Rio Grande do Sul

PELA MEMÓRIA

Documentário sobre os 35 anos do Sinpaf teve estreia nacional em Brasília, nessa sexta (7)

Intitulado ‘A Luta Continua’, o audiovisual apresenta a trajetória do sindicato, destacando batalhas e conquistas

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Presidentes antigos e o atual, antigos e novos dirigentes do Sinpaf receberam homenagens após a exibição do filme - Foto: Daniel Barros

Com a casa cheia, o Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (Sinpaf) lançou, nessa sexta-feira (7), o documentário em comemoração aos 35 anos da entidade. Intitulado “A Luta Continua”, o filme apresenta a trajetória do sindicato, destacando suas batalhas e conquistas através de relatos de membros e ex-dirigentes sindicais.

A exibição do filme teve início às 19h30, no cinema do Casa Park, em Brasília, com a participação dos trabalhadores filiados ao sindicato, convidados e imprensa. Ao final do evento, o Sinpaf prestou homenagem aos personagens que contribuíram para a história do sindicato, com a entrega de placas comemorativas.

“Lançar esse documentário é muito importante para nós. Porque mostra a nossa história desde a fundação do sindicato até o presente momento. Como foi a nossa luta de formação, a luta dentro das empresas públicas – pela valorização delas e das categorias que as compõem. Ela conta a luta por uma sociedade mais justa, mais humana, mais igualitária”, celebra o presidente da instituição, Marcus Vinicius Sidoruk Vidal.


O Sinpaf prestou homenagem aos personagens que contribuíram para a história do sindicato, com a entrega de placas comemorativas / Foto: Daniel Barros

O presidente conta que além de celebrar os mais de 30 anos do sindicato, “é um marco poder transmitir a nossa história para aqueles que a construíram e para os que virão à frente do sindicato nos próximos anos”, conclui ainda em clima de festa.

Diferente das sessões de cinema, o filme não foi precedido por trailer e nem pelos famosos avisos para manter o celular desligado. Foi comum a explosão de flashes iluminando todos os pontos da sala escura. O silêncio também não foi um pedido feito aos participantes que torciam, aplaudiam entre uma cena e outra e emocionavam-se ao ver a imagem e o depoimento de antigos companheiros de luta.

Diferente dos filmes de ficção, esse era um retrato fiel da vida, com os seus momentos de dores, de aprendizados, de coragem, de encontros e de conquistas. Nas poltronas acolchoadas e embaixo do ar-condicionado as pessoas que contavam a sua história para as câmeras, também assistiam atentamente à tela de mais de 500 polegadas.

Produzido pela Diretoria Nacional de Comunicação do Sinpaf em parceria com a produtora Merun Filmes, o documentário demandou sete meses para ser produzido.

Nós estamos prontos para luta

Mais que um relato sobre a adesão dos trabalhadores ao sindicato, o documentário contou a história do Brasil. Os 70 minutos de película mostraram os momentos ligados à ditadura militar, a exclusão das mulheres do mercado de trabalho, a luta pelas conquistas de saúde do trabalhador e o tempo em que toda a militância era feita em carros de som, pois não haviam as redes sociais.

Seguindo a narrativa de que a luta continua, o documentário trouxe depoimentos e documentos históricos sobre a marcha dos cem mil e o envolvimento do sindicato. O Início da Marcha das Margaridas, no Distrito Federal.

O governo de Fernando Collor de Melo, marcado por grandes cortes de verbas e demissões em massa nos órgãos federais também foi lembrado, assim como os caminhos percorridos pelo Sinpaf para que essas pessoas retornassem aos postos de trabalho. O roteiro ainda permeou o neoliberalismo do governo de Fernando Henrique Cardoso e seus efeitos socioeconômicos.

A chegada do governo de Luiz Inácio Lula da Silva também foi lembrada. Nesse período, uma plenária nacional ocorria em Porto Alegre e debatia sobre a nova composição do sindicato. No evento, Selma Lúcia Beltrão foi eleita a primeira presidente mulher do Sinpaf (2003/2004).


Selma Lúcia Beltrão foi a primeira presidente mulher do Sinpaf, em 2003/2004 / Foto: Daniel Barros

A luta das mulheres por direitos trabalhistas também tem história ligada ao sindicato. Pelo relato de antigas funcionárias da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o filme conta que houve uma época em que elas eram impedidas de trabalhar no campo, pois não havia um banheiro que pudessem usar. A simples construção de um sanitário feminino derrubou grandes muros construídos por uma sociedade patriarcal.

Em um capítulo do filme que daremos o nome de Ação Dos 15 Minutos, a luta pela equiparação salarial entre mulheres e homens tirou aplausos e trouxe lembranças à plateia que também contava suas histórias fora da grande tela.

