Rio Grande do Sul

ENSINO SUPERIOR

Chapas que concorrem à Reitoria da Ufrgs apresentam propostas no último debate pré-eleição

Paridade de votos foi suspensa por decisão judicial às vésperas da consulta à comunidade, marcada para o dia 15 de julho

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Decisão judicial suspendeu votação paritária entre professores, alunos e técnicos para escolha da reitoria da Ufrgs - Foto: André Grassi / Rádio da Universidade / Ufrgs

Na tarde desta quarta-feira (10), na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), ocorreu o último debate oficial antes da consulta à comunidade para a eleição da nova Reitoria, marcada para a próxima segunda-feira (15).

O evento, realizado no Salão de Atos, contou com a participação das três chapas concorrentes, todas com mulheres como candidatas à reitora e homens como candidatos à vice-reitor. Apesar de a paridade de votos ter sido aprovada pelo Conselho Universitário (Consun) da Ufrgs nas eleições para a Reitoria, uma decisão judicial restabeleceu que os docentes terão peso de 70% dos votos, enquanto técnicos e discentes terão 15% cada.

Liliane Giordani, candidata pela Chapa 1, ressaltou a importância crucial de aprimorar o acolhimento oferecido pela Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE). Ela enfatizou a necessidade urgente de criar um ambiente onde os estudantes se sintam ouvidos e respeitados.

"Uma demonstração de quando a gente tem fragilidade no processo de diálogo é quando a gente precisa que estudantes ocupem os espaços da universidade para fazer as reivindicações, quando não tem o espaço de escuta. Isso leva a gestão a qualificar o processo de análise a criar estruturas que ainda tem muita demanda dentro da comissão de ingresso para que a gente qualifique e colabore com os nossos colegas servidores para que o processo seja mais ágil. Nós temos que melhorar muito no que diz respeito à nossa relação da PRAE, gestão, cargo pró-reitoria com os estudantes", afirmou Giordani.

A candidata da Chapa 2, Ilma Simoni Brum, destacou a preocupação central com os estudantes trabalhadores, propondo medidas concretas para reduzir a evasão e promover uma permanência mais eficaz na universidade.

"Nossas propostas concretas para diminuir a evasão e a permanência expandida desses estudantes aqui na universidade começam pela reorganização curricular. Em cursos onde é viável devido à carga horária, buscamos uma organização que permita aos alunos ter um turno livre. Isso possibilitaria que dedicassem tempo para estágios ou atividades remuneradas, proporcionando tranquilidade e bem-estar durante sua permanência na universidade. Nosso objetivo é que esses estudantes possam concluir seus cursos sem a necessidade de enfrentar uma carga excessiva de disciplinas a cada semestre, o que muitas vezes resulta em uma jornada acadêmica prolongada de até dez anos, comprometendo seu objetivo principal de melhorar sua qualidade de vida através da obtenção do diploma."

Brum também enfatizou a importância de garantir que a universidade seja um ambiente inclusivo e acessível para todos os estudantes, especialmente aqueles que enfrentam desafios adicionais de conciliar estudos e trabalho. Ela argumentou que "é fundamental não apenas pensar na formação acadêmica, mas também na realidade prática desses estudantes, que frequentemente têm responsabilidades financeiras e familiares. Ao promover uma reorganização curricular que atenda às suas necessidades, estamos não apenas apoiando seu desenvolvimento pessoal e profissional, mas também contribuindo para a equidade educacional dentro de nossa instituição".

A candidata da Chapa 3, Márcia Cristina Bernardes Barbosa, destacou a urgência de posicionar a Ufrgs como protagonista na busca por respostas de enfrentamento às mudanças climáticas, simbolizadas pelas recentes enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul. Sublinhando seu compromisso com a pesquisa e a sustentabilidade, ela propôs iniciativas concretas para enfrentar os desafios ambientais emergentes.

"Estamos aqui não apenas para reconhecer, mas para agir frente à emergência climática e ambiental. Propomos a criação de uma secretaria especial dedicada a essas questões, responsável por implementar soluções eficazes", afirmou. Além disso, ela enfatizou a importância de integrar avanços científicos com iniciativas práticas que promovam um futuro mais sustentável. Márcia argumentou que "é essencial que a Ufrgs assuma um papel de liderança na busca por soluções ambientais, utilizando nosso conhecimento e recursos para desenvolver projetos que não só mitigam os impactos ambientais, mas também fomentam um desenvolvimento sustentável de longo prazo".

