Rio Grande do Sul

IMPRENSA

ARI debate cobertura jornalística das enchentes no mês do Meio Ambiente

Editora do Brasil de Fato RS e dois jornalistas de outros veículos relataram suas experiências no desastre climático

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Debate foi transmitido ao vivo pelas redes sociais da Associação Riograndense de Imprensa (ARI) - Reprodução

Os desafios para a cobertura jornalística de um desastre climático sendo parte integrante dele foi o tema de debate promivido pela Associação Rio-Grandense de Imprensa (ARI) neste sábado (15), por ocasião do mês do Meio Ambiente. Três jornalistas de veículos locais envolvidos diretamente com a cobertura da calamidade no Rio Grade do Sul contaram suas experiências e suas angustias durante cerca de duas horas através das redes sociais da entidade.

A editora do Brasil de Fato RS, Katia Marko, o gerente de jornalismo do Correio do Povo, Jônatas Costa, e o repórter e editor do Sul21, Luís Eduardo Gomes, relataram suas vivências e emoções durante o evento online.

Todos os três foram atingidos ou tiveram colegas atingidos diretamente pela fúria das águas que se abateram sore o estado durante quase todo o mês de maio. E ainda sofrem suas consequências. Porém revelam o grande aprendizado que tiveram em termos de jornalismo de solidariedade na construção deste novo momento climático. O debate foi mediado pelos diretores do setor ambiental da ARI João Batista Santafé Aguiar e Daniela Sallet. Na abertura falou o presidente José Maria Nunes.

Nunes elogiou a cobertura da imprensa durante o evento e salientou o papel do jornalismo profissional na reconstrução do Rio Grande do Sul, neste novo momento que está sendo vivenciado pela sociedade gaúcha. 

Katia Marko foi a primeira a dar seu testemunho e contar como a pequena equipe do Brasil de Fato RS, com sete pessoas, conseguiu passar por este momento mesmo tendo dois colegas diretamente atingidos pela enchente: Marcelo Ferreira, editor e morador da Zona Sul da capital gaúcha, e Clara Aguiar, estagiária que cuida das redes sociais e que teve a casa totalmente submersa no bairro Harmonia, em Canoas.

Papel dos movimentos sociais

Segundo ela, o apoio e a solidariedade dos movimentos sociais organizados, como o Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), foram decisivos banto para a cobertura do Brasil de Fato, como para o salvamento e o apoio as pessoas diretamente atingidas pelas cheias. Katia lembrou da atuação solidária do MAB nas comunidades do Vale do Taquari auxiliando na organização de cozinhas comunitárias e informando o que estava se passando para os jornalistas do veículo.

Falou ainda sobre o papel dos assentados do MST salvando, com seus barcos, os companheiros assentados de Eldorado do Sul, do assentamento Integração Gaúcha, que perderam tudo o que construíram em 33 anos desde que ocuparam as terras. Também destacou a atuação da organização no assentamento Filhos de Sepé, em Viamão, com uma cozinha comunitária que forneceu marmitas para as pessoas atingidas pela enchente que estavam alojadas em abrigos na Grande Porto Alegre.

Ela recordou que recebia inúmeros pedidos de socorro de pessoas que estavam sem saber o que fazer. “Eu chorava enquanto trabalhava”, contou Katia com a voz embargada. Disse que o Brasil de Fato existe nacionalmente há 21 anos e que há seis anos iniciou sua sucursal no Rio Grande do Sul.

“Uma equipe se deslocou de São Paulo até Caxias do Sul, de lá, com dificuldades, foi até o Vale do Taquari, depois a Nova Santa Rita, Eldorado e Lami, onde testemunhou a situação com o documentário “O Rio ó Quer Passar”, no qual dá vozes para assentados, quilombolas, comunidades indígenas e outros que normalmente são esquecidos pela grande imprensa.” Segundo ela, o filme foi elogiado por um dos membros da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Atingido no trabalho e em casa

Jônatas, por sua vez, contou a experiência de ser atingido duas vezes pela enchente, enquanto profissional e enquanto morador. “Estava na redação escrevendo sobre os fatos e, ao mesmo tempo vendo a água subir e tomar conta de nossa redação.” Ele lembrou que usou seu celular e, com alguns outros colegas, continuaram a fazer matérias dando informações para as pessoas sobre o que estava acontecendo.

Também lembrou que foi a segunda vez que o prédio do Correio do Povo foi atingido por enchente. “A primeira foi em 1941.” Disse ainda que o local onde mora foi atingido e sua família teve que deslocar-se para Alvorada.

“O Correio do Povo começou a ser impresso, junto com outros jornais da capital gaúcha, nas gráficas do grupo Sinos, em Novo Hamburgo, onde está funcionando até agora. Os jornalistas ficaram trabalhando em home office, mas continuamos informando a população dos fatos que lhe interessavam diretamente”, contou Jônatas. “Foi muito difícil separar o pessoal do profissional. Troquei de endereço três vezes”, desabafou.

Pauta ambiental permanente

Concordando com os colegas, Luís Eduardo Gomes, do Sul21, ampliou o debate e lembrou do que deverá ser feito a partir de agora. "Tenho dito uma coisa que acho que é importante quando se fala de desastres ambientais. Não dá para se falar de cobertura só durante o evento climático. Ela é permanente A gente viveu e vai viver de novo. Temos que pensar no antes, o durante e o depois”, disse ele, acrescentando que o antes é a atenção que deve se ter para a pauta ambiental. “Temos que estar preparados para viver estes eventos a todo o momento.”

Gomes salientou que uma cidade com Porto Alegre deve ser pensada de forma diferente, como sujeita a inundações, e isto desde o transporte público. “As pessoas não sabiam como sair de suas casas e ir para os abrigos”, afirmou. E destacou que, naquele momento, a pauta era basicamente de serviço, orientando as pessoas para o salvamento. “Mas agora o debate deve ser aprofundado pensando nas causas e no futuro que virá”, concluiu.

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Edição: Marcelo Ferreira