Rio Grande do Sul

Enchentes

Saúde investiga mais de 1,2 mil casos de leptospirose no Rio Grande do Sul

Quatro mortes pela doença foram confirmadas no estado, e outras quatro estão em análise

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Com escoamento das águas, lixo toma conta da capital gaúcha, Porto Alegre - Rafa Dotti

"Água, fezes, ratos e lixo brotam do chão de Porto Alegre. Bueiros estouram como furúnculos da cidade doente. Bairros das periferias, que já não contavam com recolhimento de lixo, como o entorno da Hípica, na zona sul, são grandes aterros de imundícies. O centro da cidade e bairros pobres e ricos são aterros sanitários. Porto Alegre fede. As ações destrutivas acabaram com Porto Alegre. Não foi o negacionismo". A situação da capital gaúcha é descrita por Moisés Mendes no artigo Os destruidores perderam o controle da destruição, publicado no último dia 25 de maio.

As cheias já mataram 169 gaúchos. Há horror por toda a parte. Confusão. Caos. Dores. Desde 29 de abril não sabemos mais em que mundo vivemos. Não há normalidade. Para qualquer coisa que se pense fazer, há impossibilidades, contratempos, dificuldades mínimas ou máximas. Sem qualquer simetria. Sem qualquer dimensão.

As pessoas estão na água. Grandes multidões foram contaminadas de sul a norte da capital, da região metropolitana e de centenas de cidades do interior. Alagadas, em terreno encharcado, úmido, sem condição de viver dignamente. Frio, fome, deslocadas para ambientes incomuns e variados, com vontade de estar em casa, aconchegado nas suas coisas. Mas a vida reservou esta catástrofe.

Entre tantas e tantas coisas, há alertas de órgãos da Saúde para várias doenças, principalmente as respiratórias. Mas uma chama a atenção em função das águas barrentas, acumuladas, tomando conta de tudo e que levaram bichos e insetos maléficos a sair de suas tocas: os ratos. Os roedores transmitem a leptospirose por meio de urina e fezes feitas nas águas acumuladas. Já são quatro mortes pela doença no Rio Grande do Sul até esse domingo (26), segundo informações da Secretaria Estadual da Saúde.

A doença provoca diarreia, dor nas articulações, vermelhidão ou hemorragia conjuntival, fotofobia (sensibilidade excessiva à luz, dificuldade para manter os olhos abertos), dor ocular, tosse, aumento do fígado e/ou baço, aumento de linfonodos. A penetração ocorre por meio da pele com lesões, pele íntegra imersa por longos períodos em água contaminada ou através de mucosas.

Em geral, a leptospirose é autolimitada, costuma evoluir bem e os sintomas regridem depois de três ou quatro dias. Entretanto, essa melhora pode ser transitória. Icterícia, hemorragias, complicações renais, torpor e coma são sinais da forma grave da doença. Mas há casos graves em que uma série de males se somam, causam coma e morte.

A leptospirose tem também 76 casos confirmados e 1.256 em investigação. O Laboratório Central do Estado do Rio Grande do Sul (Lacen-RS) investiga mais quatro mortes. O estado já confirmou quatros mortes causadas pela doença, que teve transmissão facilitada pelas enchentes de maio.

Segundo a secretaria de Saúde, o serviço de testagem está funcionando integralmente e recebe amostras das 7 às 19 horas. “A realização de exames está disponível para todos os casos considerados suspeitos e que tiveram exposição à enchente”, disse a chefe do Lacen/RS, Loeci Natalina Timm.

No total, conforme boletim desta segunda-feira (27) da Defesa Civil, as cheias já mataram 169 pessoas, com um total de 469 municípios afetados, 55.813 pessoas em abrigos, 581.638 desalojados, mais de 2,3 milhões de afetados, 806 feridos e 56 desaparecidos.

* Jornalista

** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

 

Edição: Katia Marko