Rio Grande do Sul

AGRICULTURA FAMILIAR

A diversidade da Agricultura Familiar presente na 47ª Expointer

No primeiro dia do evento o Pavilhão da Agricultura Familiar registrou um total de R$ 1.020.554,50 em vendas

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Expointer segue até o dia 1º de setembro - Foto: Jorge Leão

Sementes crioulas, artesanato indígena, produtos da agricultura familiar, artesanal, vindos de várias regiões do Rio Grande do Sul, como de outros estados, estão presentes na 47ª Expointer, no Pavilhão da Agricultura Familiar. A feira que teve início neste sábado (24), na cidade de Esteio, Região Metropolitana de Porto Alegre, segue até o dia 1º de setembro. 

De acordo com a assessoria da Feira, no primeiro dia do evento o Pavilhão da Agricultura Familiar registrou um total de R$ 1.020.554,50 em vendas, um aumento de 11,48% em relação ao ano passado. Esta é a primeira vez que o espaço alcança esta marca, desde o seu início na Expointer, em 1999. As agroindústrias lideraram as vendas do espaço, somando R$ 813.313,90. Já o setor de artesanato, plantas e flores totalizou R$ 131.840,60. As cozinhas do Pavilhão faturaram R$ 75.400,00

Pela primeira vez no evento, a quilombola Reginara Verdum Siqueira, de Cachoeira do Sul, comenta que há cinco anos vinha tentando participar da Expointer. Em sua banca ela expõe seu trabalho de tricô, crochê e bonecos de pano. “Minha fonte de renda é especialmente voltada para o artesanato. Agora vou começar a trabalhar com produtos da terra, madeira, porongo. Também quero plantar aquelas sementes para fazer colar, como o colar olho de boi, Lágrimas da Nossa Senhora. Tudo isso eu estou trabalhando para que consiga chegar no meu sonho de ter bastante produtos da terra.”


Reginara Verdum Siqueira é quilombola, de Cachoeira do Sul / Foto: Jorge Leão

Já o Cacique Kaingang Darci Salvador, de Nonoai, trouxe o artesanato indígena pela segunda vez. Ele conta que conseguiu chegar à Feira com o apoio do Executivo municipal que fica na divisa de Santa Catarina. “Aqui trouxemos a cultura indígena. Porque nós não estamos competindo com ninguém. O nosso artesanato foi feito à mão. E estamos contentes de estarmos aqui.”


Cacique Kaingang Darci Salvador é de Nonoai / Foto: Jorge Leão

Assessora da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais (FETAEMG), Adriana Nascimento, veio para a Expointer juntamente com a delegação de Minas, trazendo cerveja, chope de Butiá, queijo mineiro, bananinhas, geleia de jaboticaba e também o café mineiro. “Para a gente é uma satisfação estar aqui. Temos como lema da Expominas, que é a esperança no campo. Os agricultores familiares que aqui estão, para eles essa feira representa um marco muito importante na agregação de valor, porque isso gera renda no campo e na cidade. De onde a gente vem a agricultura familiar é um dos principais eixos que traz também a movimentação financeira no município, perdendo apenas para os benefícios sociais que ali transitam.”


Adriana Nascimento veio de Minas Gerais / Foto: Jorge Leão

Diversidade da semente crioula 

Para o guardião da semente Tadeu Cardoso da Porciúncula, da Cooperativa dos Povos Tradicionais de Mostardas, a importância do Pavilhão da Agricultura Familiar é de ser um espaço para mostrar a sociobiodiversidade, assim como uma forma de alerta. “O quanto nós somos ricos nisso, só que não valorizamos. A gente tem o alimento em casa e a gente não sabe que isso é possível e é melhor do que consumir alguma coisa industrializada ou pré-industrializada. Nós somos um ponto de cultura lá em Mostardas. Trabalhamos com a cultura viva, com a cultura popular. Preservamos as sementes, principalmente o feijão sopinha que a gente herdou do povo negro. A gente preserva o milho catete e a mandioca figueira, uma mandioca de comer crua”, conta. 

