Trabalhadoras e trabalhadores dos Correios que estão atuando na linha de frente de ajuda a pessoas atingidas pelas enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul também sofreram perdas. Servidores públicos e terceirizados que viram suas histórias serem levadas pelas águas, vários destes moradores de subúrbios e áreas periféricas. Por isso, o Sindicato dos Trabalhadores dos Correios do RS (Sintect-RS) lançou uma campanha para auxiliar a categoria vitimada.
O secretário-geral do sindicato, Alexandre Nunes, faz um apelo aos demais colegas "ecetistas" - como como são chamados os trabalhadores dos Correios - de todo o Brasil para ajudarem seus colegas com qualquer quantia. Os valores serão divididos aos trabalhadores, sejam eles concursados ou terceirizados, através de dados fornecidos pela estatal (confira os dados para ajudar no final desta matéria).
Um dos atingidos e que não deixou de seguir trabalhando para ajudar as vítimas das chuvas é o motorista Nilson Escouto. Terceirizado, ele não terá o mesmo auxílio que a estatal dará aos servidores concursados. “Fui atingido da mesma forma que todos os nossos colegas, só que não temos a mesma regalia, mas a função da enchente atacou a todos", afirma.
Para ele, a campanha do sindicato é bem-vinda para ajudar a reconstruir as perdas conquistadas com muito suor. “O que tinha era pouco, se perdeu, e se perdeu mesmo. Dessa vez não foi aquela coisa assim de molhar e tu tentar recuperar. Tá sendo botado fora porque não tem condições de uso, por causa da questão de contaminação, de sujeira, de lama, de coisas... Até residências, têm colegas meus que perderam a casa, veio ao chão, não tem como voltar pra casa.”
Mesmo com a situação difícil, Nilson estava de férias e retornou mais cedo para ajudar, como outros colegas que atuaram em ações como transporte de doações e logística da empresa, que teve sua sede no Bairro Humaitá, em Porto Alegre, duramente atingida, com perda de veículos e mercadorias. “Veio doações dos Correios, veio doação da própria empresa na qual eu trabalho, veio lá de Santa Catarina, mandaram pra cá pra gente fazer doação, ajudar. Foi o que nos ajudou e melhorou um pouco a nossa função aqui”, diz.
Segundo ele, cerca de 70% de seus colegas estão afastados do trabalho por conta da enchente. “Porque ou estão em abrigos ou estão em casa de parentes, ou estão voltando, mas estão tendo aquele tempo ainda para fazer a limpeza de casa, para ver qual é o estrago, qual é o problema.”
"Tem outras coisas que o dinheiro não paga"
A atendente comercial Andreia Alves da Silva também teve perdas significativas em sua casa, localizada no bairro Sarandi, o mais afetado pelas inundações na capital gaúcha. “Foi muito impactante, foi triste ver o bairro que eu cresci, que eu me criei, se tornando como se fosse uma zona de guerra, tudo alagado, as pessoas fugindo, correndo, as casas todas tapadas de água. Eu mesma tive que sair de casa, perdi quase tudo que eu tinha”, conta.
Abrigada com sua família por parentes no município de Alvorada, Andreia recorda o quão dolorido foi ver a rua da sua casa alagada no noticiário da TV. “Uma coisa que tu conseguiu com tanto esforço, em tão pouco tempo ver tudo destruído.” Mas lembra que sempre teve quem estendesse a mão. “Os colegas do Correio nos apoiaram bastante com palavras amigas, com apoio que a empresa pode dar, até financeiramente, para nos ajudar a sobreviver nesse tempo que a gente estava afastada do trabalho.”
Ela também se colocou à disposição para ajudar com o trabalho intenso de dar conta das doações que chegaram pelos Correios de todo o país. “Eu acredito que o sentimento maior que brotou em todo mundo era um ajudar o outro, se colocar no lugar do outro, ter empatia. E apesar da gente estar passando pela maior dificuldade, ainda tu vê pessoas que estavam em situação mais difícil do que a nossa.”
Andreia comenta que o retorno ao trabalho também está sendo difícil, porque mesmo que muitos já tenham voltado para casa, ainda é tempo de contabilizar as perdas. “Foram muito grandes, perdas de imóveis, mas tem outras coisas que o dinheiro não paga, como as lembranças que a gente tinha da nossa casa, daqueles objetos que a gente tinha maior apego. Das fotos, coisas que ficaram só na lembrança, que a gente teve que se desfazer.”
Para ela, a volta ao trabalho traz o sentimento de “responsabilidade de atender bem o cliente, fazer o melhor, porque eles também estão na mesma situação que a gente”. Porém, pondera ser difícil “desligar totalmente”, devido ao trauma vivido.
“Mesmo tendo o apoio da empresa, é fundamental que a gente também tenha o apoio do sindicato. Isso vai nos ajudar bastante nesse momento. Vai ser muito bom para todos nós”, finaliza.
Super live e ajuda solidária no Pix
O secretário-geral do Sintect-RS calcula que mais de 400 trabalhadores dos Correios foram afetados pelas enchentes. A maioria moradora de áreas periféricas de Porto Alegre ou região Metropolitana. Por isso o sindicato está com a campanha de solidariedade, que inicialmente envolveu proteção aos trabalhadores e agora está pedindo uma ajuda solidária no Pix.
“A gente ao final dessa campanha vai dividir de forma igual com todos os trabalhadores atingidos a partir do banco de dados que a gente, vai pegar com os Correios”, explica Alexandre Nunes. “É uma ajuda que vai ser muito importante para todos os colegas. De longe, isso não vai resolver todos os problemas que esses colegas vão ter que enfrentar, mas vai ajudar muito."
Neste sábado (8), o Sintect-RS promove uma “super live” em apoio ecetistas que foram afetados pela enchente. Foram convidados para participar integrantes das direções de todos os sindicatos dos Correios do país, assim como a direção da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telegrafos e Similares (Fentect).
O Pix para ajudar os trabalhadores e trabalhadoras dos Correios é 92.516.640/0001-77 (Chave CNPJ). A “super live” será transmitida pelo Facebook do Sintect-RS, neste sábado, às 16h.
Edição: Katia Marko