A produção audiovisual contemporânea da Amazônia acaba de alcançar um marco histórico: pela primeira vez, um documentário longa-metragem do Pará chega ao Festival de Cinema de Gramado. O título “Mestras” está entre os cinco selecionados da mostra de longas documentais, que recebeu cerca de 150 obras inscritas.
As simpáticas diretoras (a cantora Aíla e a artista visual Roberta Carvalho) estão na Serra Gaúcha enaltecendo este feito com o público do evento. A produção delas lança luz sobre o protagonismo de artistas mulheres que têm papel fundamental na propagação e manutenção das tradições culturais da região Norte do Brasil.
O documentário será exibido no Canal Brasil nesta terça-feira (13), às 20h20min. Realizado pela produtora 11:11 ARTE, o projeto conta com o patrocínio Natura Musical via Lei de Incentivo à Cultura Semear, Fundação Cultural do Pará, e Governo do Pará.
Em sua pesquisa, as diretoras mapearam diversas mestras do Pará. O documentário passeia por vertentes distintas da música do Pará – como o samba de cacete, com a Mestra Iolanda do Pilão; o boi, com a Mestra Miloca; e o carimbó, com a Mestra Bigica, do grupo Sereia do Mar.
A famosa cantora Dona Onete participa contando episódios significativos de sua história: ela gravou o primeiro disco aos 73 anos de idade e é hoje uma das referências da música paraense no Brasil e no mundo.
Para Roberta, “registrar as trajetórias das mestras da música popular é um posicionamento político e de ativismo cultural, já que estamos falando sobre as tantas invisibilidades passadas por mulheres. Elas são guardiãs de tradições ancestrais que têm um papel fundamental na identidade cultural do Pará e da Amazônia como um todo”. Ainda na visão da diretora e artista visual, a obra colabora para que possamos ouvir essas histórias, conhecimentos e músicas – e, mais importante: “que isso seja preservado e transmitido para as futuras gerações, fortalecendo nosso patrimônio cultural”.
Adanilo e sua terra
O simpático e talentoso ator manauara Adanilo esteve em Cannes em 2023 com “Eureka” e em Gramado em 2022 com “Noites Alienígenas”, tendo arrancado do júri oficial, neste último, uma menção honrosa pela sua participação, com a seguinte justificativa: “pela excelência da construção da linha do personagem e interpretação”. As palavras não são muito específicas, mas importa de quem veio: os jurados naquela edição, comemorativa de 50 anos, eram Bete Mendes, Luiz Carlos Lacerda (Bigode), Renata Magalhães, Sabrina Fidalgo e Tarcísio Filho.
“Noites Alienígenas”, naquela ocasião, era o primeiro filme do Acre que chegava ao evento da Serra Gaúcha. Assim como agora tem o primeiro documentário em longa-metragem do Pará no festival.
Adanilo tem ficado mais conhecido do público em geral por ter participado neste ano da primeira fase do remake da novela Renascer, da Globo. Ele fez um dos papéis mais importantes dessa etapa, tendo sido um dos amigos fiéis do Coronelzinho Zé Inocêncio. O manauara interpretou Deocleciano jovem, papel agora defendido pelo veterano e admirado Jackson Antunes.
O ator também tem no currículo do audiovisual o longa “Marighella” e as séries “Dom”, “Cidade Invisível” e “Um Dia Qualquer”. Adanilo ainda estará na próxima novela das 19h da TV Globo. Ele foi escalado para interpretar Sidney em “Volta por Cima”, com estreia prevista para o segundo semestre de 2024.
O multiartista – que nas redes sociais se apresenta como originário (indígena), manauara, ator, dramaturgo e diretor – já lançou dois curtas e estreou dois espetáculos sob sua direção.
Na 52ª edição do Festival de Gramado, Adanilo comparece em dose dupla, mas virtual, justamente porque está gravando já para a Globo o próximo folhetim. Na noite desta segunda-feira (12), foram exibidos o longa “Oeste outra vez” (espécie de western rodado na Chapada dos Veadeiros), do qual ele integra o elenco (interpretando o assistente de um matador), e o curta “Castanho”, escrito e dirigido por ele.
“Sério, hoje foi um dia importante, para mim, pelo menos. Acho que, além disso, é um motivo de orgulho para o cinema do Amazonas e para os artistas do Norte. A gente sofre preconceito e quando a gente vê nosso trabalho acontecendo, fica feliz, contente. Eu tô muito realizado”, disse o multiartista em live no seu perfil de Instagram ontem à noite.
Seu título em curta-metragem já tinha sido selecionado pelos festivais KinoFórum, Olhar do Norte, Guarnicê (Maranhão) e Festival do Rio. Entre os elementos naturais e costumes culturais típicos da região, em Cachoeira do Castanho, no interior do Amazonas, “Castanho” traz como protagonista a argentina María, que se divide entre duas vidas: na comunidade, onde convive com Dona Belém e seu filho, Cícero, e nas viagens suspeitas que realiza.
Edição: Katia Marko