Rio Grande do Sul

ADOÇÃO

Audiência Pública debate a situação dos animais resgatados nas enchentes no estado

Rio Grande do Sul tem mais de 15 mil animais alojados em 353 abrigos espalhados pelo estado

Brasil de Fato | Porto Alegre |
“O que aconteceu com a enchente foi trazer à tona um problema que não tem mais como esconder debaixo do tapete, que é a crise referente aos animais abandonados” - Foto: Raul Pereira / ALRS

Há pouco mais de dois meses do maior desastre climático do Rio Grande do Sul, mais de 15 mil animais (a maioria cães e gatos) seguem espalhados nos 353 abrigos do estado. Para tratar da questão dos animais resgatados durante as enchentes, a Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa gaúcha realizou, nesta quinta-feira (4), uma audiência pública.

Proposto pela deputada Luciana Genro (PSOL), o encontro contou com representantes do Ministério Público Estadual, protetores, protetoras, ONGs da causa animal e representantes do governo estadual e federal. 


Deputada Luciana Genro (PSOL) reuniu representantes do Ministério Público Estadual, protetores, protetoras, ONGs da causa animal e representantes do governo estadual e federal / Foto: Raul Pereira / ALRS

As prefeituras de Canoas e Porto Alegre, as duas cidades no topo do ranking de animais abrigados, foram convidadas para a audiência, mas não compareceram. Porto Alegre contabiliza 4.247 animais, em 161 abrigos. Já Canoas tem 5.391 espalhados em 72 abrigos. Mais de 88% dos animais em abrigos são cães e 10%, gatos.

“O que aconteceu com a enchente foi trazer à tona um problema que não tem mais como esconder debaixo do tapete, que é a crise referente aos animais abandonados”, destacou Lúcia Luz, defensora da causa. 

Durante a audiência voluntários e protetores de diversos abrigos relataram as dificuldades pelas quais têm passado, citando desamparo por parte dos governos, exaustão física e mental e falta de verbas para suprir a demanda. 

A promotora de Justiça Annelise Steigleder se emocionou ao falar sobre a situação dos protetores no Estado. “Eu vejo as voluntárias do Centro Vida, que é um abrigo com o qual eu mantenho bastante contato, elas estão realmente numa situação de muita dificuldade com a escassez de voluntários. Agora começaram a aparecer também os custos relacionados à manutenção desses espaços, com contas de luz e água que estão chegando”, destacou.


Voluntárias do abrigo no Centro Vida expuseram a situação de muita dificuldade / Foto: Raul Pereira / ALRS

“Esse trabalho de cuidado com os animais abandonados não pode ficar só nas costas dos voluntários, isso é uma desumanidade também com as pessoas, que acabam muitas vezes com suas vidas desestruturadas. É preciso políticas públicas permanentes, lutar por isso é a nossa tarefa”, afirmou Luciana Genro.

Marco Torres, do abrigo Mathias Velho, em Canoas, que chegou a atender cerca de 4 mil cães, ressaltou a preocupação com a questão das zoonoses, já que diversos animais resgatados chegam doentes. A cinomose, a leishmaniose e a parvovirose têm se espalhado entre os cães dentro dos abrigos. Além da questão da leptospirose, cujos casos não estão sendo contabilizados nem controlados pelo governo.

Políticas Públicas 

A diretora do departamento de Proteção, Defesa e Direitos Animais do Ministério do Meio Ambiente, Vanessa Negrini, ressaltou a questão da falta de ação dos governos municipais, que não têm solicitado os recursos disponibilizados pelo governo federal. “Se todos os municípios afetados tivessem solicitado esses recursos, o montante disponibilizado para causa animal no Estado seria de mais de R$ 22 milhões. Para vocês terem uma ideia do tamanho desse recurso, seria suficiente para castrar 80 mil animais”, pontuou a diretora.


diretora do departamento de Proteção, Defesa e Direitos Animais do Ministério do Meio Ambiente, Vanessa Negrini, ressaltou a questão da falta de ação dos governos municipais / Foto: Raul Pereira / ALRS

A deputada Luciana Genro reforçou que é necessário chegar a um equilíbrio entre a participação da sociedade civil e das ONGs e a intervenção dos governos. Ederson Barreto, do GRAD, expôs as propostas apresentadas pelo grupo para o governo, como alternativa à adoção financeiramente incentivada proposta pelo governador Eduardo Leite e rechaçada por ONGs e voluntários.

“Eu não vou descansar enquanto não conseguir criar políticas públicas permanentes para os animais no Rio Grande do Sul”, finalizou Luciana Genro. 

O governo do estado chegou a anunciar um projeto com o objetivo de incentivar adoção de animais resgatados em enchentes. Pela proposta o governo pagaria R$ 450 por animal adotado. Após criticas de ativistas da causa ambiental, o governo retrocedeu e estudará uma nova proposta de incentivo à adoção responsável dos animais em abrigos.

Encaminhamentos

Dentre as propostas apresentadas pelos representantes do Grupo de Resposta a Animais em Desastres (GRAD), estão o processo de adoção: triagem, entrevista, assinatura de termo e pós-adoção com orientação sobre custos e responsabilidades. Além de um guia para adotantes com padrões de bem-estar, acompanhamento pós-adoção via app e visitas presenciais, doação de animais castrados ou com garantia de castração, vacinação contra doenças infectocontagiosas, controle de endo e ectoparasitas. Também propuseram a microchipagem e cadastro de todos os animais, o atendimento veterinário em hospitais universitários e clínicas credenciadas por um ano e a execução do projeto de adoção com coordenação de uma ONG ou parceria técnica.

A audiência encerrou com diversos encaminhamentos, entre eles a participação de um representante da Assembleia Legislativa na reunião do governo estadual que deve acontecer na próxima semana. Também irá se buscar chegar a um acordo para que as ONGs façam parte da estruturação da proposta do governo em relação aos animais, já que são elas que já conhecem a rotina e o que é necessário para o bem estar desses animais.


Edição: Katia Marko