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Chamando a força dos caboclos, o poder da cura vai se manifestar

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Julian Assange, fundador do WikiLeaks, desembarcou na Austrália nessa quarta-feira (26), após acordo com EUA - Reprodução/Twitter/WikiLeaks
Animados pelos enormes sucessos alcançados pelos Davis modernos, devemos ir à luta

As vitórias da sociedade organizada, embora nem tão organizada assim, nesta semana, devem ser festejadas como instrumentos de valor gigantesco para a conscientização coletiva e a construção de processos de emancipação humana.

Nada mais expressivo, mais simbólico, neste sentido, do que a libertação do Julian Assange.

Mas houve também o sucesso do povo boliviano, que, indo às ruas, bloqueou a tentativa de mais um golpe contra a democracia daquele país. Ocorrido logo após o descobrimento da maior reserva internacional de lítio, riqueza mineral essencial a ramos específicos da indústria moderna, aquele fato esclarece conexão estreita entre os atuais projetos imperialistas e as zonas de sacrifício por eles escolhidas como suas reservas de domínio extrativista.

Com a frase emblemática “Vamos dar golpe em quem quisermos”, Elon Musk esclareceu a dimensão do descaso do capitalismo internacional para com a opinião e o destino dos povos. Esclareceu também suas ligações com a extrema direita internacional e o nível de desrespeito do capital para com os direitos humanos e os valores democráticos.

Felizmente, a mobilização do povo boliviano impediu que lá ocorresse tragédia semelhante àquela que aqui no Brasil – para nos roubar o pré-sal, privatizar serviços públicos essenciais e nos submeter à condição de colônia – depôs a presidente Dilma Roussef; prendeu o presidente Lula; estabeleceu o teto de gastos, que impede avanços nas áreas da educação e saúde do povo brasileiro; queimou biomas; e acabou entronizando no Poder Legislativo aqueles chantagistas das bancadas do boi, da bala, da bola e da bíblia.

Pois bem, no caso da libertação de Assange, a vitória deve ser assumida como emblemática e entusiasmante, na linha daquele sonho que sonha junto e vira realidade. Em renovação simbólica daquele confronto bíblico de desfecho improvável, onde o menino David derrotou o Gigante Golias, Assange venceu o imperialismo estadunidense. E o fez porque não estava sozinho, mas porque contava com o apoio objetivo, ou pelo menos moral, de todos os afetados ou ameaçados pelos mesmos mecanismos de opressão.

Neste caso também estava em jogo a validação ilimitada de sistemas de controle impostos ao espírito humano por interesses das classes dominantes, relacionadas a impérios industriais globalizados. O governo estadunidense, sendo colocado a nu pelas denúncias do Wikileaks, reagiu da forma que os gigantes sempre consideraram de direito fazer: tratou de desmoralizar, silenciar, destruir, reescrever e generalizar a divulgação de versões convenientes a seus interesses. Acontecia com Assange uma prática tão inaceitável como comum, que vinha se generalizando em todos os ambientes, até que, agora, graças ao protagonismo da sociedade internacional, se revelou frágil e veio ao chão.

Quem não conhece, ou até mesmo não sofreu experiência daquele método? Difamações, ameaças, perseguições, amordaçamento e captura dos meios de validação das informações consideradas inconvenientes aos interesses do império e seus vassalos regionais. A prisão de Assange simplesmente ilustrou, em escala global, aquelas tentativas de desmoralização de emissários para abafar suas mensagens. Conhecemos bem isso no Brasil, com aqueles rótulos gritados para desconstruir a importância dos conteúdos, no caso de todas as lutas contra todas as injustiças e desigualdades.

Em outras palavras, assim como Julian Assange foi chamado de estuprador; Papa Francisco, de comunista; e Lula, de ladrão, são inúmeros os exemplos que operam em dimensões menores, em tentativas de reduzir o papel de pessoas comprometidas com lutas contra as iniquidades.

Muito importante, ainda nesta semana, o espaço ocupado em Conferência Internacional – Rumo ao um Marco Regulatório Internacional Para Agrotóxicos por protagonistas nacionais e internacionais que sofreram e sofrem pressões semelhantes em seus esforços permanentes em favor da vida.

E nisso tudo, nas campanhas pela saúde humana e ambiental, em defesa da democracia e da liberdade de imprensa, tanto o ativismo da sociedade organizada se mostra essencial como seus sucessos tendem a ser crescentes, posto que são estimulantes e contagiosos.

No caso de Assange, com o tempo restará evidente o papel decisivo do Brasil. As falas de Lula, como presidente de uma das dez maiores economias globais, viraram o jogo e revelaram de forma inequívoca tanto a importância deste país, como a dimensão de nosso maior líder, em relação ao conjunto das nações e em defesa dos direitos humanos universais.

Este fato também esclarece intencionalidades responsáveis pelos ataques que o projeto do governo Lula vem sofrendo, tanto de forma explícita por agentes do capitalismo internacional e seus oportunistas locais obscurantistas, como de forma nojenta, por ratos golpistas que se mantém ativos, obstruindo avanços, nas entranhas do metabolismo governamental e em instâncias chave dos poderes Legislativo e Judiciário.

É por isso que, animados pelos enormes sucessos alcançados pelos Davis modernos, devemos ir à luta.

As disputas eleitorais do Brasil já estão em andamento. De seus resultados, do perfil ético, moral e humanista dos que vierem a ser eleitos, bem como do comprometimento com a vida e com a redução das desigualdades e injustiças que afetam nossos povos e territórios, dependerá o futuro.

Uma música? Cura da Floresta, Txai Fernando.

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Marcelo Ferreira