Na luta de classes, nós, trabalhadores, já nascemos do lado que nos compete
Precisamos abrir os olhos para nosso papel na vida. Na verdade, para nossa serventia naquela que é a maior das causas: a boa luta. Aquela disputa que, cobrando aprimoramento da consciência e compromissos para com a extensão dos direitos humanos, para todos os humanos, exige enfrentamentos transformadores do que pensamos ser. Ou até mais do que isso, exige evolução em direção ao melhor de nós, para que quem sabe em algum momento consigamos assimilar a necessidade de empenho coletivo em defesa de direitos à vida extensivos à todas as expressões da luz que dança entre nós, na seiva das plantas, no sangue dos animais, no que lhe corresponde no reino dos fungos, entre as bactérias ou no plano das intuições que carregam mensagens espirituais além de nosso entendimento.
A boa luta.
Aquela que aponta as relações de interdependência como orientações atemporais fundantes de todos os metabolismos, da resiliência, do equilíbrio e do bem viver.
Por e para isso, precisamos acordar. E precisamos entender o significado do seu oposto. Daquilo que é caracterizado pelo avanço de todos os males, da podridão, da miséria em vida. Daquilo que se expressa nas risadas e abraços de grupos de homens menores, ávidos por medalhas que lhes fazem se dizer pretensamente iguais, entre canalhas que se imaginam imbroxáveis/imorríveis/incomíveis. Daquilo que alimenta o fascismo.
Não é irrelevante o fato de que o presidente argentino, agora com sua medalha de triplo-i, silencie, não expresse desacordo, em relação a senador de seu partido, que propõem ser direito dos pais, vender os próprios filhos.
Não nos enganemos. Isto corresponde ao que fazem aqueles parlamentares brasileiros que operam tanto em favor do descontrole sobre agrotóxicos causadores de alterações neurológicas, de deformações congênitas e da morte de fetos no ventre das mães, como se erguem em oposição à que crianças e mulheres estupradas possam realizar abortos com assistência da medicina legal.
Não podemos nos iludir com os lobos de pelagens distintas. Eles são parte da mesma alcateia. Trabalham juntos em favor da desigualdade e das injustiças, desprezam a ciência e estão articulados em escala global. Para eles, iniquidades, guerras, genocídios e tragédias ambientais são oportunidades de negócio. Pensam que não serão afetados porque não fazem parte daqueles grupos que vivem em zonas rurais e áreas insalubres, expostos a perder um filho, uma mãe, um irmão, ou as conquistas de uma vida de trabalho, diante de uma gripezinha epidêmica, uma queimada criminosa, uma enchente ou uma chuva de agrotóxicos.
Eles imaginam que, como controlam sistemas de informações deformadores da consciência popular, ficarão impunes porque a apatia das vítimas não será rompida.
Contam entre eles com atores dissimulados, gente que não faz escarcéu, que usa sapatênis e trata de operar na surdina. Gente do tipo que bate e esconde a mão, que fica atrás da moita enquanto age em favor do avanço de crimes contra a humanidade. Estes são os piores. O governador Leite tão somente se omitindo acaba de validar lei que criminalizará militantes de organizações sociais comprometidas com a construção de acessos a direitos constitucionais. Sabemos que no futuro ele dirá não haver motivos para identificação das responsabilidades daqueles que, favorecendo a repressão, estimulando a violência e colocando obstáculos a ações em favor dos desvalidos, tratavam apenas de se manter em boa posição, no bando dos que se pretendem invisíveis/imexíveis/impuníveis. Irresponsáveis, fragilizam a democracia enquanto estimulam o descumprimento de funções constitucionais como aquela que exige respeito à função social da terra.
O governador e seus aliados na Assembleia Legislativa gaúcha, assim como seus congêneres em escala nacional e internacional estão exacerbando o uso dos mecanismos intimidatórios que controlam. Eles pretendem impedir ações de entidades comprometidas com o esclarecimento da sociedade a respeito dos direitos que cabem aos filhos desta terra, bem como em relação aos deveres que temos de assumir, nas ruas, em defesa da vida e da democracia.
Todos precisamos enxergar e entender o que está acontecendo nestes casos. E para isso, dependemos de organizações sociais que, como a Comissão Pastoral da Terra (CPT), lutam contra a escravidão contemporânea, em favor da vida e da Reforma Agrária, da Agroecologia e da redução de injustiças que corroem as bases da Casa Comum.
Pois bem, neste sentido e para encerrar o texto vai aqui um chamado: neste mês a CPT está lançando sua Campanha Chega de Escravidão, que descortina não apenas a atualidade deste absurdo como também sua relação com interesses protegidos por aqueles governadores, parlamentares, formadores de opinião e inclusive grupos religiosos a serviço de mamom.
Trata-se de oportunidade para acessar elementos de sustentação à boa luta, que ajudarão tanto no esclarecimento daqueles/as que ainda não entenderam o que se passa, como no fortalecimento de iniciativas já avançadas em favor do bem comum.
No dia 16 de julho, às 9 horas (via zoom) o Seminário Chega de Escravidão apresentará dados sobre a temática e também sobre a Campanha. Confirme sua presença pelo formulário.
E esta é a maior das mensagens: Na boa luta não há escolhas... na luta de classes, nós, trabalhadores, já nascemos do lado que nos compete. E mesmo aqueles, entre nós, que foram capturados e que estão a serviço do capital, ainda que se acreditem imexíveis/incomíveis/imorríveis/inimputáveis, não passam de capachos, de pasto para animais maiores.
Eles também precisam da CPT para abrir os olhos e cair em si.
Uma música? Cair em si – Juliano Holanda.
* Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko