Rio Grande do Sul

PERIFERIA

Jovens e adultos do Morro da Cruz conhecem o mundo da informática

Alguns dos alunos de curso de ONG não tinham acesso a computador e têm uma formatura festiva

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Atuando há mais de 15 anos, mas oficialmente desde 2019, o grupo de colaboradores realizou uma formatura histórica na última semana: a Iniciação ao Mundo da Informática - Foto: Divulgação ONG/CMC

A Organização Não Governamental (ONG) Coletivo Morro da Cruz, no Bairro São José, em Porto Alegre, está vivendo um momento feliz. Atuando há mais de 15 anos, mas oficialmente desde 2019, o grupo de colaboradores realizou uma formatura histórica na última semana: a Iniciação ao Mundo da Informática, dentro do projeto Portas Abertas. Alguns alunos nunca tinham tocado em um computador.

Gente simples, humilde, ou pobre mesmo. Este mundo da informática e internet não existia para eles. Estava em ponto remoto do planeta. Sem chances de alcançá-los. É mais uma iniciativa de sucesso que beneficia uma área de extrema fragilidade, que trabalha de dia para comer à noite, mas que conta com apoio forte e permanente da ONG. Ao longo da história, foram realizadas muitas ações que resultaram em impactos positivos para o Morro da Cruz.

A entidade está atendendo 300 famílias, já doou ao longo da sua história 5 mil cestas básicas e tem 300 alunos matriculados em seus cursos. A instituição desenvolve habitualmente três ações: Projeto Integração para crianças de 6 a 12 anos, com 152 alunos; Projeto Conviver, com 124 alunos, no qual eles aprendem ensino básico para a vida, como filosofia, psicologia e música; e Projeto Decole, com número variado de alunos, o qual propõe estimular o grupo a refletir sobre os desejos para o futuro. Aulas de marcenaria, informática, entre outras, são dadas com auxílio de professores aposentados da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).

“Nosso objetivo no Morro da Cruz é o resgate da autoestima. Aqui, todos, das crianças aos mais velhos, têm inúmeros problemas, materiais, físicos, psicológicos, e nós tentamos aliviar tudo isso com paciência, dedicação, carinho e compreensão. Nosso trabalho não é recriminar ou julgar ninguém. É ensinar, conduzir, falar, compreender. Queremos crianças e jovens felizes e com dignidade”, ressalta a antropóloga Lúcia Scalco, dirigente e voluntária da organização. “Nosso movimento é engajado socialmente. Nós nos envolvemos, colocamos a mão na massa, não somos observadores silenciosos, que tudo enxergam e nada fazem. Não ficamos só nas teorias e de braços cruzados, estudando a realidade”, afirma. “Assim foi na pandemia e na enchente. Ajudamos quem precisa e com a maior boa vontade”, diz.

Com determinação ao longo do tempo a ONG recebeu prêmios e elogios por sua atuação. Em 2021, por exemplo, ganhou a categoria Referência Educacional no Prêmio Líderes e Vencedores, que valoriza lideranças da comunidade gaúcha e é promovido pela Assembleia Legislativa e pela Federasul. Outra dirigente, Nira Martins Pereira, 58 anos, cresceu no bairro. Com 18 anos, começou a se envolver em trabalhos sociais. Após conhecer Lucia Scalco, presidente do Coletivo, passaram a trabalhar juntas.

“Nunca me conformei com a desigualdade social e fiz dessa rebeldia um objetivo de vida. Queria transformar a realidade onde nasci e cresci. Nossa meta aqui no Morro da Cruz é proporcionar conhecimento e dar vida digna e qualificada para as pessoas que moram em situação de vulnerabilidade”, afirma Nira.

"Falo para nossos jovens não sentirem vergonha de ter nascido e morar no Morro da Cruz. Falo que eles podem, que eles conseguem, que irão descer desse morro dignamente, com visão para o futuro. Eles serão e terão sucesso", garante Nira.

Atualmente, 55 crianças e 20 adolescentes praticam aulas de dança e inglês no contraturno da escola. As professoras estão ali, agindo voluntariamente, fazendo reforço escolar e também dando aulas de artesanato. Estão formando cidadãos e cidadãs. A ONG diz que só ajudar as crianças não é uma solução global para os problemas do morro. Ela age também com as famílias, mostrando caminhos, opções e dando linhas gerais de como podem superar as questões do cotidiano.

Sem ligações religiosas ou partidárias, a instituição se mantém da solidariedade e das doações individuais. “A gente vive do amor de algumas pessoas com a causa social”, reforça Lúcia. “Aqui não há ‘paradeira’, sempre tem alguém que precisa de ajuda”.

A ONG recebe doações da comunidade, do Ministério Público do Trabalho (MPT) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT). A associação recebe ainda, por meio dos canais pela internet, apoio para cursos, alimentação, além de roupas, sapatos, brinquedos e material escolar.

As doações podem ser feitas, em qualquer quantia, via PIX ou Conta Corrente da ONG: PIX: 34426595000163 (CNPJ)

Conta Corrente no Banco do Brasil: Agência 3240-9 Conta 43.745-X


Edição: Katia Marko