Porto Alegre ganha, a partir das 18h desta quinta-feira (25), o Muro dos Pedidos na Avenida Mauá, 1050, no Centro Histórico. Será uma homenagem aos voluntários e às vítimas das enchentes que perderam tudo o que tinham. É um belo gesto, mas os organizadores alertam que não é um momento festivo, mas sim uma hora para refletir sobre a tragédia histórica que atingiu grande parte do Rio Grande do Sul.
Os participantes receberão velas de LED para colocar no muro durante o evento. A intenção é realizar uma cerimônia de “cinema”, segundo os organizadores. O Cavalo Caramelo e a lenda gaúcha Negrinho do Pastoreio estarão “presentes” para criar um ambiente de agradecimento e meditação.
Construído na década de 70 do século passado na cidade de Porto Alegre, como parte do sistema de proteção contra cheias, o Muro da Mauá se estende ao longo de 2,6 km da Avenida Mauá, com três metros de altura acima do solo e outros três abaixo. Mesmo assim, houve o grande problema que todos conhecem nas enchentes de maio/junho, deixando parte da cidade alagada e cheia de dificuldades, com falhas homéricas nos seus portões e comportas.
Chegou a hora de tomar uma atitude para salvaguardar este monumento de proteção e dotá-lo efetivamente de condições sólidas e seguras. A Orla, tão badalada, foi afetada e vai demorar um tempo para se recuperar.
A ação nesta quinta é uma iniciativa do Consórcio Novo Muro da Mauá e objetiva promover o seu espaço, potencializando a cultura local e homenageando a cidade com intervenções artísticas, cores e formas em toda a temática e ambiente em que está localizado.
Para o futuro, e tudo vai depender das novas administrações municipais, o consórcio pretende construir um lugar agradável para interagir com a região. Participam também do evento a prefeitura de Porto Alegre e o governo do estado, além de empresas colaboradoras de várias áreas.
A Avenida Mauá terá uma de suas faixas fechada por uma hora no fim do dia para receber os convidados ou quem quiser assistir / Foto: Renata Grosser/Reprodução
O Muro dos Pedidos apresentará oficialmente a tela para simbolizar a ação. Em função disso, a Avenida Mauá terá uma de suas faixas fechada por uma hora no fim do dia para receber os convidados ou quem quiser assistir.
Em meio ao caos da enchente, os brasileiros conheceram pela televisão um ícone inusitado: o Cavalo Caramelo. O animal, que suportou cerca de três dias em cima de um minúsculo telhado ilhado pelas águas, serviu de inspiração para milhares de gaúchos na retomada de suas vidas, casas, empresas, empregos, trabalhos e rotinas. Ele foi escolhido conceitualmente como "condutor da retomada". O animal é central no Muro dos Pedidos, guiado pelos campos afora por um menino conhecido por todos os gaúchos.
O Negrinho do Pastoreio, pequeno cavaleiro do folclore regional, encilha simbolicamente Caramelo. A escolha remete à lenda, pois, até hoje em dia, há quem diga que o Negrinho ajuda as pessoas a encontrarem seus pertences perdidos mediante uma oração e uma vela acesa em seu nome.
O conceito do Muro dos Pedidos é apontado como uma virada de chave, segundo os seus criadores. "A fase cultural prevista para o Novo Muro da Mauá neste período homenagearia a cultura alemã, no bicentenário da imigração. Mas não havia como repaginar as telas com esse tema como se nada tivesse acontecido", explica Eduardo Ferreira, da Sinergy, sócia do consórcio.
"Agora, com o Negrinho do Pastoreio e o Cavalo Caramelo, o Muro traz a cultura do povo gaúcho e a motivação que nós temos para erguer nossa economia", reforça João Pedro Silveira, diretor da HMídia e também sócio do consórcio. “Buscamos duas dimensões: a da esperança na reconstrução e também a da potência do Muro, como símbolo da resistência na crise climática", detalha Gregório Colla Leal, VP de Criação da HOC.
Construído na década de 70 do século passado na cidade de Porto Alegre, como parte do sistema de proteção contra cheias, o Muro da Mauá se estende ao longo de 2,6 km da Avenida Mauá / Foto: Rudinei Carneiro Zang/Reprodução
Para Leal, trazer de volta a lenda do Negrinho do Pastoreio cruzada com um novo herói, o Cavalo Caramelo, vai marcar a todos nós. "O muro é um sobrevivente, assim como o cidadão de Porto Alegre. O muro já homenageou o passado desde a chegada dos açorianos, anteviu o futuro da cidade por meio da inteligência artificial e agora representa nossas bases, que são sólidas", reafirma Eduardo.
O painel terá 48 metros de extensão, iluminado por uma simulação de velas no painel, onde os passantes terão a oportunidade de fazer seus pedidos, para que se encontre tudo o que foi perdido. Quem não conseguir passar a pé pelo Muro dos Pedidos e fazer sua reflexão ali poderá colocar seus votos no site www.murodospedidos.com.br. Ao escrever, no espaço assinalado, uma vela virtual será acesa. Em breve, as telas digitais, que também ficarão no Muro da Mauá, vão passar ao vivo os pedidos realizados de forma online.
Projeto
O Novo Muro da Mauá é um projeto "vivo" e vem sendo renovado periodicamente. As lonas, backlights e frontlights (ou painéis com iluminação frontal e no lado ou atrás) têm sete etapas. Na primeira etapa mostravam a história do Porto dos Casais. A segunda fase foi uma homenagem aos moradores da capital com arte em forma de fotografia e ilustração. Na terceira, deu as boas-vindas à Bienal do Mercosul, expondo o trabalho de artistas visuais.
Na quarta etapa, foram instaladas fotos de dez personagens que fazem parte da história da capital do Rio Grande do Sul. Batizado de Persona - Gente do Muro, o espaço traz imagens produzidas pela fotógrafa e artista visual nascida em Gravataí, Raquel Brust. A ideia é inspirada no Projeto Giganto, de 2009, da artista gaúcha, que levou a prédios, estruturas e espaços públicos de São Paulo fotografias de grandes dimensões com pessoas da capital paulista.
Adiante, na quinta etapa, homenageou cases de economia inovadora da Capital. Na sexta, o fotógrafo gaúcho Leonid Streliaev cedeu fotos da Porto Alegre de Erico Veríssimo e, na mais recente, a inteligência artificial mostrou a cidade no futuro, além de outras criações, como um laçador assando um churrasco ou um Grenal em uma cuia de chimarrão. E a sétima fase cultural será com o Muro dos Pedidos.
* Jornalista
Edição: Marcelo Ferreira