Rio Grande do Sul

ELEIÇÕES URUGUAIAS

Frente Ampla define metas de governo, propõe mudanças e busca unir o país

Candidato Yamandú Orsi diz que fará campanha limpa e honesta e que pretende unir toda a população do Uruguai

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Yamandú Orsi é professor, tem 57 anos e é ex-prefeito de Canelones, sua vice será Carolina Cosse - Foto: Divulgação

A Frente Ampla está pronta para superar os candidatos dos tradicionais partidos Nacional e Colorado nas eleições presidenciais do Uruguai no dia 27 de outubro. Yamandú Orsi é professor, tem 57 anos e é ex-prefeito de Canelones. Ele é um dos herdeiros políticos de José Pepe Mujica, um dos ícones da esquerda do país, ex-guerrilheiro dos Tupamaros, ex-presidiário por 11 anos no tempo da ditadura e ex-presidente do país.

Orsi está na frente nas pesquisas e muito otimista com a retomada do poder, hoje nas mãos de Luis Alberto Lacalle Pou, direitista e integrante do Partido Nacional. As eleições, afora as provocações naturais, devem ser civilizadas, democráticas, como é tradição uruguaia. Conflitos, polos de divergências irreversíveis estão fora de cogitação, conforme alertam especialistas e colunistas políticos de Montevidéu.

O candidato sabe que receberá apoio dos partidos de esquerda do Brasil, tem convicção da sua liderança atual e vem pedindo nas suas redes sociais muito trabalho, cuidados, paciência e mínimas provocações. Carolina Cosse, que perdeu a eleição para a escolha do candidato presidencial, será a sua vice. Vão concorrer contra Álvaro Delgado e Andrés Ojeda, do Nacional e Colorado. Na votação de outubro também serão definidas as vagas de 30 senadores e 99 deputados.

O vencedor das eleições do Uruguai vai encontrar um país estável e em boa situação econômica. É um dos mais desenvolvidos da América do Sul, com um dos maiores PIB per capita do continente, com bom índice de qualidade de vida e em qualidade de vida/desenvolvimento humano na América Latina, quando a desigualdade é considerada. 

Caracterizada como uma coalizão eleitoral populista, a Frente Ampla, fundada em 1971, une democratas, anti-oligárquicos, anti-imperialistas, antirracistas, trotskistas, comunistas e leninistas. Tem espaço para todas as tendências, inclusive para os ex-guerrilheiros tupamaros, legalizados em 1985, o mais combativo grupo na luta contra a ditadura uruguaia nos anos 70 e 80.

Derrotada nas eleições de 2019 para Lacalle Pou, a Frente Ampla está recuperada do revés. Fez processo de autocrítica, ampliou as suas bases e promoveu uma renovação de lideranças. O processo de condução da definição do candidato presidencial consolidou-se através de uma forma participativa e em estreitos laços com todos os setores da sociedade. Numa região em que as forças políticas de esquerda se mostram dependentes da figura dos seus líderes (Brasil), estão fragmentadas e têm dificuldades de mediar e canalizar as demandas da sociedade (Chile), ou vivem fraturas internas (Bolívia), a Frente Ampla aparece como um partido de esquerda resiliente.

Frente Ampla busca apoios internos e externos

No lançamento de sua candidatura, Yamandú Orsi disse que o comprometimento e a militância foram fundamentais para a união da Frente Ampla. “A nossa Frente é ampla, é uma força diversa e progressista e que busca representar quem faz o trabalho e a solidariedade, razão da nossa luta diária. Mas também é ampla na sua visão de transformar, de mudar tudo o que for necessário para o bem-estar do nosso povo. Nós somos a mudança, buscamos a mudança que está longe de ser entendida como uma demolição, não vamos cair na armadilha de quem vem para refundar tudo, começando tudo do zero.”

Orsi também salientou que no exercício da campanha eleitoral o partido ganhará mais apoio. “Crescer sempre, tendo como ponto de partida os nossos valores e, a partir desses valores, entendo que o nosso guia deve continuar a ser o triunfo da honestidade na gestão dos assuntos públicos. Honestidade é a essência, é integridade, é retidão, é ética, é transparência iluminando nossas ações, é permanecer firme diante dos excessos, diante da arrogância, honestidade é ser intransigente com a corrupção”, afirmou.

Uma das plataformas mais fortes de Orsi é reafirmar o compromisso de não promover ou permitir que sejam promovidas notícias falsas. “Temos compromisso com a verdade, banir a mentira como instrumento de debate na democracia, assumir a responsabilidade de reconhecer as dificuldades, não negá-las ou escondê-las.” E garantiu que vai lutar contra a pobreza infantil, a insegurança, os problemas de saúde, especialmente na área de saúde mental e a falta de perspectivas de crescimento econômico. “Nada disto pode ser resolvido com promessas ou com anúncios de um futuro prometido. Se resolve com muito trabalho e com o compromisso ético com a verdade”, ressaltou.

Destacou que o que precisa para ser vitorioso é contar com apoios internos e externos. “Temos uma Frente Ampla unida, que garante o caminho para o futuro e para a vitória em outubro, mas sabemos que precisamos de mais apoios, precisamos de mais pessoas para se juntar a nós. Precisamos de união para vencer, para governar, e para unir o Uruguai para mudar. Não vamos governar para uma parte do país, vamos governar para todos. Devemos banir a ideia de que quem ganha esmaga o outro, proponho unir o Uruguai, unir a Capital com o Interior, o país rural agrícola com os serviços e indústrias das nossas cidades, devemos unir a nossa história com o nosso futuro”, enfatizou.  “Aqueles que esperam pelo desaparecimento, implosão ou fratura da Frente Ampla podem continuar sentados e esperar.”

* Com AFP e intendência de Canelones.


Edição: Katia Marko