Rio Grande do Sul

ARTIGO

Sebastião Melo, prefeito de Porto Alegre, parou o Rio Grande do Sul

Ao negligenciar sistema anti-cheias, gestor causou apagão de dados no estado com inundação de Datacenter

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Datacenter do Estado foi alagado pelo grande volume de chuvas e mau funcionamento das bombas de recalque - Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Nos primeiros dias deste mês de maio, a Companhia de Processamento de Dados do Estado do Rio Grande do Sul (Procergs) parou. Foi inundada pelo refluxo de águas do esgoto pluvial que colapsou em Porto Alegre.

No exato momento em que a Procergs parou, a gestão do estado do Rio Grande do Sul sofreu um apagão. A Procergs é a principal, se não a única, ferramenta de TI (Tecnologia de Informação) da gestão estadual e opera o dia a dia de praticamente todas as secretarias de estado. Com a Procergs "fora do ar", o Centro Administrativo Fernando Ferrari (CAFF), da gestão estadual, tornou-se, igualmente, absolutamente inoperante, na medida em que os servidores lá lotados trabalham essencialmente usando computadores e sistemas conectados à Procergs.

Com o CAFF inoperante, os 497 municípios do RS ficaram sem a ferramenta de interação operacional, diária, com a gestão estadual. Significa dizer que as principais secretarias de todos os municípios do Rio Grande do Sul, mesmo aqueles que não foram afetados pelas atuais enchentes, ficaram sistemicamente isolados da gestão estadual. Pobres, infelizes, secretários e prefeitos jogados a esta mal fadada situação.

Hoje, em 22 de maio, quando escrevo este comentário, a Procergs tenta reiniciar a rede de comunicação que a conecta aos municípios do estado, e vice-versa, a ela conecta os municípios do RS. Estamos falando de um apagão na gestão estadual de aproximadamente 20 dias. Durante todo este tempo, o governo estadual interagiu com os 497 municípios gaúchos por telefone, em muitos casos apenas por telefonia celular, registrando e agendando as tratativas com as velhas, e quase esquecidas, ferramentas: papel e lápis.

Sebastião Melo, prefeito de Porto Alegre, parou o Rio Grande do Sul. Sua intransigência em reconhecer as orientações de qualificados técnicos servidores municipais, que alertavam sobre o risco ante a possibilidade de o sucateado sistema anti-cheias colapsar, extrapolou sua jurisdição municipal e contaminou a instância estadual. Sua sanha ideológica privatista, que objetivava sucatear o Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE) para justificar privatizá-lo, parou o Rio Grande do Sul.

Cabe aqui lembrar que o atual prefeito, quando em campanha eleitoral em 2020, acusava a irresponsabilidade do então prefeito, Marchezan Jr., por não dar atenção às, já então fartamente diagnosticadas, demandas de manutenção e atualização do sistema anti-cheias do município. Há uma infinidade de matérias sobre a questão. Não cabe aqui chover no molhado. Não há a possibilidade de justificativa de falta de informação ou desconhecimento da questão. Não há a possibilidade de justificar-se acusando São Pedro e um suposto inusitado volume de chuvas.

Consequentemente, igualmente, cabe destacar a absurda falta de sintonia estratégica entre a gestão municipal de Melo e antecessor(es), e a gestão estadual de Leite e antecessor(es). O estado não sabia do risco que corria ante eventual falha no sistema de prevenção contra inundações de sua capital? O município não sabia da dimensão das consequências de eventuais falhas em atribuição de sua jurisdição?

Tivessem mínimo entendimento da questão estariam, município e estado, prefeito e governador, em permanente e conjunta avaliação e monitoramento do sistema anti-cheias de Porto Alegre. Não sabiam, ou jogaram roleta russa? Apostaram no cassino dos jogos de azar, em empurrar de barriga para os próximos gestores, os necessários investimentos e as fatídicas consequências? Desconsideraram o absurdo preço que a população poderia ter que pagar? Quem vai explicar os flagelados as razões de o povo estar pagando o preço das minucias de tal perversa disputa ideológica que tenta relativizar, sempre para pior, o tamanho da responsabilidade de cada instância de gestão do Estado?

Supondo, de maneira otimista, que amanhã toda a rede, e sistemas, da Procergs estejam operando normalmente, será que há a capacidade de todas as secretarias, municipais e estaduais atualizarem todas as informações pertinentes do período? Em quanto tempo? De que modo isto afeta, ou retarda, o ponto de retomada de controle da gestão estadual para então, com números confiáveis, enfrentar a monumental tarefa já batizada de Reconstrução do Rio Grande? Alguém sabe?

Nunca antes ninguém causou tanto mal ao estado do Rio Grande do Sul quanto o atual prefeito de Porto Alegre.

* Tecnólogo em Processamento de Dados (UFRGS), ex-funcionário da Procergs.

** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko