Rio Grande do Sul

ELEIÇÕES 2024

'Eleitores querem um zelador eficiente para governar a sua cidade', afirma pesquisadora

Cientista política mostra cenários, diagnósticos e desejos da população para as eleições para prefeito

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Elis Radmann é fundadora do Instituto Pesquisas de Opinião (IPO) - Foto: Divulgação

Começa nesta sexta-feira (30) a propaganda eleitoral gratuita no rádio e tevê. Preste atenção no que vão dizer os/as candidatos/as a prefeito/a e seus marqueteiros para que você possa decidir e votar com tranquilidade e honestidade. Confira quais as suas principais preocupações com a população, do rico ao pobre, e veja se ele preenche as suas exigências. A saúde está legal? As ruas estão limpas e bem pavimentadas? O lixo é recolhido regularmente? Ele propõe soluções concretas para as cheias? A educação vai ser prioridade? A segurança estará garantida? O transporte anda ou está empacado?

São tantas as questões que o eleitor deve levar em conta que quase fica impossível pensar no candidato perfeito. Não tem. O prefeito que faz tudo com maestria e contente a todos não existe. Para a cientista social e política, socióloga e fundadora do Instituto Pesquisas de Opinião (IPO) em 1996, Elis Radmann, o essencial para o eleitor é que o/a candidato/a seja um ótimo zelador da cidade.

Este item está entre as principais exigências da população em pesquisas realizadas em mais de 100 municípios gaúchos que contrataram a IPO. “A zeladoria está entre os tops dois de quase todos os municípios. Ora está na frente da saúde, ora atrás, mas está na agenda”, disse ela em entrevista para a Coonline no Youtube, constituído por grupo de jornalistas de Porto Alegre, Santa Catarina e Brasília.

Ela também é colunista do portal dos jornalistas coletiva.net e lá expõe todas as questões que afligem eleitores e candidatos.

"Quando o eleitor fala em problemas de zeladoria ou de infraestrutura está falando de buracos nas ruas ou de ruas sem asfalto. Em algumas cidades a situação é ainda mais dramática. Em ruas de chão batido ou de saibro, se mantém o dilema mais clássico dos eleitores, comer pó em dias de sol e amassar barro em dias de chuva. E tem a tão temida valeta a céu aberto, que ainda vigora em várias cidades."

Voto cristalizado

Na pesquisa encomendada pelo Grupo RBS*, um detalhe chama a atenção: 53% das pessoas responderam que ainda podem mudar de candidato. Dos eleitores de Sebastião Melo em Porto Alegre, 51% disseram que a escolha é definitiva e 49% que podem mudar. Os de Maria do Rosário se dividem meio a meio. Já os de Juliana Brizola são os mais volúveis: 62% disseram que ainda podem mudar seu voto.

Elis Radmann afirma que a cristalização do voto é a tendência do eleitor mudar e se calcula dentro do percentual de votos. “Se temos, por exemplo, 12% que podem mudar entre 40% de votos, isto significa quase 5% da cidade, o que pode definir uma eleição polarizada.”

"Tecnicamente é uma cristalização alta. Em vários municípios da região Metropolitana este indicador chega a mais de 50% (pessoas que poderiam mudar). Quanto maior o indicador de cristalização, funciona a consistência do cenário e das intenções de voto. Em Porto Alegre, está ocorrendo uma disputa entre a continuidade e a mudança. Uma parte dos eleitores sabe que quer continuar e, outra, que quer mudar. Por isso, a tendência alta de cristalização."

Enchentes e alagamentos

Questionados pela Quaest sobre o maior problema que Porto Alegre enfrenta atualmente, 33% dos entrevistados responderam que se trata de enchente e alagamentos. Em segundo lugar, aparece o atendimento de saúde no município, com 13%. Em terceiro, aparece a segurança, com 12%, seguida de ruas mal-cuidadas (9%) e infraestrutura básica (7%). A educação vem na sequência, com 5%, e, depois, limpeza urbana e questões sociais, ambas alternativas com 4% cada.

Elis também relata que nesta questão de zeladoria, entra a dos alagamentos e a melhoria da estrutura de combate às cheias, especialmente nas cidades que estão na "mancha da inundação" da tragédia de maio/junho. “Esse tema tem um papel psicológico, pois está associado à sensação de segurança da população”, afirma.

"Em boa parte das cidades do Rio Grande do Sul, o eleitor quer um prefeito com capacidade de planejamento e pulso firme para fazer acontecer nesta área. A percepção sobre a eficiência dos candidatos será medida pelo discurso empático. Significa que o eleitor quer que um prefeito reconheça os seus problemas e mostre que tem uma solução exequível!"

Para a pesquisadora e diretora do IPO, o grande dilema está nas periferias, na ideia de que os prefeitos cuidam mais do centro do que dos bairros da cidade. “Há prefeitos tocadores de obras que estão empenhados em requalificar a cidade, com obras para todo lado e que podem perder a eleição se o adversário detalhar como irá fazer uma zeladoria eficiente, com um plano contínuo de manutenção das ruas, da limpeza, da iluminação pública e até mesmo do saneamento básico.” 

Saúde

Elis afirma que, no campo das pesquisas realizadas, a saúde pública será o grande tema das eleições municipais de 2024. “Quem utiliza o SUS, reclama da dificuldade de se fazer um check-up. O sonho de consumo desse público seria o SUS com um protocolo de consultas de rotina associado a exames específicos, de acordo com idade, sexo e históricos pessoal e familiar. Mas, quando uma pessoa procura um médico do SUS, ele diz que não tem necessidade, mostrando que a medicina preventiva não está na agenda”, ressalta.

O IPO identificou e diagnosticou que há, no mínimo, três grandes olhares do eleitor para idealizar o próximo prefeito. Confira:

a) A leitura da experiência anterior. O eleitor irá avaliar o que recebeu, se as entregas foram condizentes com as promessas e qual a capacidade de avançar com a situação;

b) O time mais preparado. É quase que um clássico, mas a governabilidade está sempre na avaliação dos eleitores, mesmo os que possuem baixo conhecimento de política. Os eleitores avaliam quais os partidos que estão apoiando o candidato, quais serão os seus vereadores e se o candidato terá trânsito fora da cidade;

c) Os atributos do candidato. Se ele tem capacidade de gestão para entregar o que oferece e conduzir o seu time. Por isso, o prefeito ideal precisa ter pulso firme, ser honesto, trabalhador, inteligente e ser próximo do povo.

“Em muitos casos, o eleitor sabe que não encontrará o tipo idealizado em sua cidade. Nestes casos as pesquisas de intenção de voto irão mostrar que o eleitor deseja que o menos ruim vença a eleição”, conclui Elis.

* Os números citados são da pesquisa contratada e paga pelo Grupo RBS e realizada com 900 pessoas, entre os dias 24 e 26 de agosto. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%. A pesquisa foi registrada no TSE sob protocolo RS-09561/2024.


Edição: Katia Marko