O CineBancários reabre suas portas ao público nesta quinta-feira (18), após dois meses fechados por conta das chuvas torrenciais que pararam Porto Alegre. O tradicional cinema de calçada da rua da Ladeira, no centro da Capital, inicia sua programação com a estreia de três filmes. As sessões ocorrem às 15h, 17h e 19h, com ingressos a partir de R$ 6.
Referência na exibição de títulos nacionais, o espaço não foi atingido diretamente pelas cheias que flagelaram o estado, mas ficou sem água e luz por semanas e teve funcionários afetados e sem possibilidade de deslocamento.
Além disso, de maio a junho deste ano, a casa do Sindicato dos Bancários (SindBancários) serviu como ponto solidário para auxiliar as inúmeras pessoas e comunidades atingidas pela catástrofe climática. Na entrada do cinema, foi instalado um centro de coleta de doações, e nos fundos do sindicato, uma cozinha solidária.
Agora, com o retorno do funcionamento normal do espaço, o CineBancários retoma as atividades com a estreia das películas "Lo Que Queda en El Camino", coprodução entre Brasil e Alemanha e os filmes nacionais "Greice" e "Toda Noite Estarei Lá".
Os ingressos custam R$ 12 na bilheteria; idosos, estudantes, bancários, jornalistas sindicalizados, portadores de ID Jovem e pessoas com deficiência pagam R$ 6. Nas quintas-feiras, todos pagam meia-entrada. As sessões acontecem às 15h, 17h e 19h, de terça-feira a domingo.
Programação traz as obras Lo Que Queda en El Camino, Greice e Toda Noite Estarei Lá / Divulgação
Quinta-feira de estreias
Greice, longa-metragem vencedor do festival Olhar de Cinema, estreia na sessão das 19h. Dirigido pelo cearense Leonardo Mouramateus, o filme foi rodado em locações de Fortaleza e Lisboa e teve sua estreia mundial no 53º Festival Internacional de Cinema de Roterdã, onde foi sucesso de crítica e público.
Com um tom de humor que o faz parecer em alguns momentos com uma chanchada contemporânea, a narrativa acompanha Greice (Amandyra), uma estudante de Belas-Artes brasileira que vive em Lisboa. Depois de se envolver em um acidente na universidade e receber uma suspensão por tempo indeterminado, Greice volta sorrateiramente para Fortaleza, sua cidade natal, para regularizar seus documentos. Escondida em um quarto de hotel, a jovem tem como artifícios poderosos seu carisma e sua lábia. O elenco principal inclui Mauro Soares, Dipas e Luara Raio, além da participação especial de Isabél Zuaa, Luciana Souza e Faela Maya.
Além de Melhor Filme do 13º Olhar do Cinema, “Greice” também saiu do festival com os títulos de Melhor Roteiro para Leonardo Mouramateus e Melhor Atuação para a protagonista Amandyra. Com sessões esgotadas na mostra curitibana, o filme teve ótima repercussão entre público e crítica.
Toda Noite Estarei Lá, de Suellen Vasconcelos e Tati Franklin, acompanha a jornada de Mel Rosário, de 58 anos, que após sofrer uma agressão transfóbica, todas as noites se põe diante da igreja neopentecostal que a impede de frequentar. O documentário, produção da Graúna Digital em associação com Filmes Fritos, distribuído pela Descoloniza Filmes, será exibido no CineBancários na sessão das 17h.
Apesar da história de Mel ser única para as cineastas, representa os dilemas que nossa sociedade vive. Acompanhando sua trajetória a gente vê um rastro do ultra conservadorismo e da violência contra uma determinada população. “A Mel é uma travesti defensora dos direitos humanos. Ela enfrenta todos os dias uma sociedade que oprime e desumaniza pessoas LGBTQIAP+. A gente costuma dizer que a Mel é uma outsider tanto no contexto da igreja e da religião com a qual ela se identifica, porque essa igreja não acolhe pessoas como ela, quanto no contexto progressista, que tem extrema dificuldade de dialogar com as religiões neo pentecostais, por exemplo”, contam as diretoras.
“Então, enquanto diretoras lésbicas, a gente acredita que só existe transformação através de intervenção. Acreditamos que esse filme propõe um diálogo com quem pensa que existem vidas que valem menos que outras e que se não contarmos essas histórias, se não existirmos nas telas, se não construirmos um imaginário diferente, uma memória dessas vidas, a gente não muda essa realidade. Quantas heroínas travestis existem no cinema brasileiro? Quantas travestis a gente conhece? Quantas frequentam a nossa casa? A Mel também está nesse lugar de representar uma população sub-representada no nosso imaginário e nas nossas telas”, complementam.
