Rio Grande do Sul

CINEMA

Filme indígena vence Mostra Sedac/Iecine de Longas Gaúchos

Cerimônia de premiação e homenagens com entrega de troféus ocorreu na noite desta sexta (16) no Palácio dos Festivais

Brasil de Fato | Gramado |
Premiados e homenageados da noite que celebrou o cinema gaúcho - Foto: Edison Vara/Agência PressPhoto

A noite de sexta-feira (16) do 52º Festival de Cinema de Gramado foi para reafirmar a força da produção audiovisual no Rio Grande do Sul. O Prêmio Sedac/Iecine destacou os vencedores entre os longas-metragens gaúchos em competição e ainda teve quatro homenagens a talentos cinematográficos do estado. A premiação entregou os troféus Kikito e R$ 55 mil em prêmios aos vencedores das 11 categorias.

Para Sofia Ferreira, diretora do Iecine, esta era uma edição necessária e revigorante para o evento, devido ao cenário de destruição que ficou da tragédia climática que ocorreu no RS, e iniciou parabenizando o evento: “São 52 anos de história, período que evidencia um legado, exige inovação e consolida um brilhante destaque no cenário brasileiro. Temos representantes de relevância nesses três eixos. São homenagens para celebrar a história do cinema do Rio Grande do Sul”.

“A Transformação de Canuto”, de Ariel Kuaray Ortega e Ernesto de Carvalho, foi escolhido o melhor filme da mostra e levou mais três troféus: Melhor Ator, Melhor Fotografia e Melhor Direção. O longa que retrata uma pequena comunidade Mbyá-Guarani entre o Brasil e a Argentina ainda recebeu o prêmio TV Brasil de Exibição, no valor de R$ 50 mil em licenciamento.

Ariel agradeceu o Coletivo de Cinema Mbyá Guarani do qual faz parte, as inspirações familiares, a aldeia e toda a equipe envolvida nos dois meses de rodagem na Comunidade Tamanduá, da Província de Misiones: “Não se faz filme sozinho, e nós fizemos com toda nossa comunidade”. O diretor contou que foram 5 anos até finalizar o título. Seu irmão, Ralf Ortega, roteirista do longa, afirmou: "O cinema tem todo poder de mudar o mundo. Viva o cinema indígena!".


Ariel agradeceu o Coletivo de Cinema Mbyá Guarani do qual faz parte, as inspirações familiares, a aldeia e toda a equipe envolvida / Foto: Edison Vara/Agência PressPhoto

Ariel Ortega ainda falou sobre a participação no Festival de Gramado: “Nossa, eu não sabia que era tão emocionante subir aqui. Aqui estão o meu sobrinho, que atuou no filme, meu irmão também, que foi o roteirista. Infelizmente, Ernesto de Carvalho, que é codiretor, não pode estar. Mais uma vez agradecer o meu avô, que foi dele que partiu a ideia para rodar o filme. Fico muito agradecido. Por esse espaço aqui, de nós, como realizadores indígenas, poder mostrar o nosso trabalho, juntamente com outros artistas aqui, diretores que não são indígenas, mas que também me inspiram muito desde que comecei a fazer audiovisual. Sempre escutei falar do festival há muito tempo, desde que faço filmes, há mais de 15 anos, mas parecia tão distante estar aqui, e agora é um sonho realizado. Obrigado!”.

A premiação da Mostra Sedac/Iecine ainda teve uma menção honrosa ao autor, diretor e ator Rafael Corrêa, de “Memórias de um Esclerosado”, por “compartilhar uma visão de mundo tão generosa, colorida, divertida, sem medo dos sentimentos bons e ruins que eclodem da exposição em forma de filme biográfico”. A produção ainda foi destacada como Melhor Trilha (André Paz), Melhor Som (Kiko Ferraz), Melhor Montagem (Jonatas Rubert e Thais Fernandes) e Melhor Roteiro (Thais Fernandes, Rafael Corrêa e Ma Villa Real).


Rafael Corrêa lembrou que no início do filme ele sonha que está voando e completou: “Agora eu estou voando” / Foto: Edison Vara/Agência PressPhoto

Autor, diretor, biografado e ator do documentário híbrido, o cartunista Rafael Corrêa, que é PcD (Pessoa com Deficiência) agradeceu a colocação do elevador de acesso ao palco com a cadeira de rodas para que pudesse estar no mesmo nível das colegas. Também lembrou que no início do filme ele conta que sonha que está voando e completou: “Agora eu estou voando”, sobre receber os prêmios e ter o trabalho reconhecido.

Já Ma Villa Real passou a mensagem: “O que posso dizer é que dois roteiristas são pessoas com deficiência. A minha deficiência é invisível, eu tenho autismo. Acho que isso é um avanço para o Festival de Gramado. Aqui está todo mundo atento às questões que precisam ser pautadas, que representatividade importa e que a gente trabalha bem!”.

Antes de entregar o Kikito de Júri Popular para “InfiniMundo”, Germana Konrath (diretora do Departamento de Artes e Economia Criativa da Sedac/RS) resgatou as ações específicas de fomento audiovisual que vêm ganhando muita força nos últimos anos no nosso estado e destacou uma nova iniciativa para “traçar o perfil atual do segmento e também entender a complexidade desse quadro delicado que o RS enfrenta após as enchentes, com o objetivo de propor políticas públicas assertivas e coerentes com a realidade atual da indústria audiovisual”. A consulta está disponível para os realizadores no site da Sedac e no Instagram, na bio do Iecine (@ieciners).

Confira a relação completa dos vencedores ao final do texto.

Noite dedicada ao cinema gaúcho


Ale Mattos recebe Prêmio Destaque das mãos da diretora do Iecine, Sofia Ferreira / Foto: Edison Vara/Agência PressPhoto

Antes da entrega dos Kikitos, a noite desta sexta-feira (16) coroou a trajetória de quatro talentos gaúchos no audiovisual brasileiro, com a entrega dos Prêmios Iecine e do Troféu Leonardo Machado. Em memória do ator gaúcho e apresentador do Festival de Gramado, o afetuoso prêmio que leva seu nome, como definiu a diretora do Iecine, Sofia Ferreira, premiou o ator e diretor porto-alegrense Nelson Diniz. Com mais de 60 trabalhos realizados na tela grande, ele começou sua carreira no cinema com o clássico gaúcho “Anahy de Las Missiones”.

Diniz foi padrinho do projeto Educavídeo nesta edição do Festival de Gramado, elogiou e desejou “vida longa” à continuidade da iniciativa. O ator lembrou da amizade e generosidade do saudoso colega, saudando sua companheira e seus pais. O troféu foi dedicado ao irmão Sérgio Diniz, que sempre lhe questionava como era possível guardar tudo que tinha que dizer toda vez que lhe via no teatro, no cinema, na televisão: “Esse era o grande mistério pra ele. Então é isso, meu irmão. Tem dias que a gente não precisa guardar tudo que a gente tem pra dizer. A gente simplesmente abre o peito, abre o coração, e recebe a resposta que a vida nos dá”.


Com mais de 60 trabalhos realizados na tela grande, Nelson Diniz começou sua carreira no cinema com o clássico gaúcho “Anahy de Las Missiones” / Foto: Edison Vara/Agência PressPhoto

Os Prêmios Iecine foram divididos em três categorias (Legado, Inovação e Destaque). Destaque foi entregue a Alexandre Mattos Meireles, membro-fundador da Moviola Filmes e membro do Macumba Lab – Coletivo de Profissionais Negres do Audiovisual do RS, que agradeceu seus colegas de Pelotas e do coletivo: “Trabalhamos fazendo milagres sempre buscando a inserção de profissionais pretos no audiovisual”.

Aletéia Selonk, sócia-diretora e produtora executiva da Okna Produções, recebeu o Prêmio Inovação ao lado dos filhos, João e Maria: “Para mim, essa distinção neste ano foi uma surpresa, uma grande alegria. Falar de um reconhecimento como esse me faz pensar na minha verdadeira paixão pelo cinema, o encantamento pela produção audiovisual, pela produção criativa, essa modalidade na qual eu me defino e eu realizo”.

Diretor, produtor e animador com quatro décadas de trabalho no setor, José Maia recebeu o Prêmio Legado das mãos do amigo e antigo sócio, Otto Guerra: “Estou muito emocionado com esse prêmio da Sedac/Iecine, que tantas vezes apoiou a animação aqui no Rio Grande do Sul. Vários projetos que participei dentro e fora da Otto Desenhos foram apoiados pelo Instituto. E me sinto honrado mesmo por merecer essa distinção”.

Vencedores da Mostra Sedac/Iecine de Longas Gaúchos:

Melhor Filme
“A Transformação de Canuto”, de Ariel Kuaray Ortega e Ernesto de Carvalho

Melhor Direção
Ariel Kuaray Ortega e Ernesto de Carvalho, por “A Transformação de Canuto”

Melhor Ator
Fabricio Alvaro Benitez, por “A Transformação de Canuto”

Melhor Atriz
Cibele Tedesco, por “Até que a Música Pare”

Melhor Roteiro
Thais Fernandes, Rafael Corrêa e Ma Villa Real, por “Memórias de um Esclerosado”

Melhor Fotografia
Camila Freitas, por “A Transformação de Canuto”

Melhor Direção de Arte
Adriana do Nascimento Borba, por “Até que a Música Pare”

Melhor Montagem
Jonatas Rubert e Thais Fernandes, por “Memórias de um Esclerosado”

Melhor Desenho de Som
Kiko Ferraz, por “Memórias de um Esclerosado”

Melhor Trilha Musical
André Paz, por “Memórias de um Esclerosado”

Júri Popular
“InfiniMundo”, de Bruno Martins e Diego Müller


Edição: Katia Marko