Mesmo tendo acertado com os diretores das escolas municipais em reuniões presenciais que cada uma delas abriria quando tivesse condições, a diretora pedagógica da Secretaria municipal de Educação (Smed), Izabel Christina Brum Abianna, enviou, nesta segunda-feira (20), aos diretores, um "documento orientador" estipulando as condições para a imediata volta às aulas.
A alegação do documento é de que “a escola é uma ou a única referência nessas comunidades e os alunos precisam retomar a rotina, vínculo pedagógico e alimentação e, portanto, se faz necessário, que empenhamos esforços na retomada das atividades escolares, continuando as ações humanitárias de reconstrução da nossa sociedade”. E chama todos os que tiverem condições para que retornem as escolas.
Dois diretores de escola que pediram para não se identificar disseram estar preocupados com a atitude centralizadora. Segundo eles, três pontos da orientação são estranhos e simplistas. Servidores com dificuldade com o transporte público: poderão consultar EPTC sobre linhas que atendem as escolas, locais de partida e itinerário, através do app Cittamobi; Servidores que estão no voluntariado, ajudando e abrigando pessoas: retornar ao trabalho, nas escolas municipais; Servidores que se deslocaram para outros municípios em função da enchente, falta de luz e água: Deverão avaliar as condições para o retorno e informar a direção da escola, para retomada do trabalho presencial.
Um deles explicou “em nossa escola temos muitos professores atingidos, embora a escola não tenha sido atingida diretamente pelas águas. Uma de nossas colegas se apresentou de chinelo de dedos porque teve que abandonar sua residência. Outra está abrigando em sua casa seus parentes que foram desalojados pela enchente no município de Eldorado do Sul”.
Mas a principal crítica é que a Smed está à deriva. Sem secretário, pois José Paulo da Rosa teria se demitido para assumir a reitoria da Feevale. “Tem escolas (de educação infantil) que estão dizendo que não têm condições de abrir amanhã, porque a caixa d'água não está limpa (e não tem previsão de limpeza) e a Smed está obrigando a abrir porque 'o nome da escola já foi enviado pro gabinete do prefeito e a lista já saiu no Instagram da prefeitura'".
Segundo levantamento feito por eles, das 99 escolas municipais da capital gaúcha apenas 32 teriam condições de retornar a normalidade. Em uma escola da zona Sul que não foi atingida diretamente pela enchente, foi elaborado um questionário para as famílias dos 1.100 alunos. Nos 441 respondidos, 90 pediram cestas básicas porque estavam desabrigados, ou abrigando parentes.
A direção da Associação dos Trabalhadores (as) em Educação de Porto Alegre (Atempa) convocou uma assembleia geral extraordinária para sexta-feira (24), onde será discutido o problema. Na ocasião, serão debatidas as seguintes pautas: 1. Autorização para ajuizamento de ações coletivas, proposta pela Atempa, em substituição aos associados(as); 2. Análise do retorno às atividades das escolas.
Ao consultar a Smed, a reportagem do Brasil de Fato RS, foi informada que a Secretaria Municipal de Educação desconhece e não recebeu nenhuma reclamação formal de diretores da rede municipal a respeito das estratégias tomadas para retomada das atividades escolares. "As decisões que compõe essa retomada foram alinhadas em conjunto com os diretores em reunião virtual geral, e reuniões com direções por região, realizadas na semana passada."
Ainda, segundo a Smed, a retomada das atividades está sendo escalonada, respeitando as condições específicas de cada escola e equipe. "Levando em consideração ainda, as condições físicas, o abastecimento de água, energia, internet e gás, e baseada no levantamento de quadro de pessoal disponível, elaborado pelas próprias direções."
Edição: Katia Marko