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Seleção Canarinho: resgate da paixão está só começando

Uso de símbolos pela extrema direita e venda de jogadores muito jovens para Europa contribuíram para distanciamento

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Jogador Vini Jr é exponente na luta antirracista - Rafael Ribeiro/CBF

A seleção Canarinho tenta resgatar a  paixão do torcedor brasileiro. A 48ª Copa América está sendo disputada nos Estados Unidos e Vinícius Jr é nossa principal esperança de bom futebol e resgate da camisa verde amarela.

Antes que eu esqueça, o Brasil estreou nessa segunda-feira (24), às 22h de Brasília pela Copa América, jogou de certa forma bem, tentou, pressionou, teve gol anulado pelo VAR, por fim, um zero a zero contra a Costa Rica, mas vamos lá, o resgate está apenas começando.

O que está acontecendo? O amor do brasileiro pelo futebol nunca findou, já a relação do torcedor com a seleção não é das melhores, se falarmos só de Copa do Mundo, são mais de 20 anos sem título. Copa América, a última perdemos dentro do Maracanã, mas junta-se à seca de títulos, o mau futebol jogado em vários momentos, justo quando reunimos os melhores jogadores do país.

O capitalismo, sempre ele! Outro ponto que começou a "pegar" neste distanciamento entre torcida e seleção é o fato de vários craques serem negociados cedo demais, clubes do exterior com seus euros e dólares levam sem dó e piedade nossos jovens atletas. Estes jogadores não criam uma  relação com o torcedor  brasileiro, até os anos 1980 e começo dos 1990 ainda tínhamos relações duradouras dos jogadores com os clubes e torcidas. Hoje o capital fala mais alto, mostrando suas garras, chegando a ser cruel com o esporte mais popular do Brasil.

Fascismo de verde amarelo. Além da questão esportiva e do capitalismo, nos últimos anos, vimos muitos atletas brasileiros se voltando até mesmo contra suas origens, são pessoas de lugares muito humildes, mas ficam ao lado de políticos ligados à extrema direita, políticos que defendem pautas da burguesia e o conservadorismo dos trópicos. A atitude destes jogadores afastou de vez  boa parte da torcida e, para completar esta "ode" à direita, os fascistas raptaram a camisa da nossa seleção, virando um símbolo do que existe de mais rasteiro por aí.

Enfim alguém do lado certo! Mas temos bons ventos a nosso favor, a figura de Vinícius Junior e toda a luta incansável contra os racistas espanhóis e de todo o planeta fez do nosso jogador uma referência, não só pelo grande futebol, mas pela atitude e pela coragem de lutar contra um sistema apodrecido, que fecha os olhos para situações como o racismo e outras mazelas da nosso sociedade. Vini Jr rompe com essa sequência de jogadores sem o mínimo de consciência de classe. Vinícius é muito importante, inclusive para inibir idiotas de plantão que circulam no "escrete canarinho". Vinícius não quer privatizar praias, ele luta por respeito e dignidade ao seu povo. 

Caminhamos para a redenção! Quem sabe, possamos logo mais colocar a camisa da seleção sem sermos vistos como alienados ou negacionistas. O resgate, mesmo devagar, já está sendo feito, tanto no desejo de ver a seleção brasileira, como no orgulho de vestir a camisa verde amarela. Aliás, devemos deixar bem claro: ela não é dos fascistas, nem tão pouco da pequena burguesia. A seleção e a camisa verde amarela são da Rainha Marta, da Madonna, da Pablo Vittar e do grande Vini Jr, são símbolos do povo mais humilde do Brasil. Isso tudo é um exercício diário de luta, já tardou o resgate acontecer.

* Carlos Messalla é fotógrafo.

** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

Edição: Marcelo Ferreira