A vitória do campo democrático-popular em Porto Alegre é possível, urgente e necessária
Porto Alegre tem história para quem participou e viu, ao longo do tempo, florescer a luta contra as ditaduras, por liberdade e democracia, sua população de braços dados com sua beleza de uma cidade feliz, democrática, com participação popular, com justiça social, nas mobilizações de todos os dias e no esperançar de Paulo Freire.
É o que se quer e procura fazer acontecer de novo em 2024, depois de anos de sofrimento, especialmente nos últimos meses, de desprezo por sua história, de falta de cuidado com a Casa Comum porto-alegrense, com o bem-estar do seu povo e sua cultura democrática. É preciso resgatar a Porto Alegre das canções imortais do Lupi, Lupicínio Rodrigues, plantadas nos corações e cantadas nos bares, ruas e vielas por sua gente amorosa.
Nossa-minha Porto Alegre, nosso-meu bem comum, que conheci em 1971, morando na Vila Franciscana, Rua Frei Germano, bairro Partenon. Depois, segunda metade dos anos 1970 e nos 1980, morando na Lomba do Pinheiro, Vilas São Pedro e Santa Helena, paradas 13 e 12, meio Viamão, meio Porto Alegre. E a partir da segunda metade dos anos 1980, morando entre os Bairros Independência, Bom Fim, Farroupilha, ao lado da Redenção, Colégio Rosário, Assentamento 20 de Novembro e da Igreja da Pompéia. É quase uma vida inteira, mais de 50 anos, participando de suas lutas, das ocupações urbanas, das greves, atuando na educação popular, no Orçamento Participativo, no DEMHAB, nos Fóruns Sociais Mundiais, sendo deputado estadual constituinte e mil coisas mais. É esta a minha-nossa Porto Alegre do coração e da vida.
As eleições 2024 estão aí, à porta. Os tempos estão difíceis? Estão. A conjuntura está complicada? Muitíssimo. Que fazer?
É preciso conversar, conversar muito, reunir companheiras e companheiros, entender o momento, combinar ações e ideias comuns. Foi o que o Centro de Assessoria Multiprofissional (CAMP), fundado em Porto Alegre, em 1983, há mais de 40 anos, fez dias 2 e 3 de agosto, no Ciclo de Debates sobre ‘Mudança Climática e a Democracia, Porto Alegre, nosso Bem Comum’.
Dia 2, houve um debate com presença de mais de centena de companheiras (os) no Plenarinho da Assembleia Legislativa. E com convidados especiais: Francisco Milanez, falando sobre as mudanças climáticas, Betânia Alfonsin, falando sobre as cidades e o problema urbano, Olívio Dutra, falando sobre a democracia, o Orçamento Participativo e os tempos atuais.
Destacou Francisco Milanez: “Temos que investir hoje em replantar as florestas, as matas ciliares, revisar a nossa agricultura para o bem dos próprios agricultores.”
Enfatizou Betânia Alfonsin: “Porto Alegre pulsa, é solidária, tem cultura de auto-organização e precisamos nos reconhecer, resgatar essa cultura política, com um projeto que vai lembrar à população que Porto Alegre é nosso bem comum, e implantando de forma radical o direito à cidade.”
Nas palavras de Olívio Dutra: “Nós queremos a construção coletiva e solidária das coisas, inclusive da política. Essa construção coletiva não elimina a individualidade. A democracia não é um catecismo, uma obra pronta. É uma obra aberta e precisa ser sempre aperfeiçoada. Eu acho que aquela semeadura do Orçamento Participativo, ela pode ser retomada, aprofundada, aperfeiçoada e radicalizada.”
Como representantes dos movimentos populares, manifestafestaram-se Ceniriani Vargas, a Ni, do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLN), André de Jesus, do Ponto de Cultura TV Restinga e do Comitê de Cultura RS, e Lisbet Santos Pinheiro, pelo Fórum de Mulheres Negras da Economia Solidária
Dia 3 de agosto, sábado, na FACED/UFRGS, aconteceram os GTs, Grupos de Trabalho, com as Rodas de Conversa, em cinco grupos diferentes: 1. Porto Alegre e o acesso aos bens públicos comuns e essenciais à vida: acesso à água potável, direito à moradia e mobilidade urbana. 2. Uso do Território porto-alegrense: espaços públicos e de lazer, direito à moradia e mobilidade urbana. 3. Cidade segura: segurança urbana e a defesa, efetivamente civil. 4. Desenvolvimento justo e solidário: por outra economia popular e humana. 5. Porto Alegre, cidade viva: produção criativa e cultural.
Assim foram os dois dias de reflexão, com participação de militantes, educadoras e educadores populares de Porto Alegre e cidades da Região Metropolitana, onde os problemas e necessidades são semelhantes e a urgência é igual.
Dia 16 de agosto, sexta-feira, 18h, no Plenarinho da Assembleia Legislativa, os resultados e propostas de todas as reflexões e dos debates serão apresentadas e consolidadas em Plenária geral. Na sequência, aberta oficialmente a campanha eleitoral, serão entregues a todas as candidatas e candidatos de Porto Alegre e outras cidades e suas coordenações de campanha. Servirão de reflexão e subsídio para as campanhas e de cobrança para o futuro, caso eleitas (os).
É preciso pensar, é preciso agir. É mais que hora de recuperar Porto Alegre para suas cidadãs e seus cidadãos, fazer renascer a democracia e a participação popular.
A vitória do campo democrático-popular em Porto Alegre é possível, quanto urgente e necessária, na retomada do Orçamento Participativo (OP), e com a mais ampla participação social nas políticas públicas e a retomada do espírito do Fórum Social Mundial.
Viva Porto Alegre, nosso Bem Comum!
* Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
Edição: Vivian Virissimo