O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou o plano nacional para reduzir os impactos das mudanças climáticas (Lei 14.904/2024) na última quinta-feira (27), durante a 3ª reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), conhecido como "Conselhão", que reúne representantes do Executivo e da sociedade civil. A sanção ocorreu após as enchentes catastróficas que assolaram o Rio Grande do Sul entre abril e maio.
A Lei 14.904/24, aprovada pelo Congresso no início de junho, estabelece diretrizes detalhadas para a criação de planos de adaptação em nível nacional, estadual e municipal. Originada no Projeto de Lei 4129/21, de autoria da deputada Tabata Amaral (PSB-SP), a legislação promove o monitoramento e avaliação das ações, além de fomentar a articulação entre órgãos federais, estados, municípios e setores socioeconômicos. O objetivo é complementar a Lei 12.187/09, que criou a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC).
Segundo a nova lei, as medidas de adaptação às mudanças climáticas serão baseadas em evidências científicas e análises de cenários do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), garantindo a participação social dos grupos mais vulneráveis e dos representantes do setor privado. Os planos deverão ser revisados a cada quatro anos e integrados à Política Nacional de Proteção e Defesa Civil e à Estratégia Nacional de Segurança de Infraestruturas Críticas.
Planos locais
O plano nacional deverá estabelecer diretrizes para a criação de planos estaduais e municipais e definir ações e programas para auxiliar os governos locais na formulação de seus próprios documentos. O Fundo Nacional sobre Mudança do Clima poderá financiar essa implementação. Entre as diretrizes gerais estão o enfrentamento dos efeitos atuais e previstos das mudanças climáticas; a criação de instrumentos econômicos, financeiros e socioambientais para adaptação dos sistemas naturais, humanos, produtivos, de infraestrutura e a integração entre estratégias locais, regionais e nacionais para redução de danos e ajustes às mudanças.
O relator na Comissão de Meio Ambiente do Senado, Alessandro Vieira, do MDB sergipano, destacou que a proposta pode evitar prejuízos ambientais. "Aqueles que ainda persistem na ignorância com relação às mudanças climáticas efetivamente deveriam buscar um auxílio médico porque não há como confrontar mais. É fundamental que o Poder Público se articule para planejar adequadamente suas políticas públicas com foco na adaptação à nova realidade, de modo a evitar o máximo possível os prejuízos ambientais, econômicos e sociais que se avizinham. Assim, esses planos serão instrumentos de maior importância."
As ações de adaptação devem estar vinculadas aos planos de redução de emissões de gases de efeito estufa, alinhando-se obrigatoriamente ao Acordo de Paris, assinado em 1992 sob a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima.
Prioridades
Entre as prioridades do plano estão a segurança alimentar e hídrica, saúde, educação e infraestrutura de comunicação, energia, transporte e água. O setor agropecuário será pressionado a se adaptar ao Plano ABC, que promove a economia de baixa emissão de carbono na agricultura.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, destacou a importância estratégica do plano: "Esse projeto cria mecanismos para enfrentarmos a agenda de adaptação de forma estratégica, saindo da gestão de desastres para a gestão de riscos, alinhado com o Plano Clima e o Plano de Emergência Climática".
Edição: Katia Marko