Rio Grande do Sul

Emergência climática

Assentados em Eldorado do Sul trabalham em mutirão para reconstruir casas e lavouras

'Construímos uma agrofloresta, com solo regenerado, e fornecíamos alimentos sadios', relata agricultora sobre perdas

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
"Poderemos produzir arroz orgânico, talvez consigamos fazer funcionar a padaria", diz Marinês sobre expectativas para o próximo ano - Foto: arquivo pessoal

Assentada há 33 anos em Eldorado do Sul, na região metropolitana de Porto Alegre, Marinês Riva, 58 anos, é um exemplo da resiliência dos trabalhadores frente às adversidades. No assentamento Integração Gaúcha, ela produzia pães orgânicos, além de plantar arroz, frutas e hortaliças em uma perspectiva agroecológica e de agrofloresta. Embora sejam verdadeiros zeladores da natureza, os agricultores enfrentam diretamente as consequências das agressões ao ambiente natural, como as que ocorrem agora diante das enchentes na região Sul.

Marinês viu o esforço dela e de seus companheiros ir por água abaixo com as chuvas. No sábado (1º), ela buscava doação de alimentos na feira agroecológica onde vendia seus produtos. “Eu tinha 25 anos quando fomos assentados naquela área. Lá só tinha uma árvore, um pé de eucalipto. Nós éramos 72 famílias e, nesse tempo todo, construímos uma agrofloresta, com solo regenerado, e fornecíamos alimentos sadios para a população de Porto Alegre”, recorda.

A saga de Marinês Riva foi relatada sem lágrimas. “Não consigo mais chorar. Não temos mais lágrimas. Primeiro a Mãe Terra chorou com a chuva as agressões sofridas pela ganância de alguns homens, depois nós choramos muito pelo trabalho que fizemos e vimos perdido”, conta.


Vista aérea de Eldorado do Sul, cidade foi destruída pelas inundações / Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Recomeçar

Marinês lembra que da floresta pujante em que se transformara o assentamento, só restaram umas bananeiras e algumas touceiras de bambu que serviam de quebra-vento. Ela não sabe quando poderão retomar a produção. “Para o próximo ano, poderemos produzir arroz orgânico, talvez consigamos fazer funcionar a padaria. Mas ainda levaremos alguns anos para retornar ao estágio em que estávamos”, avalia.

Quando saiu da beira da estrada, do acampamento para o assentamento, há 33 anos, eram ela e Jalo, o marido. Agora a família conta com os dois filhos adultos que os ajudam na lavoura. Além disso, muita esperança e confiança no futuro que vêm construindo por meio da reforma agrária.

Marinês não aceita ajuda em dinheiro, mas ela diz que quem quiser ajudar na reconstrução será sempre bem recebido no assentamento.

Para chegar é só ir até Eldorado do Sul pela BR-290 e, no trevo, tomar a Estrada da Arrozeira, no final dela está o assentamento Integração Gaúcha. Lá, todos estão atarefados na reconstrução. Basta dizer que é voluntário e terá uma tarefa a realizar.

No sábado, Marinês e a filha Maria estavam na feira comprando alimentos para levar para as pessoas que estavam no mutirão.

Edição: Katia Marko