A Comissão de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial, presidida pela Deputada Federal Daiana Santos (PCdoB-RS), receberá, nesta quarta-feira (3), no Anexo II, Plenário 09, da Câmara dos Deputados, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, para discutir os gastos e ações do ministério durante a enchente no Rio Grande do Sul. No encontro também será debatido o impacto do desastre climático
Segundo pesquisa do Instituto Datafolha, a população negra, pobre e com menor escolaridade foi a mais afetada em termos de perdas de patrimônio e renda nas enchentes.
De acordo com o levantamento, quase metade (47%) das famílias que ganham até dois salários mínimos relataram ter perdido casa, móveis, eletrodomésticos ou o próprio sustento, seja através do emprego ou da própria empresa. Já entre aquelas que ganham de cinco a dez salários, só 13% relatam algum tipo de prejuízo.
Em relação a questão racial, mais da metade (52%) dos pretos nos municípios afetados relata algum tipo de perda com as enchentes. Entre os pardos, 40% respondem que teve algum tipo de prejuízo. Entre a população branca dessas mesmas cidades, a proporção de entrevistados que relata alguma perda material ou de renda é de 26%.
No quesito educação, dos que estudaram até o ensino fundamental, 46% relataram prejuízo com as enchentes. Já os de nível superior, foram 26%, que relataram ter perdido algum patrimônio ou a fonte de sustento com a tragédia.
A pesquisa foi feita com 567 entrevistas no estado. De acordo com o instituto, a margem de erro máxima para essa amostra é de 4 pontos percentuais para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%. Para a Região Metropolitana de Porto Alegre a margem de erro é de 5 pontos, e nas cidades gaúchas do interior é de 7 pontos.
Conforme apontou a reportagem de Tulio Kruse e Felipe Prestes, os dados do Datafolha confirmam um aspecto já enfatizado em outras pesquisas científicas sobre as mudanças climáticas, que é a probabilidade maior de que eventos extremos atinjam mais as populações que já são vulneráveis do ponto de vista socioeconômico.
Na avaliação da deputada Daiana Santos, essa situação é um reflexo do processo histórico de negligência sofrido pela população negra no RS:
"Toda essa invisibilização e dificuldade de acesso a políticas públicas básicas reflete na realidade atual da população negra no RS, que ainda vive majoritariamente em áreas precárias e abandonadas pelo poder público. Um grande exemplo desse racismo ambiental é o que ocorreu no Sarandi e demais comunidades de Porto Alegre."
A presidenta da Comissão de Direitos Humanos também destacou o esforço do Ministério da Igualdade Racial para ajudar a população negra, quilombola e comunidades tradicionais de terreiro.
Segundo levantamento do Conselho do Povo de Terreiro, pelo menos 750 terreiros foram atingidos pela catástrofe climática, muitos deles totalmente destruídos.
"A ministra Anielle Franco esteve aqui conosco, reafirmando o compromisso com nosso povo na busca por investimentos para a reconstrução dos espaços dos povos tradicionais de matriz africana e para a aquisição de alimentos nas cozinhas comunitárias das periferias. Neste momento de caos, a população negra e pobre é a que mais sofre as consequências dessa tragédia climática", afirmou a deputada.
* Com informações da Folha de São Paulo.
Edição: Katia Marko