Os três últimos dias chuvosos fizeram o medo chegar até os moradores de áreas que já tinham sido alagadas na região Metropolitana de Porto Alegre. Muitas destas áreas ainda possuem lixo da frente de suas casas, outras tantas estão apenas iniciando a limpeza após as enchentes de maio.
Neste cenário já complicado, a meteorologia apontou mais chuvas para o Rio Grande do Sul, desencadeando inúmeros gatilhos e aflições na população já extremamente castigada. O servidor público Carlos Eduardo, 42 anos, de Porto Alegre, relata todas as dificuldades enfrentadas.
“Vivi minha vida toda no Sarandi e nunca vi algo parecido. Saímos a tempo de casa, eu, minha esposa e meu filho, mais quatro gatos. No prédio onde moro a água chegou no segundo andar, meu apartamento é no térreo, perdi tudo."
Carlos conta que a etapa inicial da limpeza da casa da sua família foi vencida com muita ajuda. “Fizemos um mutirão, amigos e parentes.” O que não ocorre com todos, como ele mesmo observa: “vejo muitos moradores e amigos ainda na etapa inicial da limpeza”.
“Tudo é muito difícil, temos de voltar a trabalhar mesmo com nossas cabeças em outro lugar: são os filhos sem poder ir pra escola, onde deixar eles. No meu caso me preocupo mais ainda porque meu filho é autista e pra ele é muito complicado sair da rotina. Além de tudo isso ficamos sempre atentos a qualquer gota de chuva, porque parece que tudo vai começar novamente", afirma.
Memórias de Carlos Eduardo atingidas pelas águas / Foto: Arquivo pessoal
Paulo Rabelline, morador do 4° Distrito, também na capital gaúcha, já conseguiu retornar para casa mas está de sobreaviso por conta das chuvas persistentes. “Fiquei quase um mês fora de casa, moro de certa forma próximo à Voluntários da Pátria, Ponte do Guaíba e Sertório, todas áreas que foram alagadas.”
Ele questiona: “como não estar com receio pensando que posso ter que viver tudo novamente? Voltei pra casa mas o bairro tá cheio de lixo e lama pelas ruas, tenho 75 anos sou um lutador, mas vejo que muitos outros estão esmorecendo. tentamos ajudar uns aos outros para termos forças”, conta.
Os problemas relatados por Carlos Eduardo e Rabelline refletem o dia a dia de muitos outros moradores. O impacto emocional é evidente, a questão psicológica tem de ser levada muito a sério. Moradores de bairros como o Sarandi e 4° Distrito, ao primeiro sinal de chuva, ficam aflitos, preocupados ao extremo.
Guaíba sobe com previsão de mais chuva
Os bairros registaram alagamentos após as chuvas da madrugada de quarta-feira (19). Na manhã desta quinta-feira (20), o Guaíba já estava na marca de 3,25 metros, 10 cm acima do nível de alerta. Previsões do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IPH/Ufrgs) apontam que os níveis não devem chegar à cota de inundação, que é de 3,6 metros.
A Defesa Civil de Porto Alegre emitiu alerta, com base em informações disponibilizadas pela Sala de Situação a Secretaria do Meio Ambiente do RS, para risco de temporais isolados e chuvas pontualmente intensas, com volumes que podem variar entre 30 e 80mm/dia, rajadas de ventos que podem passar dos 70km/h, descargas elétricas e eventual queda de granizo, até 23h59 de sexta (21).
Edição: Marcelo Ferreira