Lo Que Queda en El Camino, coprodução Brasil/Alemanha, estreia na sessão das 15h no CineBancários. O documentário conta a jornada épica de Lilian, mãe solo, e seus quatro filhos, que deixam a Guatemala em busca de uma vida melhor. Eles se unem a uma caravana de milhares de migrantes, determinados a percorrer os mais de 4 mil quilômetros até a fronteira entre o México e os EUA. Apesar de todos os perigos do caminho, é sua maior esperança para buscar um novo futuro para ela e seus filhos.
O que foram as chanchadas
As chanchadas foram um gênero de filme brasileiro que teve seu auge entre as décadas de 1930 e 1950. Elas eram comédias musicais, misturadas com elementos de filmes policiais e de ficção científica. Esse tipo de humor, porém, não pode ser considerado uma invenção brasileira, pois fitas assim também eram comuns em países como Itália, Portugal, México, Cuba e Argentina. Quando o gênero chegou por aqui, a crítica nacional o considerava um espetáculo vulgar, por isso ele foi apelidado de chanchada – palavra de origem controversa, mas que pode ter surgido na língua espanhola, significando “porcaria”. A aversão dos críticos, no entanto, não prejudicou o sucesso de bilheteria desses filmes.
Apesar da influência do cinema americano, que volta e meia tinha filmes sendo parodiados, as chanchadas costumavam ser essencialmente brasileiras, tratando de problemas do cotidiano e fazendo humor com uma linguagem de fácil compreensão.
A estrutura das histórias era dividida em quatro partes: mocinho e mocinha se metem em apuros; cômico tenta protegê-los; vilão leva vantagem; vilão é vencido.
Cinema de resistência e democratização da cultura
A sala de cinema localizada no térreo da casa do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região (SindBancários) vem se consolidando há 15 anos como um espaço de resistência e democratização da cultura, exibindo produções de alta qualidade com ingressos acessíveis. Ao longo desse tempo, lançou mais de 300 filmes nacionais contemporâneos e inéditos – além das exibições de produções latino-americanas, outro ponto forte da programação.
Longe das salas comerciais, da distribuição de blockbuster, a programação valoriza a produção nacional e latino-americana com diversidade de temáticas, abordagens estéticas e linguagens. As estreias ocorrem quase que semanalmente, um marco para um local sem fins lucrativos.
Em abril deste ano, o CineBancários foi relançado com novos equipamentos de projeção, som e acessibilidade. Essa foi a primeira vez que o cinema passou por uma grande reformulação desde a inauguração, em outubro de 2008.
Com as mudanças, as projeções passaram a atender aos padrões DCI (Digital Cinema Initiatives) com uma significativa melhoria técnica do som e das imagens reproduzidas na tela. Agora, o cinema também está apto a oferecer ao público - quando o filme exibido possuir recursos de acessibilidade - equipamentos com dispositivos de audiodescrição e libras para até cinco espectadores por sessão.
O espaço cultural fica na Rua General Câmara, 424, no Centro de Porto Alegre. A programação pode ser vista pelo blog do cinema cinebancarios.blogspot.com e no Instagram da sala @cinebancarios. Mais informações pelo telefone (51) 3030.9405 ou pelo e-mail [email protected].
Estreias
Toda Noite Estarei Lá
Brasil/Documentário/2023/72min
Direção: Tati Franklin e Suellen Vasconcellos
Toda Noite Estarei Lá / Divulgação
Sinopse: Após sofrer uma agressão física por transfobia na igreja evangélica que frequentava, Mel Rosário, 58, reivindica seus direitos fazendo protestos em frente à igreja que a impede de frequentar os cultos. Enquanto luta por justiça, Mel encontra brechas para se reinventar e sobreviver no Brasil bolsonarista.
Elenco: Mel Rosário
Lo Que Queda en El Camino
Brasil/Alemanha, Documentário, 2021, 94min
Direção: Jacob Krese e Danilo do Carmo
Lo Que Queda En El Camino / Divulgação
Sinopse: A jornada épica de Lilian, uma mãe solo, e seus quatro filhos, que migram em busca de uma vida melhor. Ao deixarem a Guatemala, eles se unem a uma caravana de milhares de migrantes, determinados a percorrer os mais de 4 mil quilômetros até a fronteira entre o México e os EUA. Apesar de todos os perigos do caminho, essa é sua maior esperança de tentar um novo futuro para ela e seus filhos.
Greice
Brasil, Drama, 2024, 110min
Direção: Leonardo Mouramateus
Greice / Divulgação
Sinopse: Greice é uma estudante de Belas Artes que vive em Lisboa, Portugal. Quando se envolve em um acidente e fica suspensa por tempo indeterminado, ela decide voltar sem que ninguém saiba à Fortaleza, sua terra natal no Brasil, onde poderá praticar sua lábia profissional e conquistar todos ao redor.
Elenco: Jesuíta Barbosa, Isabél Zuaa, Lucas Galvino, Mauro Soares
* Com informações da assessoria de comunicação do CineBancários e revista Super Interessante
Edição: Marcelo Ferreira