Cabe a cada um de nós ajudar para que outros se informem sobre quem é quem na política gaúcha
Afundados nesta crise que decorre da confluência de impactos do aquecimento global, da destruição de legislações protetivas e da degradação ambiental patrocinados pelo agronegócio ecocida, temos dificuldade para avaliar o que ainda está por vir. E o futuro pode ser pior.
Isso porque, de um lado, no Congresso Nacional seguem tramitando formulações assustadoras, defendidas por negacionistas comprometidos com interesses do modelo de produção destruidor do ambiente, que nos trouxe a este ponto. Entre eles, destacam-se os componentes da Bancada Ruralista. Composto por 63% dos deputados federais (324 de 514) e 61% dos senadores (50 em 81), este grupo possui entre seus destaques o deputado Alceu Moreira, do MDB-RS, e o senador Luiz Carlos Heinze, do PP-RS.
Pois bem, o deputado Alceu Moreira está propondo, por meio do Projeto de Lei (PL) 364/2019 (o qual conta com apoio de relatório favorável apresentado na Comissão de Constituição e Justiça pelo também deputado gaúcho Lucas Redecker, do PSDB-RS), a eliminação do pouco que nos resta de proteção aos campos nativos e outras formações não florestais.
Já o senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) pretende (por meio do PL 1282/2019) enfiar obras físicas nas Áreas de Preservação Permanente que, na prática, eliminarão suas condições de APP. Evidentemente, estes e outros gaúchos que são defensores do Pacote do Veneno e do Pacote da Destruição devem ser reconhecidos, no mínimo, como co-responsáveis pelas consequências de suas articulações sobre nossas vidas.
E é neste sentido que penso ser importante agregar algumas informações recentes, em apoio à reflexão de eventuais interessados nesta questão.
Vejam que, com o nível das águas baixando precisaremos nos preocupar com o que foi arrastado por elas. E, para isso, percebo como de extrema relevância o estudo que foi apresentado ao Fórum Gaúcho de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos, no dia 14 de junho, pelo professor doutor Danilo Rheinheimer dos Santos, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Ao examinar a presença de agrotóxicos no solo das lavouras, nos sedimentos depositados carregados pelo escorrimento das águas da chuva, na própria água e em populações de microrganismos estabelecidos em rochas, sedimentos e madeira submersos em água (biofilmes), foram encontrados resultados alarmantes. É importante que esta pesquisa venha a ser lida e discutida em seus detalhes, que aqui só serão arranhados.
Vejam que, apenas no caso do herbicida glifosato e seu principal produto de degradação biológica, o ácido aminometilfosfônico (AMPA), foi identificado que suas concentrações médias alcançariam, respectivamente, 128,4 e 448,8 microgramas por kg de solo.
Embora nos biofilmes a presença se mostre ainda mais expressiva (2.248,6 e 1.852,4 microgramas por kg de biofilme) e ainda considerando que o estudo avaliou também resíduos dos herbicidas 2,4D e atrazina, bem como do inseticida imidaclopride e do fungicida tebuconazol, quero destacar, neste ponto, unicamente aqueles primeiros números: a presença de um herbicida e seu produto de decomposição (que é mais tóxico), nos sedimentos de solo carregados pela água.
O ponto é o seguinte: aquela coloração das águas vermelhas que observamos nesta enchente se deve aos sedimentos de solo carregados em direção ao oceano. O principal fator de alimentação daquela mancha vermelha são os solos de lavoura pulverizados, compactados, envenenados e desprotegidos de cobertura vegetal em função do pacote tecnológico do agronegócio.
E o volume dos sedimentos que chegou à Lagoa dos Patos neste período foi algo como 10 mil toneladas dia. Desconte-se aí o que ficou pelo caminho, depositado no interior das casas inundadas, nas áreas cultivadas com alimentos orgânicos, nas escolas, creches, restaurantes, oficinas, hospitais e outros espaços inundados, e será possível ter uma ideia pálida do tamanho do problema que os defensores dos agrotóxicos e do modelo de agronegócio, que potencializa seu uso, estão jogando sobre a vida de todos os gaúchos.
Limitações de espaço não permitem apresentar aqui a descrição das implicações envolvendo o contato de cada um destes e outros agrotóxicos sobre o metabolismo de todos os seres vivos. Para isso, reporte-se ao Dossiê Abrasco ou a alguma das muitas fontes disponíveis no site da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida. Aqui, considere-se tão somente que não existem meios de retirar os agrotóxicos da água que consumimos.
Por estas e outras, cabe a cada um de nós ajudar para que outros(as) se informem a respeito de quem é quem na política gaúcha. Em breve, teremos nova rodada de escolha das pessoas que nos representarão nas câmaras de vereadores e nas prefeituras. Estas pessoas são fundamentais para a definição de políticas defendidas por deputados, senadores e governadores. Dentre estes, aqueles muitos que fazem parte dos grupos que se beneficiam com nossa desgraça, com certeza não merecem a consideração e os votos de suas vítimas.
Uma música?
De Chico Buarque, Acorda Amor.
* Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
Edição: Marcelo Ferreira