Quando aceitamos que sejam quem são, lhes damos um antídoto sem igual: confiança em si e na vida
Quando fiquei grávida do meu primeiro filho, me preparei com afinco para a sua chegada. Vi documentários e li muitos livros sobre gestação, parto, bebês... O que ainda não era palpável para mim é que, depois do nascimento, ele teria uma vida inteira pela frente.
Aos poucos, enquanto ele foi crescendo, comecei a me dar conta de que não se falava muito sobre isso no cotidiano. Claro que sobre educação recebi muita teoria, conselhos, comparações, críticas; mas pouco se conversava sobre o processo milagroso de acompanhar uma pessoa descobrindo a vida.
Depois disso tive mais três filhos e, com o passar do tempo, muitas outras crianças chegaram na família estendida da Nación Pachamama. O que já era essencial foi ficando urgente: abrir cada vez mais espaço para as crianças na nossa prática espiritual.
Nessa última década a infância, ao estar cercada pelo aceleramento de tudo, vem progressivamente sendo empurrada para o precipício da pressa: tudo tem que acontecer mais cedo e mais rápido. Em tempos de redes sociais, há muitas opiniões sobre o que é necessário na vida dos adultos e, claro, das crianças. Com tanto estímulo, não é de se admirar que até a infância esteja ficando mais curta. Exigimos demais das crianças e, ao mesmo tempo, queremos que estejam tranquilas e focadas, sendo que é a nossa cultura que as mantêm tão dispersas!
Então, como abrir espaço para que as crianças sejam crianças em um mundo tão enlouquecido?
Há muitas teorias sobre a infância, mas de todas fico com a mais antiga que há: as crianças já vêm prontas! Este estado de atenção e conexão que tanto desejamos é natural do ser humano, e uma criança tem isso dentro de si de forma muito potente. É muito mais fácil para uma criança voltar ao ritmo natural da Terra que para um adulto que está viciado nos seus próprios hábitos e opiniões.
Proteger a criançada é deixar que elas conduzam suas brincadeiras e se mantenham neste mundo encantado pelo tempo que quiserem. A infância não é apenas a fase em que crescemos e nos desenvolvemos, é o tempo em que aprendemos o que nos faz felizes! Nossa tarefa é deixar o campo livre para que explorem, descubram e experimentem, sem medo de errar.
Uma prática espiritual para crianças não precisa ensinar nada a elas, e sim dar oportunidade para que elas possam se expressar! Quando aceitamos que sejam quem são, lhes damos um antídoto sem igual: confiança em si e na vida. Elas voltam para o colo de Pachamama, de onde na verdade ainda nem saíram.
Sei que conseguir isso pode parecer difícil, ainda mais com tantas demandas para atender. Para começar, podemos buscar relaxar um pouco juntos em algum momento no dia a dia. Na vida atual há muita pressão para ser mães e pais impecáveis, com grandes expectativas. Embora seja bom querer ser a melhor mãe ou pai que podemos ser, sabemos que buscar a perfeição não é uma maneira eficaz de chegar lá. Propor objetivos viáveis nos incentivam a continuar.
Alguns pontos importantes para levar em conta são: dentro do possível diminuir as atividades, incluindo as das telas, deixando mais tempo livre para que inventem realidades a partir dos seus mundos internos – com disposição para entediar-se; dar os limites que as crianças pedem com seus comportamentos – aprender a escutar “não” é algo que lhes dá muita tranquilidade; deixar que sintam suas emoções e escutar o que têm a dizer dentro de um ambiente seguro, é benéfico para toda a família; além disso, estar presentes e disponíveis, sem tentar dirigir cada momento, pode nos surpreender.
E claro, se nos interessa que as crianças ao nosso redor vivam mais conectadas à Pachamama, isso será muito mais fácil se buscamos o mesmo para nós. Para isso, práticas de desintoxicação energética e alimentar, simplicidade mental-emocional e atenção consciente podem nos levar a uma versão melhor de nós mesmos, nunca perfeita, porém mais alinhada com a criança que temos dentro.
Com a chegada de setembro se aproxima mais um equinócio, com o convite da Escola Solar Andina a preparar-nos junto a toda a Existência para experimentar esta mudança de estações de forma integral. Os adultos embarcarão nos 21 Dias para Desfrutar a Plenitude dia 1º de setembro, uma prática ancestral da América Latina profunda, que encontrou uma grande comunidade de praticantes no Brasil e no mundo todo há mais de 20 anos.
E desde 2024, a Escola pariu a Pratikita para crianças, tecida em conjunto com os 21 Dias, incluindo os pequenos nessa preparação grupal para o equinócio. A edição de setembro se chama “Guia de brincadeiras para crianças que amam Pachamama” e convida a todos a desfrutar da infância de forma leve e sem cobrança.
Vamos explorar juntos uma pequena leitura diária, acompanhada por propostas de brincadeiras e desenhos para colorir. Escutaremos um conto com origem Mapuche, povo originário da Patagônia. Também teremos uma pequena meditação guiada em áudio, acompanhada de mantras e canções para cantar e dançar. Como “cereja do bolo”, um livrinho de receitas fáceis, gostosas e naturais para provar!
Quando fazemos um trabalho interno honesto, saímos um pouco da cabeça e voltamos ao corpo inteiro, que só quer brincar e amar Pachamama. Nos abaixamos ao nível maravilhoso das crianças, no ponto justo entre o céu e a terra. Voltamos, mesmo que por alguns instantes, ao nosso ser original.
Enquanto estivermos presos dentro das nossas lógicas, será impossível habitar a infância como o reino mágico que é e sempre foi, para cada um de nós. Este é o convite da Escola Solar Andina: voltar a desfrutar a plenitude e possibilitar que as crianças desfrutem também. As portas do parquinho estão abertas, dizer sim é o ingresso de entrada. Vamos brincar?
* Paloma Aguilar, maestra da Escola Solar Andina.
** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko