Artistas do grafite se reuniram neste sábado (10) para fazer uma intervenção artística na fachada do centro cultural Casaverso, na Cidade Baixa em Porto Alegre. Chamada de “Retomada”, a intervenção marca o retorno das atividades do espaço, que foi inundado pela enchente de maio, e traz obras que abordam a calamidade, inclusive reinterpretações de trabalhos críticos à gestão do prefeito Sebastião Melo (MDB) que foram apagados recentemente.
Um desses trabalhos é a arte de autoria do ilustrador Bruno Ortiz, pintada no início de julho pelo grafiteiro Filipe Harp no muro da Praça Argentina, no Centro Histórico, mas foi coberto por uma tinta azul. A obra traz o prefeito Melo, só do nariz para cima, se afogando numa água marrom. Um dia após ser apagada, a frase “Melo chinelão” apareceu pichada no mesmo muro. A pichação também foi apagada, uma nova frase — “Da memória ninguém apaga” — sendo pintada no local.
Neste sábado, Harp pintou uma reinterpretação da obra no muro da Casaverso, com o nariz da caricatura do prefeito sendo colocado na altura que a água alcançou no prédio.
“Esse trabalho teve uma censura, foi apagado, e a ideia era representar o que o Rio Grande do Sul estava enfrentando com as enchentes, o descaso, e aí eu decidi relatar essa figura ilustre. Foi apagado e agora a gente teve a oportunidade de fazer a releitura do trabalho. Vamos ver o que pode acontecer, tomara que fique”, diz o grafiteiro, que foi morador do bairro Sarandi, um dos mais afetados pela enchente na Capital. “A importância da arte é relatar e denunciar os problemas sociais, e esse é o nosso papel como artista”.
Coordenador artístico da Casaverso, João Pedro Marques, conhecido como O Bardo, destaca que nove artistas participaram da intervenção, com outros “orbitando” e juntando ao projeto ao longo do dia. “A nossa ideia é retomar não só as atividades da casa, mas também retomar a arte para Porto Alegre, a cultura, que há muito tempo está tentando abafada e censurada. A gente está aqui para dizer que isso não vai acontecer e, se depender da gente, Porto Alegre segue viva, Porto Alegre segue vibrante”, diz.
Já a grafiteira Ana Scarceli destacou que a ideia dos artistas foi de se unirem para realizar um mural de protesto na fachada do espaço cultural. “Um protesto leve que, além de trazer reflexão, vai trazer um pouco de beleza para a rua”, diz. “É super importante essa retomada dos artistas pós-enchente. Eu acredito que a arte é uma grande aliada para destacar causas importantes e reflexões para a população”, finaliza.
As obras abordam temas como o racismo ambiental, a falta de organização e cuidado, a gentrificação, a ineficácia de administração dos setores recém-privatizados, a violência, entre outro. Os artistas que participaram da ação foram Celopax, Tio Trampo, Sibely Santos, Soul Chamb, Leandro Alves e Reis, entre outros.
A Casaverso funciona há três anos como sede da Escola de Criminalistas e também como palco para diversos eventos culturais na Rua José do Patrocínio, 698. Já o prédio tem 100 anos de história é já recebeu grandes atividades culturais porto-alegrenses. A reabertura das portas do centro cultural ocorre justamente neste sábado.
Edição: Sul 21