Além disso, prossegue Tadeu, o pavilhão também serve como uma forma de demonstrar a preocupação com a questão ambiental, com a preservação das espécies. “Se a gente começar a fazer o uso do solo da forma que está aí, adubando só a planta, nós vamos ter muitos sérios problemas. Não estamos cuidando da vida do solo. Todos os alimentos que são produzidos, usamos nossos próprios insumos, nossos biofertilizantes. Isso mostra que a gente pode viver em harmonia com o ambiente sem desgastar e sem produzir alguma coisa que não vai saciar a fome. Esse pavilhão mostra isso, que a gente é diferente e temos que produzir de forma diferente.”


Tadeu Cardoso da Porciúncula, da Cooperativa dos Povos Tradicionais de Mostardas / Foto: Jorge Leão

"As sementes crioulas têm um diferencial em relação às outras sementes porque você vai produzir, vai se alimentar e vai guardar a semente pra plantar no próximo ano. Ela é sustentável e normalmente ela é produzida por pequenos agricultores. Elas não agridem o meio ambiente, e podem consorciar com vários tipos de plantas em uma única lavoura. E como é utilizado mais o adubo orgânico, não está agredindo o meio ambiente, e está contribuindo para melhorar cada vez mais o mundo. E esse é o futuro", complementa a também guardiã de sementes crioulas Marlete Sornberger, do município de Quinze de Novembro.


Marlete Sornberger é guardiã de sementes crioulas no município de Quinze de Novembro / Foto: Jorge Leão

Homenagem 

Nesta segunda-feira (27), o ex-deputado gaúcho e atual presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto, foi uma das pessoas que foram homenageadas por terem contribuído para garantir a presença e o protagonismo da Agricultura Familiar na Expointer. A homenagem foi simbolizada com a entrega de uma cuia com a inscrição comemorativa aos 25 anos do Pavilhão da Agricultura Familiar

Pretto recebeu a homenagem por ter criado a lei que facilitou a comercialização de produtos de origem animal fora do município de origem, por meio do Sistema Unificado de Sanidade Agroindustrial Familiar (Susaf), também conhecido como a Lei das Agroindústrias Familiares. Antes da lei, as agroindústrias tinham suas vendas restritas ao município. Com o Susaf, essa realidade mudou e elas puderam vender os seus produtos em todo o estado. 


O presidente da Conab, Edegar Pretto, recebeu homenagem por terem contribuído para garantir a presença e o protagonismo da Agricultura Familiar na Expointer / Foto: Catiana de Medeiros/Conab

O projeto foi apresentado no seu primeiro mandato como deputado estadual, em 2011. No mesmo ano, a lei foi sancionada pelo então governador Tarso Genro. Hoje, são 287 estabelecimentos credenciados e 175 municípios com adesão ao Susaf. Tendo como referência o Rio Grande do Sul, outros estados já possuem a mesma legislação, como é o caso do Paraná, Santa Catarina, Espírito Santo, Mato Grosso e Bahia. 

“Nós fizemos esse projeto com 12 audiências públicas pelo Rio Grande do Sul e o aprovamos por unanimidade na Assembleia. A Lei do Susaf permite, por exemplo, que as agroindústrias venham para a Expointer sem precisar de um decreto do governador autorizando elas a virem. Na prática, significa mais trabalho e renda no campo e acesso a alimentos de qualidade a quem está na cidade”, afirmou Pretto.

Além do presidente da Conab, também receberam a homenagem os ex-governadores Olívio Dutra e Tarso Genro; os ex-ministros do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, Guilherme Cassel e Pepe Vargas; a equipe da Secretaria da Agricultura do governo Olívio e famílias expositoras que participaram das primeiras edições da feira.

* Com informações da Ascom Expointer e Conab.


Edição: Katia Marko