Rio Grande do Sul

VITÓRIA NA UFRGS

Em decisão histórica, Consun confere vitória da paridade na Universidade Federal do Rio Grande do Sul 

Lista tríplice será encaminhada para o presidente Lula para que ele nomeie a nova Reitoria para gestão 2024/2028

Brasil de Fato | Porto Alegre |
"Nosso projeto coletivo, construído com estudantes, técnico-administrativos e docentes, ele vai pautar essa nossa visão da Universidade", afirma Márcia Barbosa - Foto: Victor Frainer

Após horas de debate e votação, o Conselho Universitário (Consun) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, conferiu a vitória à Chapa 3, formada por Márcia Barbosa e Pedro Costa, por 44 votos a 26, para a Chapa 2, composta por Ilma Brum e Vladimir Nascimento.

O resultado coloca fim ao impasse que teve início na noite desta segunda-feira (15), quando foi divulgado o resultado da consulta acadêmica para a eleição da Reitoria. Depois de ter se declarado vitoriosa na consulta à comunidade para a nova Reitoria da Ufrgs, a Chapa 2 reconheceu a vitória da Chapa 3. A decisão histórica reafirma a vitória de uma luta da comunidade acadêmica, a paridade na escolha de sua gestão

A composição da lista tríplice, encabeçada pela Chapa 3, será, seguida da Chapa 2 e Chapa 1, de Liliane Giordani e Carlos Alberto Gonçalves, será agora enviada ao Ministério da Educação e na sequência ao presidente Lula para que ele nomeie a nova Reitora da Universidade para a gestão 2024/2028. 

“Foi extremamente emocionante esse momento em que a paridade, uma luta de tantos anos da nossa Universidade venceu. E esse nosso projeto coletivo, construído com estudantes, técnico-administrativos e docentes, ele vai pautar essa nossa visão da Universidade. A Universidade com equidade, que olha para fora, que busca recursos e a Universidade que sim, vai levar como primeira demanda que essa lista tríplice acabe e que nós tenhamos a verdadeira autonomia que é eleger as pessoas via paridade. Esperem que mais coisas virão aqui da nossa Ufrgs”, afirmou a professora Márcia Barbosa, ao Brasil de Fato RS, assim que foi anunciado o resultado. 

Durante a reunião do colegiado, a Chapa 2, composta por Ilma Brum e Vladimir Nascimento, reconheceu a vitória da Chapa 3. “Em respeito à manifestação, pelo voto, das pessoas que acreditaram na paridade, reconhecemos o resultado paritário. Nossos apoiadores expressarão seus votos com a autonomia que lhes é de direito e com a responsabilidade de membros do Conselho Universitário, garantindo a expressão da vontade das pessoas que participaram da eleição. É responsabilidade e dever do Consun, na sequência de suas ações, garantir a sustentação jurídica da decisão política que foi tomada pela paridade”, declararam em manifestação durante a reunião do colegiado. (Abaixo a manifestação completa). 

Após a confirmação da paridade um cortejo saiu da Ufrgs, celebrando o momento histórico

Mobilização 

Desde que foi anunciado o resultado da eleição, diversas entidades e autoridades expressaram apoio à Chapa 3 nas redes sociais, incluindo a Chapa 1, composta por Liliane Giordani e Carlos Alberto Gonçalves, que reconheceu a vitória de Márcia Barbosa e Pedro Costa para ocuparem as cadeiras de reitora e vice-reitor. 

Na manhã desta sexta-feira, enquanto acontecia a deliberação do colegiado, a comunidade acadêmica, lideranças políticas e parlamentares realizavam uma intensa mobilização em favor da indicação da chapa. A ação contou com a participação dos integrantes da Chapa 1.

“Hoje é o dia que a comunidade, através de estudantes, técnicos, professores, está confirmando a paridade, aprofundando a democracia da Universidade. Estamos muito atrasados. Hoje é o dia dessa construção, é o dia em que a Universidade vai afirmar que está mudando a maneira como se faz a gestão. Está mudando como os rumos são decididos, está mudando a maneira como as pessoas são respeitadas. Todas as pessoas, estudantes, técnicos, professores, trabalhadores terceirizados, a comunidade externa que depende da vida dessa Universidade. Hoje é o dia de mudança”, afirmou Pedro Costa, candidato a vice-reitor pela Chapa 3. 


“Hoje é o dia que a comunidade, através de estudantes, técnicos, professores, está confirmando a paridade, aprofundando a democracia da Universidade" / Foto: Victor Frainer

Com um cravo branco na mão, Márcia Barbosa ressaltou a união formada em favor da paridade. “Cada conselheiro e conselheira vai receber um cravo branco como símbolo da paz com voz. Porque paz sem voz é medo. E esse povo aqui não tem medo porque estamos juntos, juntas e juntes pela democracia. Desde terça-feira, a Chapa 3 e a Chapa 1 viraram uma única voz: Paridade Já, vamos respeitar a vontade das urnas, e vamos mostrar para o Brasil que vamos construir uma paridade para ficar, para não ter mais discussão daqui há quatro anos.”

