em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e contando com o apoio da Admau, Creluz, IFFar, URI, UFSM, Uergs, Cigres, Codemau.


Edição: Katia Marko