Rio Grande do Sul

MOBILIZAÇÃO

Moradores de regiões de Porto Alegre que ainda sofrem por conta da enchente exigem soluções da prefeitura

Na noite de sexta, manifestação foi realizada no Sarandi; já na tarde de domingo, moradores do Guarujá saíram às ruas

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Moradores do Sarandi protestaram na noite de sexta-feira (28) exigindo solução para problemas da enchente - Foto: Carlos Messalla

Dois meses após o início das cheias no Rio Grande do Sul, moradores de alguns bairros de Porto Alegre ainda sofrem por conta da enchente e cobram soluções das gestões do prefeito Sebastião Melo (MDB) e do governador Eduardo Leite (PSDB) para que a vida possa voltar à normalidade. Na sexta-feira (28), a população foi às ruas no bairro Sarandi, bairro fortemente impactado na Zona Norte da Capital. Já no domingo (30), o protesto foi de moradores do bairro Guarujá, na Zona Sul.

A manifestação no Sarandi reuniu moradores revoltados pela demora no recolhimento dos entulhos, do conserto de escolas e do dique rompido durante à enchente, que leva medo à população a cada ameaça de chuva. O ato contou com a participação de sindicatos, movimentos sociais e partidos políticos.

Moradora do bairro, Joselaine Modesto perdeu tudo na enchente, ficou em abrigo e, ao retornar para casa, não vê muitas perspectivas com relação a soluções. “Desde 2013 a gente vem pedindo ajuda, tivemos várias cheias ao longo dos anos e, para a prefeitura e governo do estado, parece que não aconteceu nada porque as coisas aqui para o nosso bairro não estão acontecendo”, conta.


Joselaine cobra ação do pode público para que moradores possam voltar para casa com tranquilidade / Foto: Carlos Messalla

Ela afirma que as pessoas vivem preocupadas e com medo do dique rompido. Mesmo assim, Joselaine diz que continuará lutando. "Eu já perdi muita coisa, mas eu não vou sair de onde eu vivi e me criei por causa da falta de preocupação do poder público, principalmente por conta desse prefeito (Melo) que governa para os ricos", criticou.

Arlidiaria Antunes, também do Sarandi, fala da tristeza das crianças sem escola. "Parece que Alguém jogou uma bomba e não tem mais as coisas delas, tu passa nas escolas e é muito triste”, afirma, lembrando de diversas instituições na região que foram afetadas e não retornaram às aulas. “Não tem mais o barulho das crianças, não tem mais crianças brincando e estudando, elas estão sem ver os amigos", lamenta.

Para ela, as crianças do bairro precisam de uma solução rápida. "As alternativas que apresentaram de trocar de escola não são eficazes, muda a vida das pessoas, muitas não podem ir, há também relatos de crianças sofrendo bullying nas novas escolas, então peço atenção as escolas do bairro que foram atingidas, nós adultos lutamos como podemos, mas as crianças estão sofrendo muito mais, se já não bastasse o trauma das casas delas invadidas pelas águas”, afirma, endereçando a reivindicação ao prefeito Melo e ao governador Leite.

Presente no ato, o secretário-geral do Sindicato dos Servidores da Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (Sindjus), Fabiano Zalazar, destacou a importância em apoiar os movimentos populares. Lembrou que, assim como os moradores, o sindicato também sofreu com os alagamentos em Porto Alegre.


Para Fabiano "essa tragédia toda tem nome e sobrenome, não é obra do acaso" / Foto: Carlos Messalla

“A gente perdeu tudo, o sindicato fica na junção da Cidade Baixa e do Menino Deus, sofremos também devido à omissão e incompetência do prefeito, que na véspera disse que não ia subir a água e, faltando umas duas horas para começar o alagamento, vai pro Instagram dizer 'evacuem suas casas'.” O que para Fabiano demonstra “preocupação com a especulação imobiliária e com os mais ricos” enquanto a população mais pobre “está cada cada vez mais desassistida”.

O dirigente recordou que o ano é de eleições municipais “e as pessoas estão escutando e se colocando nesse espaço". Mas para ele a luta é o ano inteiro e é essencial nas ruas. “As pessoas têm memória curta, infelizmente, mesmo numa calamidade como essa, mas os que estão aqui, que sentiram na pele, jamais vão esquecer o que aconteceu, essa tragédia toda tem nome e sobrenome, não é obra do acaso, e a gente sabe que eles têm responsabilidade”.

O secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios (Sintect RS), Alexandre Nunes, lembrou que mais de 400 trabalhadores dos Correios foram diretamente atingidos pelas enchentes no estado. “Muitos são moradores aqui do bairro Sarandi, por isso o sindicato está inserido em todas as lutas por reparação, por melhorias. Estamos aqui exigindo da prefeitura atenção e que traga soluções para esses bairros de periferia”, defendeu.


Moradores do Sarandi reclamam da demora da prefeitura em recolher os entulhos das ruas após a enchente / Foto: Carlos Messalla

Para Alexandre, é preciso intensificar as mobilizações. “A gente viu a Fiergs pedindo R$ 100 bilhões, a gente viu o alto empresariado pedindo grana, e a gente sabe que vão levar, então o trabalhador precisa se organizar e se mobilizar para pegar sua parte também, senão vamos ficar para trás, como infelizmente o pessoal do do Sarandí ficou, o estado não olha para a população pobre, não olha para o trabalhador, ele olha pela burguesia, pro grande empresariado que sempre leva a maior fatia", opinou.

Moradores do Guarujá estão "esquecidos"

Já no domingo, moradores do bairro Guarujá protestaram em meio a novos alagamentos do Guaíba, que na última semana voltou invadiu ruas e casas. O final de semana foi marcado por vento sul, que elevou as águas na região.

Muitos já retornaram a suas casas, outros de áreas mais baixas vivem na incerteza. Há diversas casas destruídas junto ao Guaíba. Durante a manifestação, o grupo que se organizou a partir das redes sociais cobrou a presença do prefeito Melo, que mora no bairro, mas está vivendo em um hotel desde o início das cheias na Capital.

Ao Sul 21, Fernanda Longuave Vasconcellos, uma das organizadoras do protesto, disse que boa parte dos moradores que têm os fundos para o Guaíba não querem ir embora, mas sim uma contenção atrás das casas. “A gente precisa muito de limpeza dos terrenos, boca de lobo, está tudo entupido, todos os ralos aqui. Sobe água muito rápido. A gente está reivindicando também porque estamos sem assistência social, o CRAS não tem informação, a maioria das pessoas não recebeu os auxílios. A gente está precisando do bônus moradia, pra quem quer sair. Por exemplo, eu sou uma das pessoas que quero sair.”

Ela afirma que os moradores estão “esquecidos” e precisam de muitas doações de móveis, eletro, comida e água. “Ninguém vem aqui, todo mundo focado, Sarandi, Zona Norte. A gente precisa de auxílio pra toda essa rua aqui, a gente está muito perdido, tem muita gente que tá pagando aluguel do seu bolso, não sei de como que essas pessoas estão trabalhando, devem estar fazendo faxina, esse tipo de coisa, porque a maioria foi desempregado por não poder ir trabalhar. E a gente precisa de auxílio para microempresas, porque aqui a gente tinha padaria, bar, tudo foi perdido completamente", aponta.

Os moradores do Guarujá criaram uma página no Instagram onde compartilham a situação de famílias atingidas e o pix de cada uma para quem quiser contibuir com a reconstrução.


 
 

 

 

Edição: Katia Marko