Houve um tempo em que mães com filhos menores de um ano de idade recebiam menos que os homens, no pagamento relativo aos turnos de horas extras, dentro do trabalho. Para realizar essa manobra, as funcionárias eram obrigadas a tirar 15 minutos de descanso entre o fim da jornada comum e o início da hora extraordinária.

Na prática, enquanto um funcionário trabalhava por duas horas além do expediente, ele recebia o valor proporcional a essas duas horas. Essas mães que também permaneciam no mesmo local, pelo mesmo período de tempo, recebiam o equivalente à 1h45 de trabalho extra. Já que eram descontados os 15 minutos de descanso impostos pela lei. Para garantir esse controle, elas deviam bater o ponto ao encerrar o expediente comum e depois ao iniciar a jornada extra.

Chegando aos minutos finais, o filme trouxe como enredo os desafios enfrentados pelo Sinpaf durante a pandemia da covid-19, a militância e o distanciamento social e a operação de um governo contrário à vida.

Como fazer um sindicato e uma agricultura digital? Como transformar o mercado de trabalho à distância? Com esses questionamentos o filme encerra dizendo que a história não tem fim. Ele sugere que esse é mais um dos desafios propostos pela história. É o momento de uma nova movimentação, de uma nova geração assumir esse novo desafio. E eles estão prontos para a luta!


Jorge Severo é diretor de Formação Sindical da seção sindical Petrolina da Embrapa / Foto: Daniel Barros

“Alguns foram personagens desse filme, outros ainda serão. Tenho certeza que esses personagens construíram, constroem e construirão o nosso sindicato”, afirma esperançoso, Marcus Vinicius. “Esse momento do filme apenas retrata parte da nossa história. Há muito por vir ainda”, é o que espera o presidente do Sinpaf.

Assim como o documentário, Marcus Vinícius diz que acredita nas gerações futuras para continuarem construindo uma sociedade mais justa e humana. “Quero dizer o seguinte: uma pessoa entrando hoje nas empresas como a Embrapa, como a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), como as outras empresas que nós representamos aqui, ela tem um conjunto de direitos que foram garantidos através de uma luta histórica.”

Segundo Marcus, as condições da vida material e concreta impulsionam as pessoas para as ações de lutas por direito. “A partir do momento em que as pessoas não se engajam nisso, não se ligam, não lutam por isso, se você não ficar atento para a manutenção desses direitos, você pode perdê-los. Então, esses direitos conquistados, eles não são eternos”, afirma o presidente.

Marcus Vinícius diz esperar que outras obras sobre o sindicato sejam construídas, pois elas também são instrumentos de luta. “Eu espero que a gente consiga produzir outros filmes como esse no futuro. Porque a nossa história, que é coletiva, que foi feita por muitos, que a gente viu aqui retratado, ela continua, assim como a luta continua”, encerra o sindicalista.

Conte a sua história antes que a escrevam por você

Jean Kleber Silva é o diretor suplente de Divulgação e Imprensa do Sinpaf e um dos envolvidos na decisão de fazer um documentário. Ele informa que a necessidade de produzir o filme é de preservar o histórico de luta dos trabalhadores em um momento que se fala bastante sobre fake news. “Nós é que vamos contar a nossa história antes que alguém tente reescrevê-la por nós”, afirma Jean.

Segundo o diretor, “hoje, nós ouvimos coisas como, a ditadura não foi tão dura assim. Eles tentam apagar a história real para as novas gerações. Muitas vezes, a história que foi vivenciada pelas pessoas não é a história escrita. E as pessoas passam a acreditar nisso”.

Para Jean, a importância dos relatos do filme é que ficará como forma de registro dos direitos garantidos aos trabalhadores, para as gerações futuras. “Agora, com a questão das redes sociais, de guardar na nuvem, daqui a pouco isso vai estar público no YouTube da vida e isso vai estar lá. Seja hoje, seja daqui a 100 anos”, comenta.

O dirigente lembra que ainda há tentativas de marginalizar o movimento dos sindicatos. “Agora mesmo, salvo engano, foi no STF, os caras disseram que não tem como receber contribuição sindical em folha de pagamento. Então isso fica evidenciado que ainda existe uma luta muito forte para destruir a organização dos trabalhadores”, conclui.

Plenária Nacional

O lançamento do documentário coincide com o primeiro dia da 22ª Plenária Nacional do Sinpaf, que acontece de 7 a 9 de junho, em Brasília-DF. Diversidade, inclusão, assédio moral, sexual, preconceito e adoecimento no local de trabalho são alguns dos temas tratados no encontro.

Cerca de 100 pessoas, entre delegados de Seções Sindicais das cinco regiões do país, representantes sindicais, integrantes da Diretoria Nacional do Sinpaf, convidados e palestrantes participaram do evento inaugural das discussões que ocorrem na sede da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), na Capital Federal.

Edição: Katia Marko