Rio Grande do Sul

ELEIÇÕES 2024

Por conta das cheias, Sebastião Melo vira alvo no primeiro debate eleitoral em Porto Alegre

Colapso da cidade foi o tema crucial, mas educação, transporte e saúde também entraram na discussão

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Chapas encabeçadas por Maria do Rosário e por Sebastião Melo lideram todas as pesquisas de intenção de voto - Fotos: Mario Agra/Câmara dos Deputados e e César Lopes/PMPA

O primeiro confronto entre quatro pré-candidatos à prefeitura de Porto Alegre (RS) começou como era esperado: com o atual prefeito e pré-candidato à reeleição, Sebastião Melo (MDB), sendo cobrado pela falência do sistema de proteção da cidade durante a enchente de maio que arrasou o centro histórico e vários bairros, trazendo danos bilionários e expulsando milhares de pessoas de suas casas. A cobrança iniciou com Juliana Brizola (PDT) e Maria do Rosário (PT), enquanto Melo procurava se esquivar e jogar o problema para antigas gestões e o governo federal. 

Apenas quatro dos sete pré-candidatos participaram do encontro promovido nesta terça-feira (06) pela rádio Gaúcha: Rosário, Juliana, Sebastião Melo e ainda Felipe Camozatto (Novo). Foram excluídos Fabiana Sanguiné (PSTU), Carlos Alam (PRTB) e Luciano Schafer (UP), cujas siglas não tem representantes no Congresso Nacional. Separado em quatro blocos, o debate durou duas horas.

Juliana responsabilizou Melo pelo desastre, quando as comportas do muro da avenida Mauá vazaram e as panes em sequência nas casas de bombas inundaram até bairros distantes do rio Guaíba como o Menino Deus. O prefeito tratou os questionamentos como “politicagem”.

Falhas nas bombas é “narrativa ideológica”

Seguindo a estratégia de socializar as responsabilidades, argumentou que o sistema é antigo, da década de 1960 e que, desde então, passaram 13 prefeitos pelos governo municipal, não esquecendo de tachar como “narrativa ideológica” as críticas à manutenção das casas de bombas que travaram. 

Rosário reforçou as críticas e prometeu tratar melhor o sistema de proteção contra as enchentes. Disse que os problemas começaram quando o ex-prefeito Nelson Marchezan Junior (PSDB), em 2017, extinguiu o Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) que cuidava da defesa contra as inundações. Explicou que a capital gaúcha recicla apenas 1,5% do seu lixo, com o restante indo parar dentro dos bueiros e agravando as inundações. A gestão pública foi sucateada “atrás da lógica da privatização e da terceirização”, atacou.

“Vamos olhar para o futuro”

Pressionado, Melo tentou driblar suas responsabilidades, buscando dividir o prejuízo político com os prefeitos anteriores, inclusive os do PT, embora a sigla tenha deixado a prefeitura 20 anos atrás. Lembrou ainda os governos federal e estadual, observando que outras cidades também foram inundadas. E apelou ao bordão “Vamos olhar para o futuro”.

O deputado estadual Felipe Camozatto (Novo) que votou, enquanto vereador, pela extinção do DEP, foi questionado sobre sua proposta, em 2017, de derrubar o muro da avenida Mauá, estrutura que evitou, em maio, que o quadro vivido pela cidade fosse ainda mais devastador. Retrucando disse que, em 2008, Rosário também teria proposto a derrubada.

Venezuela entra na roda

A exemplo de Rosário e Juliana pelo lado da oposição, Camozatto e Melo organizaram uma tabelinha pela situação. 

No plano dos projetos, Rosário prometeu uma cidade verde, citando seu diálogo a respeito com a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, no último sábado (3) no evento “Porto Alegre e o Plano Clima- Uma Cidade Sustentável e Resiliente”. Citou ainda sua ideia de acolher as cozinhas solidárias que surgiram na pandemia e cumpriram tarefa essencial na época das cheias.

Camozatto trouxe um tema internacional para a discussão municipal. Perguntou à Rosário se, eleita, pretendia importar “a fome a miséria da Venezuela” para a capital gaúcha, que abriga muitos imigrados venezuelanos.

Melo “nunca tem nada a ver com nada”

Juliana pegou uma frase de Melo, onde diz que seus adversários não são os demais concorrentes mas os problemas, para ironizá-lo. “Se seus adversários são os problemas, ele está perdendo...” E prosseguiu: “Ele nunca tem nada a ver com nada. Não tem nada a ver com o incêndio na pousada Garoa, nada a ver com as denúncias de corrupção na educação, nada a ver com a enchente”.

Rosário aproveitou a referência à pousada Garoa. Nela, um incêndio matou 11 pessoas em situação de vulnerabilidade neste ano, para dizer que a prefeitura – que mantinha vagas na pousada - fora advertida sobre as condições precárias do local e não tomou providências. 

No encerramento, “esperança” foi uma palavra usada tanto por Rosário quanto por Melo. A candidata explicou que deseja “devolver a esperança para a cidade”, enquanto o prefeito prometeu “esperança e confiança” e fazer “mais transformações no cuidado com a cidade”.


Edição: Vivian Virissimo