A eleição de outubro 2024 será decisiva para a configuração de nosso futuro
Quando se aproximam as eleições somos atropelados por pesquisas de opinião.
E agora, com estas enquetes por internet, elaboradas a pedido de entidades interessadas em vender seus produtos, a coisa tende a ficar ainda pior. Por um lado, se percebe que ocorreu brutal redução no custo e no compromisso destas pesquisas com a veracidade de seus resultados. Por outro lado, brotando a cada semana, estas avaliações são enunciadas para serem discutidas por algumas horas e logo a seguir, esquecidas. Claramente elas não se prestam para elucidar compreensão/aceitação do povo relativamente ao programa e os compromissos dos candidatos, mas sim para motivar sentimentos de ligação entre eleitores desavisados e figuras/nomes que segundo as pesquisas, “tendem a vencer”.
Ademais, a credibilidade de todos envolvidos pouco importa. Inclusive, em todos os locais as pesquisas de opinião estão errando feio. Bolsonaro, com aquele governo desastroso em todas as dimensões, ia levar uma goleada e acabou derrotado por muito pouco em 2022. E hoje, quando todos sabem que ele e sua turma jogaram o país de volta no mapa da fome, queimaram biomas, viabilizaram a morte de milhares na pandemia, desmontaram instituições, desmoralizaram o país em escala global, as pesquisas indicam que, em concorrendo a qualquer cargo, poderá ser eleito. Para cúmulo, algumas pesquisas também dizem que por segurança da democracia ele e os seus não devem ser presos. E parece crescer o número dos que acreditam nisso.
Na França, onde segundo as pesquisas a extrema direita já estava com a mão na taça, deu o que deu: uma derrota estranha onde os fascistas perdedores cresceram em representação parlamentar, de 88 para 143 cadeiras. E com isso parece que o pior, por lá, se tornou uma questão de tempo.
Em Porto Alegre, segundo as pesquisas, o Sebastião Melo, responsável pela miséria que invadiu a cidade pelos vãos do muro da Mauá, por canalizações ligadas a bombas que deveriam jogar a água para fora da área urbana, tem grande chance de se reeleger. Pode? Talvez. Mas só se permitirmos que as tendências que trouxeram estas condições se mantenham ativas e determinem o futuro.
De toda maneira, são muitos os casos indicando que aquelas pesquisas servem especialmente para alimentar tendências de superestimação de alguns desejos (de seus patrocinadores?). Por isso, elas precisam ser encaradas com cautela sempre que se prestarem a alimentar sensações de desânimo ou euforia, entre as organizações genuinamente populares.
Ok, existirão problemas estatísticos. Detalhes de confiabilidade amostral, de interpretação dos resultados, etc. Mas também (conforme Marcos Coimbra em recente entrevista da TVT/BDF) acontece de estarmos vivendo drástica e ainda não bem conhecida alteração na cultura política de todos os países.
Tudo está mudando e, neste sentido, por bem intencionados que o sejam, os métodos de pesquisa ainda não conseguem se adaptar às transformações dos desejos/medos/impulsos da população em relação à sua capacidade de influenciar sobre o futuro.
E como o futuro se desenha com tendências a piorar, em tudo, cresce na sociedade uma sensação de que as oportunidades estão se fechando. Por isso todos os anúncios relacionados à sondagens de opinião escondem interesses e, neste sentido, venham de onde vierem (da esquerda ou da direita), merecem nossa desconfiança.
Portanto, é compreensível o crescimento em número daquelas pessoas que, em se percebendo sem alternativas para melhoria de vida, abandonam o espírito crítico e se juntam, a grupos orientados por soluções mágicas ou por líderes raivosos, contra “tudo isso que está por aí”. Se sentem acolhidos e não lhes vêm à consciência o fato de que desta forma estarão contribuindo exatamente para a manutenção de “tudo isso que está aí”.
É normal. Tendemos a crer na viabilidade de soluções apontadas por quem nos abraça. Nos emociona ver aqueles que, gritando alto, sacudindo a mão fechada e invocando espíritos divinos, expressam convicções que parecem nos favorecer. Por isso, não é fácil lutar contra a sedução referendada por pesquisas de opinião que nos justificam e “validam” aquela sensação de pertencimento.
Há nisso uma história de maldades bem sucedidas, que escondem iniquidades ao mesmo tempo em que somam toda forma de racismo ao machismo, ao descaso com crianças e idosos, à desqualificação de serviços/servidores públicos, ao antibrizolismo, ao antipetismo, ao bolsonarismo, à negação da ciência, da ética, da espiritualidade, e das esperanças de construção coletiva.
E a grande questão passa a ser: como lutar contra isso, como influenciar o futuro?
Para alguns é uma questão de disposição e trabalho. De fazer ação política. De ativismo, dia a dia, pessoa a pessoa, em visitas e conversas que ajudem no esclarecimento de quem estiver disposto/a a ouvir.
Para outros parece ser uma questão de dinheiro. Com a grande assimetria no acesso aos meios de comunicação, com confederações da agricultura, de setores da indústria, dos bancos etc., patrocinando pesquisas e divulgando resultados de escassa confiabilidade, os desavisados são atraídos. E isso gera ondas de expectativas alienantes. Há uma lógica nisso: como quem tem fome tem pressa, a ilusão de acessar alguma vantagem, pela promessa de algum benefício, tece redes de cooptações e engajamentos que operam contra os interesses da coletividade.
É triste. E se ficarmos parados, vai piorar.
Tão logo o acesso à internet se faça generalizado, as pesquisas de opinião operarão com confiabilidade censitária. Neste momento, e com os algoritmos de agrupamento já disponíveis, quem manipular os resultados poderá articular com antecipação ações orientadas a impedir determinados sucessos eleitorais. Será possível criar fatores que antecipem mudança nas tendências de voto, deflagrando mecanismos de vitimização que ampliem aceitação de algum candidato, ou que levem à eliminação (inclusive física) de outros. Pensou na facada, na prisão do Lula, na orelha do Trump? Então imagine uma situação em que isso se faça orientado por pesquisas de opinião que induzam massas populacionais a se comprometer com a aceitação ou mesmo com a defesa violenta do resultado.
Por isso, e como neste momento ainda podemos atuar de maneira consciente, a eleição de outubro 2024 será decisiva para a configuração de nosso futuro.
Precisaremos escolher e fortalecer vereadores/as e prefeitos/as comprometidos com transformações que permitam enfrentar armadilhas indutoras de um comportamento social submisso que, se rolar solto, levará ao desmonte da frágil democracia que nos resta. Precisamos enfrentar tendências construídas à base de dinheiro, com ações conscientes, levando em conta o fato de que nossas lideranças populares mais confiáveis estarão ameaçadas de desgastes de todo o tipo, e que eles não apenas tenderão a aparecer nas pesquisa eleitorais deste ano, como se estenderão no tempo.
Em Porto Alegre, particularmente, me nego a aceitar as pesquisas que falam na eleição do Melo e sua turma. E adianto: vou votar para que a Câmara de Vereadores desta cidade se beneficie com o trabalho do (hoje pré-candidato a vereador) ambientalista e cientista, professor Paulo Brack. Na prefeitura sei que teremos sucesso em eleger com meu voto e empenho, Maria do Rosário e Tamyres Filgueira, mulheres com uma história de vida que representa o que há de melhor nesta caminhada da humanidade em busca de um futuro melhor.
Uma música? De Beraderos, Caminhar.
* Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko