Rio Grande do Sul

enchentes no RS

Profissionais atingidos por ataques divulgam nota de solidariedade e sugerem medidas preventivas

Encontro na Adufrgs mostra insatisfação com os rumos da Reconstrução do RS e propõe soluções com entidades locais

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Segundo os organizadores do ato, entre os ‘atacados’ estão profissionais do DMAE e da Metroplan - Silvia Fernandes

Entidades de técnicos e profissionais de várias áreas divulgaram nesta segunda-feira (2) nota de apoio aos porto-alegrenses sobre o Sistema de Proteção contra Inundações de Porto Alegre e desagravo pelos “ataques levianos e irresponsáveis” aos 48 profissionais que fizeram sugestões para recuperar a cidade no início da enchente em maio. O evento foi realizado no auditório da Adufrgs (Sindicato Intermunicipal de Professores das Instituições Federais de Ensino Superior do RS) e teve grande presença de público.

No documento, lido no local e com transmissão pelo Facebook, os profissionais voltaram a fazer sugestões para evitar futuras enchentes, repudiam “as agressões pessoais e inverdades” dirigidas às suas categorias profissionais e de trabalhadores. A nota divulgada concentra críticas à prefeitura por sua falta de ação, reforça propostas para evitar novas cheias, presta solidariedade aos moradores da Capital e evita polêmica com o relatório elaborado por técnicos holandeses e divulgado integralmente pelo DMAE no dia 24 de agosto. Manifesta apenas os recursos gastos na contratação dos holandeses, salientando que aqui há técnicos capazes e profissionais capacitados, "sem desmerecer outros profissionais". Segundo os organizadores, entre os ‘atacados’ estão profissionais do DMAE e da Metroplan.

Divulgaram a nota a Astec – Associação dos Técnicos de Nível Superior de Porto Alegre; FNA – Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas; Saergs – Sindicato dos Arquitetos no Estado do RS; Simpa – Sindicato dos Municipários de Porto Alegre; IAB – Instituto dos Arquitetos do Brasil, secção RS; e ABES – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária, secção RS. A organizadora do evento foi a Astec.

Confira a nota de apoio na íntegra:

“No contexto de Reconstrução do Rio Grande do Sul e ainda enfrentando os efeitos e as consequências das tragédias climáticas que se abatem sobre nosso Estado há oito meses, cabe, em primeiro lugar, a absoluta solidariedade com todos os atingidos pelas cheias, em especial àqueles que tiveram perdas de seus familiares e entes queridos, além dos que suportam a destruição total ou parcial de suas residências e locais de trabalho.

Devem continuar sendo criadas frentes de trabalho, geridas pelos entes públicos, para a limpeza, remoção de entulhos, adequações nas edificações atingidas, ou a serem construídas, para assentar os desalojados, criando possibilidades de ocupação e renda aos que estão dependendo de apoio e ajuda financeiras. 

A seguir cada município, com apoios estadual e federal, devem implementar planos de reassentamentos das áreas de risco, transformando estas em praças, parques e bosques. 

A reconstrução do nosso Estado deverá ser orientada a partir das recomendações constantes em estudos e propostas elaboradas por órgãos públicos, entidades, órgãos de pesquisa e instituições de ensino e empresas. Devem ser considerados trabalhos já existentes e todos os que se fizerem necessários, especialmente os relacionados à hidrologia e saneamento com seus planos e projetos. 

Medidas preventivas

Também devem ser elaboradas e implementadas medidas preventivas de sustentabilidade, incluindo a participação cidadã, especialmente nas atividades de ocupação do solo urbano, habitação e demais atividades humanas, bem como especial atenção às nascentes e matas ciliares em margens de águas, as várzeas e as encostas. Estes planos e medidas devem ser, de forma célere, debatidas e aprovadas nos Comitês de Bacias Hidrográficas, os quais precisam imediatamente ser reativados com atuação efetiva. 

Na região Metropolitana de Porto Alegre deverão ser articuladas medidas de proteção contra as enchentes, no âmbito da região hidrográfica do Guaíba, tratadas em conjunto com as demais regiões hidrográficas do Estado. No caso específico da nossa capital devem ser consideradas as recomendações do Documento Manifestação aos Porto-alegrenses sobre o Sistema de Proteção contra Inundações, especialmente as constantes no seu item 3. Assim que as Águas Baixarem, lançado por um grupo de 48 profissionais em 13 de maio de 2024, manifestação consistente e oportuna, da qual repudiamos ataques com agressões pessoais e inverdades dirigidas aos signatários, atingindo às suas categorias profissionais e de trabalhadores(as).

Documento de conhecimento da atual administração municipal, que demonstra a possibilidade de eficácia e suficiência (até o Morro da Assunção, ao sul da Cidade) do sistema de diques, comportas e bombeamento, a ser recuperado e mantido, observando as medidas do seu item 3 da referida manifestação, superando as tentativas de desqualificar os profissionais que formularam o diagnóstico e as recomendações.

As demais Bacias Hidrográficas do Estado, também duramente atingidas, deverão merecer estudos e propostas a serem implantadas, considerando suas peculiaridades. Complementar, com urgência, a implantação do Sistema Estadual de Recursos Hídricos com seus instrumentos e instâncias. 

Uso do Solo

Retomar o Planejamento do Uso e Ocupação do Solo em nível Regional e Municipal, considerando os Planos de Bacias Hidrográficas, as áreas de risco, a visão integrada metropolitana e regional. 

A apresentação dos respectivos planos, obras e ações, visando sua aprovação e liberação de recursos deve necessariamente estar acompanhada da informação de qual estrutura irá executá-los e mantê-los, bem como a apresentação de medidas preventivas e de sustentabilidade.

Retomar o Planejamento do Uso e Ocupação do Solo em nível regional e municipal, considerando os Planos de Bacias Hidrográficas, as áreas de risco, a visão integrada metropolitana e regional. 

Acelerar o processo de reforma urbana, o que é essencial à recomposição do espaço urbano, tornando-o resiliente a tais fenômenos. Bem como o de reforma agrária, o que é também essencial para qualidade de vida através de uma economia sustentável.

A apresentação dos respectivos planos, obras e ações, visando sua aprovação e liberação de recursos deve necessariamente estar acompanhada da informação de qual estrutura irá executá-los e mantê-los, bem como a apresentação de medidas preventivas e de sustentabilidade.”


Edição: Vivian Virissimo