Disputas no processo eleitoral 

O processo eleitoral para a Reitoria da Ufrgs de 2024 tem sido marcado por uma série de disputas administrativas e judiciais. Em novembro do ano passado, o Conselho Universitário (Consun) da Ufrgs aprovou uma mudança significativa: pela primeira vez, os votos de professores, técnicos e estudantes teriam peso igual na eleição. Anteriormente, os votos dos docentes correspondiam a 70% do resultado final, enquanto os demais segmentos representavam apenas 15% cada. A decisão visava democratizar o processo eleitoral, promovendo maior equidade entre os diversos segmentos da comunidade acadêmica.

No entanto, em março, a implementação dessa mudança foi temporariamente suspensa pelo então reitor Carlos André Bulhões. Na época, Bulhões justificou a decisão a partir de um ofício do Ministério da Educação (MEC), recebido pela universidade em janeiro, que lista instruções para envio da lista tríplice na escolha da Reitoria. O documento diz que "em caso de consulta prévia à comunidade universitária, prevalecerão a votação uninominal e o peso de 70% para a manifestação do pessoal docente em relação à das demais categorias".

Em resposta, uma outra resolução foi aprovada em maio, mantendo a paridade de votos e estabelecendo uma "consulta informal" à comunidade universitária. Esse processo garantiria que todos os segmentos tivessem o mesmo peso nos votos, com a votação formal a ser realizada pelo Consun posteriormente. A situação, porém, tomou um novo rumo no início de julho, faltando apenas dez dias para a realização da consulta à comunidade universitária para indicação aos cargos de reitor(a) e vice, marcada para acontecer na próxima segunda-feira, dia 15 de julho.

A juíza federal Ingrid Schroder Sliwka, da 5ª Vara do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, determinou a suspensão da votação paritária, restabelecendo o peso de 70% dos votos para os docentes e maior transparência de informações sobre a votação. As decisões foram resultado de duas ações judiciais, uma movida pela própria Ufrgs através do pró-reitor Geraldo Jotz, contestando a legitimidade da consulta organizada por sindicatos, e outra de autoria dos sindicatos Andes e Adufrgs, que representam professores, e Assufrgs, dos técnico-administrativos. O pedido foi para que a Justiça garantisse à Comissão da Consulta Informal o acesso ao sistema de eleição e aos dados dos votantes.

Sobre a retomada do peso maior para os votos de professores, a juíza acolheu o argumento de que a resolução do Consun que adotou o voto paritário violou o critério legal previsto no art. 16, III, da Lei nº 5.540/1968, que diz: "Em caso de consulta prévia à comunidade universitária, nos termos estabelecidos pelo colegiado máximo da instituição, prevalecerão a votação uninominal e o peso de setenta por cento para a manifestação do pessoal docente em relação à das demais categorias."

Chapa 1: "Virada na Ufrgs!" 

Composta por Liliane Ferrari Giordani e Carlos Alberto Saraiva Gonçalves, a chapa tem se comprometido com a inclusão. Liliane Ferrari Giordani, de 53 anos, figura reconhecida na Faculdade de Educação da Ufrgs, traz consigo um extenso currículo na área de Educação Especial. Graduada pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Liliane completou seu mestrado e doutorado na Ufrgs, destacando-se por seu papel no fortalecimento da inclusão e na formação de educadores. Desde 2011, sua atuação como professora tem sido marcada pelo engajamento em questões educacionais e sociais. 

Carlos Alberto Saraiva Gonçalves, 64 anos, complementa a chapa como candidato a vice-reitor, trazendo uma sólida formação em Medicina e Bioquímica. Com um percurso acadêmico que inclui doutorado na Universidade Federal do Paraná e pós-doutorado na Austrália, Carlos Alberto é professor na Ufrgs desde 1991, contribuindo significativamente para o avanço das ciências da saúde na instituição.

Propostas da Chapa 1

Paridade na consulta acadêmica: Liliane e Carlos defendem a paridade na consulta acadêmica, promovendo a igual participação de todos os segmentos da comunidade universitária na tomada de decisões.

Ampliação das ações afirmativas: Criarão uma Pró-Reitoria dedicada às ações afirmativas, apoiando comunidades vulneráveis e promovendo políticas de inclusão e permanência estudantil.

Recuperação da produção intelectual: Comprometem-se a revitalizar a produção intelectual da Ufrgs, restaurando o protagonismo do Salão Ufrgs e buscando um financiamento público estável.

Reconstrução pós-enchente: Diante dos desafios trazidos pelas recentes enchentes, propõem uma reconstrução sustentável e colaborativa de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul, mantendo a autonomia da universidade.

