Rio Grande do Sul

CINEMA

‘Fiz as coisas boas na época em que elas eram boas’, diz Vera Fischer em Gramado

Atriz recebe homenagem do Festival de Cinema nesta quarta-feira (14) na Serra Gaúcha

Brasil de Fato | Gramado |
Atriz conversou com a imprensa sobre novelas, filmes, memes e trajetória pessoal - Foto: Edison Vara/Agência PressPhoto

Eterna musa do audiovisual brasileiro, a atriz Vera Fischer recebe na noite desta quarta-feira (14), o Troféu Cidade de Gramado, durante a realização da 52ª edição do Festival de Cinema na Serra Gaúcha. A artista catarinense concedeu uma coletiva de imprensa nesta tarde, falando sobre sua trajetória pessoal no cinema, teatro, novelas, memes de internet e planos para o futuro.

Filha de Emil e Hildegard Fischer (pai alemão e mãe que era filha de alemães), Vera cresceu em Blumenau (SC), onde morou quando criança e adolescente e assistiu os primeiros filmes ao lado da família. Dessa forma conheceu o cinema alemão, italiano e francês. Nessa época, queria ser bailarina clássica e arqueóloga.

Atos 72 anos, a carreira da artista no cinema tem praticamente o mesmo tempo que a duração do Festival de Gramado. Foi Miss aos 17 e começou a atuar com 20.

“Tenho orgulho de falar que fazia pornochanchada. Acho que é um clássico dizer que fiz parte desse movimento mais aberto dentro desse período, um pequeno segmento, que foi muito vigiado pela censura durante o período da ditadura, especialmente no governo Médici. Não me senti estigmatizada, não”, reflete a atriz.

No entanto, Vera lembra que só se sentiu artista de verdade, se entendendo e acreditando atriz, a partir dos 25 anos de idade, depois de lançado o longa “Intimidade” (1975), de Michael Sarne.

“Eu e meu primeiro marido (Perry Salles) tínhamos o sonho de produzir um filme, vendemos o nosso apartamento. A Embrafilme não quis colocar dinheiro porque era um cineasta estrangeiro. Eu ainda não tinha habilidade, jogo de cintura para improvisar, mas o diretor queria. Tive que buscar coisas dentro de mim que estavam adormecidas. Ninguém esperava isso da Vera Fischer. E foi um sucesso de crítica. Pra mim, foi uma lição, posso fazer, gostaram de mim. Era uma história de uma mulher que foi muito massacrada pela mídia, que foi mais ou menos o que aconteceu comigo.”

Na década seguinte, já trabalhou com Walter Hugo Khouri, fazendo parte do elenco de Amor Estranho Amor (1982), por exemplo: “Ele foi me buscar dentro da Globo para fazer a figura central de um bordel, nos anos 1980, em meio a reuniões de homens políticos. E foi estreia da Xuxa no cinema, que deu aquela polêmica toda...”. Ainda interpretou personagens em filmes de Cacá Diegues (“Quilombo, 1984) e Sérgio Rezende (“Doida demais”, 1989).

“Receber essa homenagem aqui, ainda mais depois dessa tragédia que aconteceu no RS, fico feliz, honrada e comovida. Há muito tempo frequento o Festival de Gramado, e achei que não ia ter neste ano. Foi uma surpresa”, respondeu sobre o Troféu Cidade de Gramado.

Durante a entrevista, a musa lembrou das novelas Coração Alado, Laços de Família e da série Desejo. “Em televisão, acho que fiz as coisas boas na época em que elas eram boas (minisséries, novelas, programas). Não tenho mais vontade de fazer novelas; séries, streaming, filmes, sim! Me chama! Eu quero muito fazer cinema”, afirmou.

A artista ainda contou que há a intenção de fazer uma série ou filme documental sobre a sua vida ou, talvez, até algo na ficção. “Lancei já quatro livros e tenho mais 10 prontos, escritos, que poderiam ser adaptados para o audiovisual.”

Vera, depois de narrar toda sua trajetória, ainda foi perguntada sobre o que diria para ela mesma menina tendo já toda a experiência de hoje. Ela disse que a mesma coisa que repetiu para si própria antes dos concursos de beleza: “Mentalizei que eu ia ganhar, não pela beleza, mas pela postura. Fui Miss Blumenau, Miss Santa Catarina e Miss Brasil. Depois disso, repeti que ia continuar caminhando para vencer. Aquela menina é esta mulher!”.


Edição: Katia Marko