Rio Grande do Sul

MEIO AMBIENTE

Coalizão pelo Pampa ataca estudo que propõe semear soja em mais 36,6 milhões de hectares

Para ambientalistas, estudo da Serasa é ufanista, ignora mudanças climáticas e não se preocupa com a sustentabilidade

Brasil de Fato | Porto Alegre |
O Pampa continua sendo o bioma brasileiro que mais perde sua área com cobertura natural - Foto: Arquivo Pessoal/Valerio Pillar

Vinte e três entidades ambientalistas estão criticando o estudo de aptidão agrícola apresentado pela empresa de análises Serasa Experian que sugere expansão do plantio de soja de até 36,6 milhões de hectares sobre áreas de quatro biomas – Pampa, Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica – dos mais ameaçados do Brasil.

 A Coalizão pelo Pampa – que une as 23 associações – argumenta que o Pampa e o Cerrado “foram os biomas brasileiros que mais perderam área de vegetação nativa entre 1985 e 2022”. É o que aponta a plataforma Mapbiomas.

No Pampa, a perda foi de 2,8 milhões de hectares – 24% das suas formações originais – no período. Com isso, recuou de uma cobertura de 48% para 34% do território. No Pampa e no Cerrado as perdas estão vinculadas à mesma causa: a expansão da monocultura da soja.

Campo nativo não é pastagem plantada

“A proposta da Serasa Experian de expansão do cultivo de soja nas áreas classificadas como ‘pastagens’ suscita grande preocupação”, diz documento da Coalizão pelo Pampa. Segundo o texto, a ideia desconhece o fato de que tais áreas incluem campos nativos que constituem remanescentes de vegetação nativa cujo uso e exploração “são regrados por uma série de normas legais, com destaque para a Lei federal n° 12.651/2012 - Lei de Proteção da Vegetação Nativa e da Lei federal n° 11.428/2006 da Mata Atlântica”.

Para as 23 entidades, a análise da Serasa Experian está calcada em entendimento desatualizado. Erradamente, reconhece valor somente às florestas, negligenciando as formações naturais não florestais do Brasil, como são os campos nativos presentes em todos os biomas avaliados – Pampa, Mata Atlântica (campos de altitude), Amazônia (lavrados) e Cerrado (campos limpos e sujos).

A metodologia adotada não faria distinção entre pastagens plantadas e campos nativos. Conforme a avaliação da Serasa Experian, o Cerrado e a Amazônia são os biomas com maiores áreas de pastagens plantadas e campos nativos que, diz o estudo, estariam disponíveis para conversão agrícola. Seriam 17,6 milhões de hectares de Cerrado e 11,9 milhões de hectares de Amazônia.

Proteção contra pragas e erosão

“Os campos nativos são ecossistemas de ocorrência natural nos biomas, com flora e fauna típicas”, registra a denúncia. E agrega: “Mesmo quando utilizados para pecuária extensiva, não perdem suas características de formações naturais”.

Repara também que “os campos nativos são responsáveis por diversos serviços ambientais: armazenam grandes volumes de carbono no solo, fornecem alimento a criações domésticas, são habitat de polinizadores e controladores de pragas agrícolas, protegem os solos da erosão e regulam o ciclo hídrico”. Ou seja, cumprem papel importante para prevenir e atenuar os efeitos já experimentados em um período de emergências climáticas, inclusive para áreas agrícolas.

Sem economia e nem futuro

A Coalizão adverte que o Brasil “precisa recuperar o caráter virtuoso de sua sociobiodiversidade, limitando as monoculturas que vêm degradando o solo e contaminando a água, os ecossistemas e a saúde humana”. E enfatiza: “ou o setor financeiro entende isso ou nosso país não terá nem economia e nem futuro socioambiental sustentáveis”.

Além da Associação Gaúcha de Proteção do Ambiente Natural (Agapan) – mais antiga ONG ambiental em atividade no Rio Grande do Sul – integram a Coalizão, entre outras instituições conhecidas da luta ambiental, o Instituto Ingá, o Centro de Estudos Ambientais (CEA), o Comitê dos Povos e Comunidades Tradicionais do Pampa, o Grupo Tecnologia, Meio Ambiente e Sociedade TEMAS/UFRGS e a Rede Campos Sulinos.


Edição: Katia Marko