Rio Grande do Sul

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Cuidadania e pororocas da resistência

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Ações de resistência sempre precisam de agitação, exigem movimentos, mobilizações de rua e de massa, confrontos de pensamento e ideias, mutirões pela justiça social e pela democracia - Divulgação
Cuidadania é educação popular. Pororocas da resistência são Paulo Freire na veia

Cuidadania é palavra cheia de sentidos e significados, usada na Foz do Amazonas, Macapá/Amapá, aprendida dias atrás do educador popular e professor Benedito na 5ª Roda de Conversa Sociedade em Movimento, Participação e Ação, do Mutirão pela Democracia.

São palavras mais ou menos conhecidas, para quem é do Sul: florestania, açaí, álamos, ribeirinhos, territoricídio, ecocídio. Mas significam todas, ou têm relação, de um jeito ou de outro, com os processos de vida e morte que se vivem na Amazônia, assim como em muitos outros lugares do Brasil, tal como nos tristes acontecimentos recentes nos pagos gaúchos.

Disse Benedito: “Não importa onde você está, mas, sim, importa se empoderar nos territórios como sujeitos ativos e transformadores da participação. Com sombras e luzes, construir propostas formativas nas margens dos rios. Fazer o que nossos pais fizeram, cuidando do nosso lugar. No convívio com as águas e com a floresta. E construindo uma Rede de apoio e luta, juntando jovens, indígenas, negros, portugueses, todas e todos as e os que ocuparam as margens do rio Amazonas, e superar hoje o modelo de desenvolvimento excludente e predador. É a cidadania, são as pororocas de resistência. Empoderando-se nos territórios, nesta terra de saberes e sabores acumulados ao longo do tempo, recuperando a ancestralidade, fazendo a decolonização.”

Pororocas, que eu sabia, nunca são tranquilas. Não são ameaçadoras, mas também não são tranquilas. O termo pororoca é derivado do Tupi, e significa ´estrondo´. Corresponde a um fenômeno natural, onde acontece o encontro das águas de um rio com o oceano. O fenômeno torna-se mais evidente nas mudanças de fase da lua, especialmente na lua cheia e na lua nova.

Pororocas são como devem ser sempre todas as resistências: agitadas, em movimento, mexendo com pessoas, comunidades, poderes. Absolutamente necessárias e fundamentais nos tempos de hoje. E de todos os tipos.

Cuidadania, palavra bonita e poderosa. Junta o cuidado com a Casa Comum, tão necessário neste momento histórico, com cidadania, tão fundamental nestes tempos de ameaças à democracia e supressão de direitos, em especial para os mais pobres entre os pobres e o conjunto da classe trabalhadora.

Pororocas da resistência, outras palavras poderosas. Ações de resistência sempre precisam de agitação, de sair do seu lugar e tranquilidade, sempre exigem movimentos, mobilizações de rua e de massa, confrontos de pensamento e ideias, mutirões pela justiça social e pela democracia.

Unir, juntar Cuidadania com Pororocas da Resistência numa aliança, além de poderosa, é preciso. Como força política, força comunitária, força da palavra, força das ideias, ninguém soltando a mão de ninguém, em tempos de ultraneoliberalismo, neofascismo e de uma direita historicamente escravocrata. Unir, juntar, com os ribeirinhos da Amazônia, com os jovens de todas as querências, com os quilombolas em todos os lugares, com os indígenas de todas as florestas, com o povo pobre organizado na base popular Brasil afora.

Cuidadania é educação popular. Pororocas da resistência são Paulo Freire na veia, com formação na ação. Para construir, todos os dias, sem parar, sem descanso, a paz, com soberania, igualdade e democracia numa Sociedade do Bem Viver.

* Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko