Foram muitas as pessoas que nas últimas semanas quiseram ajudar com força de trabalho e viram a motivação inicial esmorecer em uma negativa nos portões de acesso aos abrigos, cozinhas solidárias ou centros de triagem e distribuição de donativos. Em parte, a falta de coordenação dos esforços e difusão de informações precisas e atualizadas justificam o desencontro entre a vontade de prestar apoio com os locais que precisam de todo amparo possível neste momento que desafia a toda a sociedade.
Com o objetivo de contribuir para a resolução deste problema, o Movimento Brasil Popular promove a Campanha Popular Solidariedade Rio Grande do Sul que visa fazer com que as provisões e o trabalho voluntário cheguem a quem mais precisa de auxílio.
Através de uma parceria com a Cooperativa EITA Design e com apoio da Fiocruz, a intenção é conectar os interessados em oferecer força de trabalho ou donativos com os espaços que continuarão necessitando de ajuda a médio e longo prazo. Para isto, foi desenvolvida uma plataforma que opera simultaneamente como um site e um aplicativo para dispositivos móveis, onde o voluntário poderá filtrar o tipo de local, a especialidade do atendimento a ser oferecida, a zona ou bairro onde o local está situado e as características do espaço.
O sistema desenvolvido também oferece informações como contato do local, endereço atualizado, se há vagas em relação à ocupação, bem como se precisa de trabalho voluntário ou de doações e a lista de quais são os itens de maior necessidade no momento da consulta. Ao todo, são mais de 150 espaços cadastrados em Porto Alegre e a intenção é progressivamente ampliar para a região Metropolitana e interior do Estado.
De acordo com um dos integrantes da coordenação do Movimento Brasil Popular no Rio Grande do Sul, o agente popular de saúde Vítor Martinez, o desenvolvimento da plataforma já mobilizou mais de 40 colaboradores que foram divididos nos setores de tecnologia da informação, processamento de dados e comunicação. Ele explica que as iniciativas de centralização da informação, em um primeiro momento, estavam ligadas a empresas do ramo da tecnologia e que não havia uma ferramenta que auxiliasse na organização e coordenação dos recursos humanos e materiais dos movimentos sociais.
“A ferramenta surge de uma necessidade de organizar as demandas de voluntariado e de doações, visto que a avaliação do Movimento Brasil Popular era de que o fluxo de solidariedade iria diminuir conforme as semanas fossem passando e que os movimentos sociais estavam em sua totalidade atuando para mitigar os efeitos da calamidade. Com isso, acabamos ficando focados em iniciativas específicas nos territórios, de forma a ajudar essas organizações a analisar essa realidade crítica e criar um canal de diálogo com a população que quer seguir contribuindo para a reconstrução do nosso estado”, afirma.
Cozinhas solidárias das vilas Pedreira e Nossa Senhora do Brasil
Além do desenvolvimento da plataforma, desde o início da inundação de Porto Alegre e região Metropolitana, o grupo atuou na produção e distribuição de 400 marmitas diárias a partir das cozinhas solidárias das vilas Pedreira e Nossa Senhora do Brasil. Inicialmente, o foco foi oferecer suporte ao abrigo do Colégio Marista Assunção, mas agora a distribuição está centralizada nas comunidades das vilas Pedreira, Ecológica, Nossa Senhora do Brasil, Gaúcha e Pantanal.
A Cooperativa EITA Design desenvolve software livre e ao longo dos 13 anos de atuação já contribuiu com demandas de mais de 100 organizações e movimentos sociais com ênfase nas lutas da economia solidária, reforma agrária, agroecologia, saúde e justiça social. Segundo o programador Alan Tygel, o principal problema identificado foi justamente esta gestão do voluntariado em um momento de emergência.
"A gente tinha muita gente querendo ajudar e muitos abrigos, alguns precisando de ajuda, alguns não precisando de ajuda, alguns lotados, alguns com vagas, alguns precisando de ajuda especializada, como por exemplo de médicos, veterinários, psicólogos, assistentes sociais, enfim. Então a principal necessidade que se identificou nesse momento foi uma ferramenta que pudesse orientar essa atuação, mas principalmente que tivesse uma rápida atualização, dado que em uma situação de emergência o cenário muda muito rapidamente e essas informações precisavam ser muito confiáveis”, comenta.
Para Tygel, o diferencial da iniciativa está na organização popular, uma vez que por trás da iniciativa está um coletivo organizado a partir de movimentos sociais de base popular.
“Nossos atores estão nos territórios, estão indo nos abrigos, estão vivenciando a situação na pele e, portanto, conseguem ter uma atualização mais rápida dessas informações, além de terem também uma noção muito mais clara do que está se passando dentro deste cenário de crise. Isto é muito diferente de iniciativas desenvolvidas totalmente à distância, em que há uma ideia geral do problema e uma solução tecnológica simplesmente”, explica.
Para participar da Campanha Popular Solidariedade Rio Grande do Sul e oferecer força de trabalho ou doações, basta acessar o endereço: www.solidariedade-rs.org. Mais informações serão atualizadas diretamente nas redes sociais da plataforma: @campanha_popular_solidariedade.
Edição: Katia Marko