“Nesta festa democrática, estar aqui todos juntos com o movimento Virada reafirmando seu compromisso pela ética e pela democracia. Nesse 19 de julho de 2024 estamos juntos para afirmar de vez a paridade e vamos no primeiro dia do mandato da Chapa 3 já cobrar sim que a paridade já faça parte do nosso regimento e juntos findar esse período de disputa de relação politicalesca e de judicialização”, ressaltou Liliane Giordani, concorrente à reitora pela Chapa 1. 


Diversos movimentos da juventude estavam presentes na manifestação / Foto: Victor Frainer

Luta pela paridade 

A conquista da paridade, fruto da luta de estudantes e trabalhadores da Ufrgs por maior democracia interna, foi aprovada em 23 de novembro de 2023 pelo Consun, órgão máximo, normativo e deliberativo da instituição. A paridade assegura que a partir das eleições para Reitoria deste ano o peso dos votos de estudantes, docentes e técnico-administrativos em Educação terão o mesmo peso. Antes, o peso era de 70% para os docentes e 15% para os outros segmentos.

A suspensão da paridade de votos na escolha da Reitoria da instituição foi feita através de despacho assinado pelo reitor Carlos André Bulhões, conhecido como o mais impopular em 90 anos de história da Universidade. Bulhões, menos votado, foi nomeado por Bolsonaro em 2020, ignorando a consulta na Ufrgs. Na ocasião o então reitor Rui Vicente Oppermann e a vice-reitora Jane Tutikian encabeçaram a chapa vencedora na consulta interna à comunidade acadêmica. 


Cartazes lembraram a última eleição da Reitoria / Foto: Victor Frainer

Na ocasião da divulgação do resultado o sistema não paritário colocou a Chapa 2, composta por Ilma Brum e Vladimir Nascimento, como a primeira da lista tríplice, seguida pela Chapa 3, de Márcia Barbosa e Pedro Costa, e pela Chapa 1, de Liliane Giordani e Carlos Alberto Gonçalves. 

As três chapas chegaram a assinar um termo de compromisso com a paridade dos votos, que dá o mesmo peso para os votos dos professores, técnico-administrativos e alunos. Contudo, no dia da eleição, uma liminar concedida pela justiça ao pró-reitor de Inovação e Relações Institucionais da Ufrgs, Geraldo Pereira Jotz, determinou que os votos fossem contados sem paridade, voltando ao sistema anterior que dá peso de 70% para o voto dos docentes, 15% para o dos técnico-administrativos e 15% para o dos alunos. A decisão foi criticada pelas três chapas.

Manifesto da chapa 2 Ilma e Vladimir

Bom dia, Sra. Presidente, Srs. e Sras.  Conselheiros

A chapa 2 elaborou uma proposta coerente, factível e focada nas pessoas que formam a nossa comunidade, que foi amplamente discutida durante o período de campanha.

Participamos do processo de consulta que teve como base um assento eleitoral com muitas fragilidades legais, apontadas por nós durante a discussão e pelo documento elaborado por um dos membros da comissão do assento, nossa Diretora da Faculdade de Direito. Fomos votos vencidos. Democraticamente aceitamos a decisão da maioria e participamos do processo. No decorrer do período de campanha, ocorreu judicialização, determinando que a consulta ocorresse e a classificação das chapas fosse feita, com observância do peso de 70% para a manifestação do pessoal docente. Tal decisão, em segunda instância, levou o processo a dois resultados, dando ganho à chapa 2 na forma da Lei e dando ganho à chapa 3 pelo cálculo paritário, posteriormente divulgado pelas entidades que compunham a Comissão de Consulta Informal (CCI). 

Em respeito à manifestação, pelo voto, das pessoas que acreditaram na paridade, reconhecemos o resultado paritário.
Nossos apoiadores expressarão seus votos com a autonomia que lhes é de direito e com a responsabilidade de membros do Conselho Universitário, garantindo a expressão da vontade das pessoas que participaram da eleição.

É responsabilidade e dever do Consun, na sequência de suas ações, garantir a sustentação jurídica da decisão política que foi tomada pela paridade.
Repudiamos veementemente os métodos inescrupulosos e violentos de difamação e calúnia, produtores de inverdades utilizados e que envergonham uma instituição de ensino como a Ufrgs.

Agradecemos a todas as pessoas que nos apoiaram e reiteramos que desejamos uma Ufrgs mais unida, defendendo os interesses da nossa Instituição e conectada com a sociedade. É nosso dever como servidores dessa Universidade, colocar a Ufrgs sempre em primeiro lugar. 

Ilma Brum e Vladimir Nascimento


Edição: Katia Marko