A revista científica Nature publicou, na última terça-feira (4), carta enviada por um grupo de professores do Instituto de Biocências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) que manifesta uma preocupação dos pesquisadores em relação às respostas que as esferas municipais, estadual e federal estão propondo para o enfrentamento das enchentes no Rio Grande do Sul.
Assinada por Luiz R. Malabarba, Fernando G. Becker, Maria João Ramos Pereira e Márcio Borges Martins, a carta destaca que as propostas baseadas em grandes obras, tais como enormes canais de drenagem e múltiplas barragens para reter e desviar as águas dos rios, implicam amplas alterações no ambiente e ameaçam os meios de subsistência e a biodiversidade, incluindo a fauna das bacias hidrográficas. Conforme os pesquisadores, os governos correm o risco de intensificar a degradação ambiental, que é o gatilho final para estas catástrofes. Eles defendem que as soluções levem em consideração a natureza, o funcionamento dos ecossistemas e seus serviços.
Os autores integram o grupo Ibio-Ufrgs Sustentabilidade, formado por pesquisadores do Instituto de Biociências, que busca alertar a população e contribuir com as autoridades acerca de serviços ecossistêmicos, soluções sustentáveis e resiliência climática, para o enfrentamento de crises advindas de eventos naturais exacerbados pela ação antrópica.
Para o grupo, as soluções devem obrigatoriamente considerar o meio natural e ser planejadas de modo sustentável, utilizando a resiliência de ambientes preservados para a mitigação dos impactos advindos das alterações do clima, cada vez mais frequentes e de maior amplitude.
“O momento em que vivemos exige mais que a redução dos impactos de nossas atividades e a proteção dos ambientes naturais que nos restam, exige também a recuperação de áreas degradadas e ocupadas inadequadamente”, afirmam os pesquisadores.
Conforme pontuam, nenhuma das propostas feitas até o momento leva em consideração a preservação e recuperação dos serviços ecossistêmicos para diminuir os problemas vividos pela população gaúcha. “Embora a comunidade acadêmica tenha feito vários alertas sobre os impactos ambientais que potencializaram a tragédia no Rio Grande do Sul.”
Em outro artigo recentemente publicado na imprensa (Nexo Jornal), o grupo ressalta a importância de considerar o conhecimento ecológico e a conservação da natureza como fundamentais no enfrentamento da crise climática.
“Nesse trabalho destacamos a ideia de que, quando aplicamos décadas de conhecimento ecológico acumulado, compreendemos como a conservação da natureza oferece uma dupla solução para a crise climática: em primeiro lugar pela redução de emissões de gases de efeito estufa, contribuindo para um menor aquecimento global, e em segundo lugar, pela redução dos impactos das mudanças climáticas sobre as pessoas e a vida selvagem", explicam os professores da Ufrgs.
Edição: Marcelo Ferreira