Rio Grande do Sul

PERIFERIA

Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo realiza roda de conversa Cada Ponto é um Lugar

Atividade reuniu coletivos para debater necessidade de sede para o funcionamento de organizações de base comunitárias

Brasil de Fato | Porto Alegre |
A roda de conversa foi motivada pela própria experiência do Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo - Foto: Divulgação

No dia 30 de julho de 2024, o Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo realizou na sua sede, na Avenida Capivari, 602, no Bairro Cristal, em Porto Alegre, a roda de conversa intitulada “Cada Ponto é um Lugar”. A atividade contou com a participação de lideranças do Quilombo do Sopapo, do Coletivo Catarse/ Ponto de Cultura e Saúde Ventre Livre, Periferia Feminista, Ascobrevic e Ilê Aganju Ati Oxalá.

A roda de conversa foi um debate importante entre as lideranças para tratar da necessidade de estrutura física própria para abrigar a relevante ação desenvolvida por estes pontos de culturas, organizações e coletivos. A dificuldade em conquistar uma sede própria tem sido um dilema cotidiano na vida destas organizações, uma vez que o risco de perda de suas atuais instalações ou mesmo a mudança de um espaço para outro implica em descontinuidade de suas ações de base comunitária e perda de vínculos com seus territórios de atuação, muitas vezes construídos e consolidados ao longo de muitos anos de trabalho.

A roda de conversa foi motivada pela própria experiência do Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo, sediado desde sua fundação em 2008 em uma propriedade do Sintrajufe-RS e, neste momento, em processo de negociação com o sindicato e de busca de uma solução para viabilizar sua permanência no espaço a partir de aquisição, permuta de área ou financiamento. Esta é uma realidade dos demais coletivos, pontos de cultura e organizações presentes, que mantém relações de posse precária ou mesmo de perda de sua sede social. O que causa grande impacto não só na trajetória das organizações, como das comunidades atendidas, que podem não contar mais com estes espaços de referência para acesso à fruição cultural, oportunidades de formação ou mesmo espaço de lutas para reivindicação de direitos, como saúde e moradia dignas.

Como destacado por uma liderança presente, espaços como o do Quilombo do Sopapo tem um papel importante não só por ofertar atendimento social e cultural às comunidades. Mas por constituir-se como um “espaço de convergência” para que moradores de territórios com dificuldade de interação por conta de distância ou conflitos internos possam se encontrar para organizarem suas lutas sociais.

Assim, a perda de um espaço como este é irreparável, com impacto no aumento da vulnerabilidade e na violência nas comunidades. Por isso, a conquista de sede própria para manter a ação continuada de organizações, coletivos e pontos de cultura é uma demanda política necessária.

Neste 2024, em que se completam 20 anos do Programa Cultura Viva, política instituída pelo Ministério da Cultura, os participantes refletiram como urgente a necessidade de se debater junto aos governos (federal, estadual e municipal) estratégias de políticas públicas de aquisição de sedes próprias para organizações comunitárias, coletivos e pontos de cultura já reconhecidos com histórico consolidado e ação sociocultural perene junto aos seus territórios de atuação. Seja por fomentos de aquisição direta e permutas de áreas, seja através de linhas específicas de financiamento.

Reafirmamos, portanto, que a perda de um Espaço Cultural, cuja trajetória já se incorporou às lutas locais, além de contribuir para a formação da comunidade por meio de oficinas culturais via políticas públicas, representa uma perda significativa e irreparável. Portanto, a perda estrutural de um espaço como o Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo, ou qualquer outro semelhante, é uma perda no campo político e no direito de acesso à cultura conquistado pelas comunidades, considerando que se trata de um projeto que se tornou uma verdadeira Escola de Cultura para diversas periferias, demonstrando a importância desses espaços.

Como encaminhamentos, os participantes decidiram:

– Transformar a roda de conversa no GT “Minha Sede, Minha Vida” para encontros períodos e aprofundamento sobre esta demanda;

– Ampliar o debate, levando a demanda para outras organizações e para a Rede RS de Pontos de Cultura;

– Estruturar um documento base com a descrição da demanda e coletar adesão de outras organizações, coletivos e pontos de cultura que tenham interesse direto na conquista e manutenção de suas sedes;

– Articular uma agenda de encontros com Ministério da Cultura, parlamentares, governo estadual e municipal para apresentar e discutir a demanda com foco em estabelecer uma política de aquisição, permutas e/ou financiamento de espaços de funcionamento próprios para organizações comunitárias, coletivos e pontos de cultura.

* Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo


Edição: Marcelo Ferreira