Rio Grande do Sul

ARTE E CULTURA

Espetáculo de dança-teatro, BIXA tem estreia no Teatro do SESC Alberto Bins

Nova montagem da Mimese Companhia de Dança Coisa apresenta o primeiro espetáculo solo do ator-bailarino Jeferson Cabral

Brasil de Fato | Porto Alegre |
o espetáculo de dança-teatro BIXA terá sua sessão de estreia nesta sexta-feira (19), às 19h, no Teatro do SESC Alberto Bins (av. Alberto Bins. 665) - Foto: Julia Oliveira

Autobiografia performatizada do ator e bailarino Jeferson Cabral, o espetáculo de dança-teatro BIXA terá sua sessão de estreia nesta sexta-feira (19), às 19h, no Teatro do SESC Alberto Bins (av. Alberto Bins. 665).

Os ingressos antecipados custam entre R$ 25,00 (meia-entrada) e R$ 50,00 (inteira) e estão disponíveis para compra no site EntreAtos Divulga. As entradas também podem ser adquiridas na bilheteria do teatro, a partir de 1h antes da apresentação. Neste caso, os valores passam para R$ 30,00 (meia-entrada) e R$ 60,00 (inteira).

Nova montagem da Mimese Companhia de Dança Coisa e primeiro espetáculo solo de Cabral, que é Doutor e Mestre em Artes Cênicas e licenciado em Dança e Teatro pela Ufrgs, BIXA expõe o preconceito de uma sociedade machista e misógina.

Em cena, o ator-bailarino representa várias vozes, retratando a jornada de quem decidiu "sair do armário", para – com resistência – ser quem verdadeiramente é. Uma realidade difícil no Brasil, onde o preconceito com a comunidade LGBTQIA+ ainda é muito grande.


 
A ação cênica é atravessada pela dança, teatro, performance e música, diluindo as barreiras que separam essas linguagens, enquanto busca ressignificar o termo estereotipado "bixa", fruto do preconceito na sociedade.

"BIXA é uma afirmação de que é necessário se orgulhar e fazer do seu corpo um veículo contra a homofobia. O que me levou a realizar essa montagem foi a vontade de me reconciliar com a minha criança, a partir da percepção de que tudo que vivi na minha infância, no bairro Cohab Cavalhada, onde cresci e sofri os primeiros julgamentos em relação ao meu corpo e meu comportamento – situações comuns na vida de qualquer pessoa LGBTQIAPN+", explica o ator-bailarino. "Quando adulto, consegui entender que estava construindo meu empoderamento (que também é fruto da resistência de muitas pessoas) pelo caminho da arte."

Apresentando essa criança que "se via como bixa" e hoje se depara com essas memórias no tempo presente, o espetáculo navega nesse ideal de transmutação de um termo pejorativo para uma palavra de luta, culminando "numa ode ao ser bixa", explica Cabral.

Autor do texto, ele assina também a concepção, o figurino, a composição e a direção cênica do espetáculo. Baseado em estudos que defendem a ideia do ato de narrar a si como uma ferramenta de autoconhecimento, a exemplo de conceitos teóricos defendidos pela socióloga e antropóloga Marie Christine Josso, o artista gaúcho iniciou o argumento dramatúrgico de BIXA em 2013, e foi aprimorando a narrativa ao longo da última década, até dar início ao trabalho de criação em setembro de 2023.

Inspiração na coreógrafa alemã Pina Bausch

Já a inspiração cênica do espetáculo tem os aportes argentinos sobre Teatro Documental, bem como o trabalho da coreógrafa alemã Pina Bausch, que usava as experiências das artistas de sua companhia como material dramatúrgico de espetáculos de dança-teatro. Em cena, Cabral estabelece uma relação de cumplicidade com a plateia, inspirado na poética dos termos teóricos de Patrícia Fagundes e Iassanã Martins. Ambas as autoras pesquisam formas de criação de intimidade com o público através de um espetáculo proximal na relação com o espectador, tanto espacialmente como na forma de abordagem discursiva.
 
Utilizando luzes piscantes, ofuscantes e estroboscópicas em breves momentos, a montagem conta com uma iluminação que alterna essa intimidade cênica com um clima de festa. Para construir sua paisagem sonora e inspirar a corporeidade do artista em sua performance, a obra mergulha no universo pop, com trilha sonora que lembra grandes canções de sucesso dos anos de 1990 e 2000 (que influenciaram Cabral no decorrer de sua vida), num resgate histórico-cultural de influências políticas e artísticas, potencializando não somente o discurso cênico, as coreografias, e os imaginários da montagem, mas também exaltando o legado das "divas do pop" na produção de conhecimento e resistência.

Sobre Jeferson Cabral

Doutor e Mestre em Artes Cênicas, licenciado em Dança e Teatro (Ufrgs). Atuou em coletivos como Ói Nóis Aqui Traveiz e Santo Qoletivo, bem como foi dançarino em diversos espetáculos. Em 2023, esteve em Cães (2023), com direção de Alexandra Dias, com o grupo Outro Dances. Em 2024, comemora 16 anos de vida artística e mantém vínculo criativo com a Mimese Companhia de Dança Coisa.

Sobre a Mimese Companhia de Dança Coisa

Foi criada em 2002, como projeto de pesquisa e extensão na UniCruz. Em 2004, passa a ter o caráter independente, apresentando, dentre outros trabalhos, Semelhanças, Os Humores do poeta, Um corpo bem de perto (de Luciana Paludo), Além Disso, Vai-te, Se a morte bater na minha porta, diga a ela que eu volto amanhã (de Mário Nascimento). Realiza projetos como Luciana Paludo Convida (2016) e Degustação de Movimentos (2019), este último enquanto projeto de extensão, vinculado à Ufrgs.


Edição: Katia Marko