Experiência acadêmica e profissional: A chapa enfatiza a valorização da experiência acadêmica e profissional de seus membros, comprometendo-se a fortalecer os pilares da educação e pesquisa na Ufrgs.

Chapa 2 “Geração Ufrgs”

A Chapa 2 da Ufrgs, liderada por Ilma Simoni Brum da Silva e Vladimir Pinheiro do Nascimento, promete uma gestão pautada por políticas de acolhimento e permanência estudantil. Ilma Simoni Brum da Silva, 57 anos, possui uma carreira marcada por contribuições significativas na área da Fisiologia. Graduada, mestre e doutora pela Ufrgs, atualmente é diretora do Instituto de Ciências Básicas da Saúde (ICBS). Vladimir, diretor da Faculdade de Medicina Veterinária da Ufrgs, possui graduação e doutorado em Medicina Veterinária pela Ufrgs e pós-doutorado na Universidade de Glasgow, na Escócia.

Propostas da Chapa 2

Defesa da paridade na consulta acadêmica: Compromisso com a autonomia universitária e modernização dos estatutos para garantir a representatividade de todos os segmentos da comunidade acadêmica.

Promoção de ações afirmativas e Inclusão: Ampliação das políticas de acolhimento e permanência estudantil através de ações afirmativas, visando melhorar as condições de vida e estudo dos alunos.

Inclusão do aluno trabalhador: Implementação de turnos flexíveis para acomodar estudantes que trabalham, promovendo uma educação mais acessível e inclusiva.

Participação na reconstrução pós-enchente: Engajamento ativo na reconstrução de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul, com foco em medidas sustentáveis e preventivas.

Reversão da queda na produção intelectual: Incentivo à inovação e redução da burocracia para estimular parcerias de pesquisa e revitalizar a infraestrutura de pesquisa na Ufrgs.

Chapa 3: “Somos Unidades Ufrgs” 

A Chapa 3 da Ufrgs, liderada por Márcia Cristina Bernardes Barbosa e Pedro de Almeida Costa, apresenta uma proposta centrada na ciência, sustentabilidade e inclusão. Ambos os candidatos possuem uma trajetória acadêmica destacada nessas áreas. Márcia Cristina Bernardes Barbosa, comendadora da Ordem Nacional do Mérito Científico e membro da Academia Brasileira de Ciências, é uma renomada física e professora titular no Instituto de Física da Ufrgs. Com uma formação sólida na própria universidade, ela é reconhecida por suas contribuições para a ciência e pela defesa dos direitos educacionais.

Pedro de Almeida Costa, professor da Escola de Administração da Ufrgs desde 2010, possui uma carreira voltada para a gestão social e tecnologias sociais. Graduado, mestre e doutor em Administração pela Ufrgs, Pedro tem se dedicado à promoção de políticas públicas e à valorização do ensino superior como um pilar fundamental para o desenvolvimento social.

Propostas da Chapa 3

Defesa da paridade na consulta acadêmica: Márcia e Pedro reivindicam a autonomia universitária e modernização dos estatutos para garantir a representatividade de todos os segmentos da comunidade acadêmica.

Criação da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas: Prometem implementação de projetos para eliminar desigualdades históricas e promover a igualdade de oportunidades para todos os estudantes.

Congregação das iniciativas sobre mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável: Declaração de emergência climática na universidade e integração de temas ambientais nos currículos e identidade da Ufrgs.

Criação de um centro de projetos estratégicos para o desenvolvimento sustentável: Fortalecimento da pesquisa e produção intelectual voltados para soluções sustentáveis e inovadoras.

Fortalecimento da pesquisa e produção intelectual: Estímulo à colaboração entre pesquisadores e investimento na infraestrutura de pesquisa da Ufrgs.

Saúde mental na comunidade acadêmica: Expansão dos serviços de apoio psicológico e criação de redes de escuta para estudantes e servidores, visando o bem-estar integral da comunidade universitária.

Permanência da Ufrgs como instituição de ensino gratuita: Compromisso com a manutenção da gratuidade do ensino superior público e defesa contra políticas que ameacem esse princípio constitucional.

Legado da gestão: Reinvenção da universidade como um centro de excelência acadêmica, diversidade e sustentabilidade, promovendo a ciência e a tecnologia como ferramentas para a equidade social e a emancipação humana.

Assista à íntegra do debate final entre as candidatas à Reitoria da UFRGS

 


Edição: Katia Marko