Rio Grande do Sul

ENCHENTES NO RS

A campanha eleitoral e a realidade enfrentam confrontos

Rauber contesta o que vem sendo apregoado sobre questões de diques, comportas e casas de bombas

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
“Sebastião Melo está escondendo as suas reais responsabilidades com relação às enchentes”, afirma ex-diretor do DEP - Sebastião Melo/Facebook/Divulgação

É difícil ser autêntico, real, nota dez, verdadeiro em todos os sentidos em campanhas eleitorais. As promessas e as mentiras se proliferam em doses excessivas. Tem um candidato por aí que se diz “direita de verdade”, menosprezando todos os demais que comungam de ideais retrógrados. Outros prometem absurdos, coisas que não competem a prefeitos ou vereadores.

O engenheiro especialista em Planejamento Energético e Ambiental e ex-diretor do DEP (Departamento de Esgotos Pluviais), Vicente Rauber, está preocupado com as coisas que estão sendo ditas na sua área de atuação. Ele está estranhando os posicionamentos da prefeitura e do seu mandatário em programas e entrevistas eleitorais. “Sebastião Melo está escondendo as suas reais responsabilidades com relação às enchentes.”

A palavra manutenção não aparece nas manifestações do candidato. É uma coisa essencial para evitar tragédias. Não é verdadeiro que os diques do Sarandi foram construídos muito baixos, na cota errada. Para Rauber, os diques foram corretamente construídos pelo DNOS (Departamento Nacional de Obras e Saneamento) na cota de 6,5m. Há anos, segundo ele, estão sendo deteriorados por várias ações – humanas, animais e pela própria água – e não foram recompostos em obras de manutenção.

Em 2018, ao estudar o Projeto para o Arroio Feijó, a Metroplan enviou à Prefeitura, para conhecimento e providências, um amplo estudo envolvendo estes diques – Sarandi e Fiergs – e até hoje nada foi feito.

Casas de bombas

O prefeito também tem alegado em suas manifestações que as casas de bombas foram construídas com os motores em posição muito baixa, por isto inundaram e pararam de funcionar. O fato, para o ex-diretor do DEP, é que as casas de bombas foram construídas corretamente pelo DNOS. “Não foram construídas para operarem inundadas. Aliás, todo o Sistema de Proteção foi construído não para inundar a cidade e sim para protegê-la”, afirma.

“As águas entraram pelas próprias comportas das casas de bombas (e pelas comportas externas), por não terem manutenção desde 2020”, alega.

Para entender a questão da altura dos grupos motor-bomba, Rauber faz as seguintes alegações, contestando versões oficiais:

“As águas do Guaíba normalmente oscilam entre as cotas de 1,5m e 2m. Com qualquer chuva nas bacias dos rios contribuintes, elas sobem. Então as comportas das casas de bombas necessitam ser fechadas porque elas fazem a proteção até a cota de 3m. A partir desta cota, também as comportas externas necessitam ser fechadas”, explica o técnico. “A altura dos grupos motor-bomba está nivelada com o funcionamento das comportas das casas de bombas, operando assim com sua melhor eficiência.”

Outra questão apregoada em manifestações eleitorais é que, quando as águas sobem, necessitam de mais potência destas casas de bombas. “Também precisam de mais potência porque a cidade cresceu e se impermeabilizou mais. Por isto, em 2014, os engenheiros do DEP elaboraram um plano de ampliação e modernização das casas de bombas, para o qual a ex-presidente Dilma Rousseff liberou, a fundo perdido, R$ 124 milhões. O DEP foi extinto em 2017, em 2019 estes recursos foram perdidos por não terem sido apresentados os projetos de engenharia”, justifica Rauber. O que ocorreu é que, desde então, o DMAE acumulou R$ 430 milhões em bancos e não executou plano algum.

Comportas

O fechamento de oito das 14 comportas, também defendido oficialmente, estão sem manutenção desde 2020 e permitiram, em razão disso, a inundação de grandes áreas de Porto Alegre. Para Rauber, as comportas são essenciais para o acesso aos Cais Mauá, Marcílio Dias e Navegantes, aos clubes náuticos e a toda região não protegida junto ao Rio Gravataí.

Na campanha, o prefeito está dizendo que não pretende recriar o DEP “porque em 50 anos não foi capaz de verificar os erros de Projeto do Sistema de Proteção”. O engenheiro contesta e afirma que o sistema de proteção foi construído com um projeto excelente, concebido por engenheiros alemães. Garante que é robusto, fácil de operar e manter. “Foi isto que o DEP fez, mesmo nos últimos períodos sofrendo de sucateamento, desde 1973, quando foi criado.”

“A sua extrema necessidade foi verificada pela necessidade de um amplo sistema de drenagem – mais de 40% da área urbana e alagável – e a urgente e permanente operação e manutenção do Sistema de Proteção. Legalmente é inadequado que estas atividades estejam no DMAE, porque este e constituído e opera exclusivamente com a nossa tarifa de água tratada e esgotos”, explica.

Outra questão defendida por Rauber é que o projeto de lei de criação da Secretaria de Drenagem e Estruturas de Proteção não só atende estas atribuições como atua integradamente com outros órgãos, evitando novos alagamentos.

Para concluir, o prefeito tem afirmado que o seu jeito de governar manda investigar quando há denúncias de corrupção. “A responsabilidade é das pessoas e não minha, referindo-se às corrupções no DMAE e SMED.” Pois é. A campanha eleitoral produz muitas análises e pontos de vista nem sempre de acordo com a realidade.

* Com informações extraídas do programa Atualidade da Rádio Gaúcha.


Edição: Katia Marko