Meio mundo dos gaúchos não sabe qual a data exata do retorno dos voos no Aeroporto Salgado Filho de Porto Alegre, o nono maior do Brasil em movimentação e sob concessão da empresa alemã Fraport AG – uma sociedade de ações. A economia está espantada. O turismo se queixa. Os viajantes de negócios lamentam. Enfim, quem quer viajar para onde quer que seja reclama da morosidade e da falta de explicações. A Fraport apenas divaga sobre o assunto, dando a impressão de que a famosa energia alemã para superar traumas e agir com agilidade é apenas uma falácia. Neste caso, diga-se de passagem, para não ofender os rigorosos alemães.
O ICL Notícias mudou o rumo das notícias sobre a questão volta, não volta, sabe-se deus quando, do terminal aéreo. A concessionária está parada, não tem trabalhado para drenar a pista, está ‘paradinha da silva’.
Como todo mundo está sabendo, tanto a pista quanto o prédio ficaram submersas na enchente que atingiu Porto Alegre. Questões elétricas, eletrônicas, prediais, sanitárias foram afetadas. Tudo precisa ser restaurado com rapidez e perfeição. Mas os alemães parecem estar parados, à espera de que os gaúchos e o governo federal atuem com rapidez e entreguem um aeroporto novo para eles.
Ao repórter Leandro Demori, em depoimento ao ICL, o presidente do Conselho Executivo da Fraport, Stefan Schulte, disse que a empresa não atua para reparar os danos gigantescos porque é simplesmente uma concessionária e não proprietária e também que a inundação no entorno do terminal inviabilizaria que ela colocasse a mão na massa. Não agiram porque ia custar muito dinheiro e porque os seus lucros habituais iriam para o ralo. Essa pode ser a verdade. A concessão começou em 2017 e vai até 2042.
Quem está trabalhando no aeroporto são empresários agrícolas que colocaram seus equipamentos para bombear a água, sem qualquer participação alemã. Aí existe um paradoxo: Por que na inundação ocorrida em 2023 no aeroporto de Frankfurt, um dos maiores da Europa e do mundo, também operado pela Fraport, ela atuou para drenar a pista? Para o nosso caso, omissão. Para o caso de lá, abnegação e interesses. Regras diferentes para mesmas situações é uma vergonha, ou a legislação alemã para concessões é extremamente rigorosa.
Schulte também jogou uma pá de cal no futuro do aeroporto ao afirmar que vai pedir uma renegociação de contrato por causa dos prejuízos causados pela inundação. Na segunda-feira, dia 3 de junho, o aeroporto passará por nova vistoria. Técnicos vão examinar e estimar qual será a data mais precisa possível para reabrir. A tendência, pelo rumo das coisas, é que vai demorar muito mais tempo do que o necessário e do que os 90 dias estabelecidos há alguns dias. Talvez o fim do ano ou um pouco antes, mas o assunto está definitivamente enrolado.
Sem voos desde 3 de maio, devido aos alagamentos, a empresa não está se importando com as pressões, como a feita pelo ministro de Apoio à Reconstrução do RS, Paulo Pimenta. O governo federal já acionou os dirigentes da empresa para agir com rapidez. Ele disse que os serviços não estabelecidos no contrato serão ressarcidos. “Precisam assumir os seus compromissos com a comunidade o mais rápido possível”, afirmou.
Parte final da pista que está esfarelando precisa de reparos. E o restante precisa de análises técnicas profundas para ver se suporta com segurança o peso das aeronaves. Dessa forma, é impossível fazer qualquer previsão para o retorno do Salgado Filho. A Agência Nacional da Aviação Civil (Anac) comunicou o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) da Aeronáutica que os voos estão suspensos, pelo menos, até 7 de agosto. Mas tudo isso é muita conversa para animar os que necessitam realmente e imediatamente dos serviços – passageiros, cargas, turismo, lojas.
* Jornalista
* Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko